Kodokushi e Godoksa: as mortes solitárias no Japão e na Coreia do Sul

Deve chegar a cerca de 1,6 bilhão o número de pessoas vivendo acima dos 65 anos ou mais até 2050, de acordo com a prospecção feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), que encara esse fenômeno de envelhecimento global como um sucesso coletivo extraordinário na melhoria das condições de vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. Isso é um testemunho do progresso que a humanidade fez na ciência, tecnologia, medicina e muitos outros empreendimentos para assegurar a qualidade de vida e o acesso a ela.

Apesar de essas recompensas, há também os inegáveis desafios econômicos no que diz respeito a como assegurar uma vida confortável para esse grupo de pessoas enquanto Estados precisam encontrar maneiras de driblar as consequências de ter uma sociedade em rápido envelhecimento, encarando o declínio na produtividade e das relações econômicas na política externa, a perda do seu poder inovador; diminuição do pagamento de impostos; contração na oferta de trabalhadores qualificados nas principais áreas da indústria; e o declínio no emprego de funções sob demanda, causando um grande impacto negativo na competitividade internacional. A Coreia do Sul e o Japão enfrentam esses problemas há anos.

kodokushi e godoksa: as mortes solitárias no japão e na coreia do sul

Japão lidera o ranking como uma das populações que envelhecem mais rápido do mundo. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Desde 2015 que a Coreia se depara com uma queda nos índices de natalidade, sendo que em 2020, pela primeira vez, foram registrados mais mortes do que nascimentos, o que indica que o número de habitantes encolheu. Em 2022, o país quebrou seu próprio recorde de menor taxa de fertilidade do mundo. A taxa de fecundidade caiu para 0,81 em 2021, e deve despencar para 0,68 em 2024, de acordo com o Statistics Korea. Para manter uma população estável, é preciso de uma taxa de 2,1 – qualquer número acima disso indica crescimento populacional.

O Japão lidera o ranking como uma das populações que envelhecem mais rápido do mundo. Em 2023, o Ministério da Saúde apontou que a taxa de natalidade do país atingiu um novo recorde de 1,2, que significa 0,06 pontos abaixo do que em 2022. O número de nascimentos sofreu uma queda de 43.482 em relação a 2022, enquanto número de divórcios subiu para 183.808.

Em meio a tudo isso, as sociedades envelhecidas enfrentam os fenômenos de mortes solitárias, denominadas Kodokushi no Japão e Godoksa na Coreia do Sul.

Morrendo sozinho no Japão

kodokushi e godoksa: as mortes solitárias no japão e na coreia do sul

Em 2020 cerca de 6.7 milhões de lares japoneses eram compostos por idosos morando sozinho. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Em um relatório disponibilizado pela agência de notícias Kyodo a partir de dados da Agência Nacional de Polícia do Japão, cerca de 68 mil idosos, com 65 anos ou mais, morrem sozinhos em suas casas a cada ano no Japão. O número alarmante de Kodokushi revela não só uma solidão profunda dessa parcela significativa da sociedade, como também a negligência do Estado em fornecer amparo ao longo de todo o espectro de formulação de políticas.

Entre janeiro e março de 2024, um total de 21.716 indivíduos em todo o país morreram sozinhos em suas casas e só foram encontrados após dias ou até semanas pelas autoridades. Quase 80% dessas pessoas tinham 65 anos ou mais.

O Statista revelou que em 2020 cerca de 6.7 milhões de lares japoneses eram compostos por idosos morando sozinhos. Em parte, isso se deve ao enfraquecimento das estruturas familiares no país – fruto da reestrutura do status quo da sociedade, algo que o governo luta para contornar –, levando muitos idosos a não viverem com seus filhos ou membros da família. Os indivíduos são impedidos de buscarem ajuda devido aos ideais milenares que enfatizam a autossuficiência e desprezam a ideia de ser um fardo na vida dos outros, o que contribui para o aumento da solidão e o isolamento, podendo ser severo na paisagem extremamente urbanizada do Japão, apesar da proximidade física entre vizinhos.

kodokushi e godoksa: as mortes solitárias no japão e na coreia do sul

Deve chegar a 1,6 bilhão o número de pessoas vivendo acima dos 65 anos ou mais até 2050. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Os fatores econômicos cimentam todo o fenômeno do Kodokushi japonês e são o que realmente revelam o quanto essa população idosa é desprezada por um governo cujos esforços estão centrados em espremer a mão de obra da sociedade jovem, enquanto tenta "concertar" em suas mentes o fato de que precisam namorar, casar e procriar para que as bases políticas do país não colapsem.

O Relatório Anual sobre uma Sociedade em Envelhecimento encontrou uma vontade muita alta dos idosos japoneses em trabalhar, com 40% deles a favor de continuarem a ganhar uma renda, porque é impossível viver dignamente no país com pensões cada vez mais baixas, podendo chegar a US$ 450, e poupanças inadequadas.

Atualmente, um em cada quatro idosos (aproximadamente 9 milhões) realiza trabalho informal em tempo parcial, como faxineiros, seguranças, entregadores ou atendentes. Mas isso também é um reflexo do endosso do governo a política do "trabalhar para sempre" do Japão como um esforço para enfrentar a escassez de mão de obra e fazer também os idosos pagarem suas contas em vez de o sistema nacional.

Morrendo sozinho na Coreia do Sul

kodokushi e godoksa: as mortes solitárias no japão e na coreia do sul

Na Coreia do Sul, é mais comum homens idosos morrerem sozinhos do que mulheres. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

O Godoksa na Coreia do Sul ganhou atenção nos últimos 10 anos devido ao aumento vertiginoso de mortes solitárias e dos seus impactos na sociedade, que se acentuaram desde a pandemia de Covid-19. Só em 2021, o Ministério da Saúde e Previdência registrou 3.378 mortes solitárias, das quais mais de 85% eram indivíduos de meia idade do sexo masculino. Todos levaram uma média de 3 semanas para que fossem descobertos.

Muito diferente do Japão, em que as mulheres costumam morrer sozinhas e na pobreza mais do que os homens devido às políticas de previdência nacional estabelecidas no pós-guerra de 1945 para incentivar o trabalho e focar na reconstrução familiar, o Ministério da Saúde e Bem-Estar da Coreia mostrou que o número de homens que morreram sozinhos foi mais de quatro vezes maior do que o de mulheres. Cerca de 500 mulheres morreram sozinhas a cada ano entre 2018 e 2021, em relação a mais de 2 mil homens, sendo que esse número cresceu para 2.817 em 2021.

Os sul-coreanos enfrentam alguns dos mesmos problemas que o Japão, como crise demográfica do país, lacunas no bem-estar social, isolamento social e a pobreza dessa população idosa. Os homens estão entre a maioria que morre sozinha entre os 65 anos ou mais porque o subemprego é visto como uma desonra, bem como é potencializado pela cultura do consumo de álcool, predominante entre os homens, apesar de atingir a sociedade inteira.

kodokushi e godoksa: as mortes solitárias no japão e na coreia do sul

A Coreia do Sul é o 14ª país com maior índice de divorciados do mundo. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Esses homens colhem os frutos de uma vida bebendo, adquirindo vários tipos de doenças, como cirrose hepática, e acabam sozinhos porque nesses contextos são absorvidos hábitos que contribuem para o divórcio. Há uma estrutura social antiga de que as mulheres estão abaixo dos homens no país. No ranking de divórcios mundiais, a Coreia ocupa a 14ª posição ente os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Segundo Song In-joo, pesquisadora da Seoul Welfare Foundation, especializada em isolamento social e mortes solitárias, a aposentadoria precoce ou o divórcio tendem a ter um impacto mais profundo nos homens porque a ideia de perder sua posição na sociedade e em um lar impulsionam grandes sentimentos de sofrimento e solidão, delineados por fracasso e falta de autossuficiência.

Acima disso, há também a dependência dos homens que não estão acostumados a fazer tarefas domésticas, tendo maiores riscos de acabar negligenciando a si mesmos, caracterizando uma condição em que um indivíduo não consegue atender as suas necessidades físicas e psicológicas essenciais, podendo levar a doenças crônicas, em casos graves.

O que esses países estão fazendo?

kodokushi e godoksa: as mortes solitárias no japão e na coreia do sul

Japão aposta em alternativas tecnológicas e políticas governamentais para evitar as mortes solitárias. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Em 2021, o governo sul-coreano criou a Lei de Prevenção e Gestão de Mortes Solitárias para tentar deter o problema por meio do fortalecimento e a cooperação com as autoridades locais na detecção de sinais de alerta entre homens na faixa dos 50 e 60 anos.

A pesquisadora Song In-joo, no entanto, aponta que essas pessoas em estado de vulnerabilidade podem não querer atenção dos serviços sociais ou da comunidade local, recusando receber ajuda mesmo quando os assistentes sociais batem a sua porta. Para ela, o governo precisa chegar ao fundo da questão e fornecer um tipo de apoio preventivo, como programas de geração de empregos para ajudar esses homens a escapar do ciclo vicioso da pobreza e do isolamento social.

O Japão, por sua vez, apostou em várias soluções tecnológicas, incluindo dispositivos domésticos inteligentes, monitores de saúde vestíveis e robôs sociais desenvolvidos para monitorar a saúde e o bem-estar de indivíduos que vivem sozinhos. O governo, no entanto, não discutiu sobre o quão acessível esse apoio tecnológico será para essa camada extremamente empobrecida.

kodokushi e godoksa: as mortes solitárias no japão e na coreia do sul

A Coreia do Sul ainda faz pouco para combater as mortes solitárias. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Enquanto isso, políticas governamentais estão sendo projetadas para abordar os sintomas e as causas subjacentes do Kodokushi, incluindo melhores programas de bem-estar social, melhor acesso à saúde e iniciativas para combater o isolamento social. A rede de apoio regular inclui também o treinamento de apoiadores especializados em cada área para ajudar as pessoas afetadas pela solidão, ao passo que incentiva o desenvolvimento de uma base de dados nacional que cataloga estratégias eficazes para enfrentar o fenômeno.

Esse ano, o Asahi Shibun, um dos cinco maiores jornais japoneses, disse que o governo colocou em vigor uma lei que enquadra solidão e o isolamento como questões sociais, obrigando governos locais a formarem conselhos regionais com grupos de apoio para indivíduos que vivem em solidão.

OTHER NEWS

2 hrs ago

Quais são as causas do mau hálito (e os alimentos que podem piorá-lo)

2 hrs ago

Ídolo: Pedro marca, beija escudo do Flamengo, e torcedores comentam atitude

2 hrs ago

Nova Frente Popular anuncia retirada de candidatos para barrar extrema-direita

2 hrs ago

Couve-flor Uma Revisão Feita Por Profissionais De Nutrição

2 hrs ago

Flamengo derrota Cruzeiro para se isolar na ponta do Brasileiro

2 hrs ago

Na mira do Palmeiras, Cruzeiro, Santos e Corinthians, Gabigol faz exigência para assinar contrato

2 hrs ago

Corinthians pode fechar com Tetê, do Galatasaray, por R$ 48 milhões

2 hrs ago

Fluminense perde para o Grêmio: 5 motivos que explicam a crise em 2024

2 hrs ago

Escalação: António faz últimos ajustes e esboça Corinthians sem Wesley para o Derby

2 hrs ago

FC Porto: como vai ser o primeiro dia de Vítor Bruno

2 hrs ago

A incrível Nebulosa de Serpente e mais imagens fantásticas da NASA em junho

2 hrs ago

Família quebra silêncio após morte de Shifty Shellshock. Tinha 49 anos

2 hrs ago

Espanha vira, goleia a Geórgia e garante vaga nas quartas de final da Eurocopa

3 hrs ago

Bellingham e a bicicleta: «Estávamos a 30 segundos de voltar para casa»

3 hrs ago

A fantasia de Nico Williams termina com a epopeia da Geórgia e marca um escaldante Alemanha-Espanha

3 hrs ago

CNJ dá 5 dias para tribunal informe providências sobre desembargador que negou prioridade a advogada grávida

3 hrs ago

Passeio de trem conecta Rio Grande do Sul e Uruguai

3 hrs ago

Com Pedro e lei do ex, Fla bate Cruzeiro e se mantém no topo do Brasileiro

3 hrs ago

Bilhar: FC Porto perde na final e falha conquista do tricampeonato europeu

3 hrs ago

Melhor que Chernobyl? Esta minissérie da Netflix é um retrato preciso sobre um dos maiores desastres nucleares e não recebeu a atenção que merece

3 hrs ago

Rodada dos sonhos? Flamengo vence Cruzeiro e vê rivais diretos tropeçarem; veja G-4 atualizado

3 hrs ago

Morales acusa Arce de ter mentido ao mundo com 'autogolpe' na Bolívia

3 hrs ago

Bruno Fernandes aponta o que Portugal precisa de fazer contra blocos baixos

3 hrs ago

Fatawu recorda «falta de oportunidades» no Sporting

3 hrs ago

Com novo horário, Celso Portiolli supera audiência de Eliana

3 hrs ago

Delegação n.º 133 do FC Porto fecha portas

3 hrs ago

Red Bull acusa Norris de “buscar incidente” com Verstappen no GP da Áustria

3 hrs ago

CMF Phone 1: Um topo de gama a preço de gama baixa!?

3 hrs ago

Barcelona mira Joshua Kimmich e conta com trunfo especial para contratar

3 hrs ago

Após nova derrota com Marcão, Fluminense decide buscar treinador no mercado; veja alvos

3 hrs ago

Luis de la Fuente: «Jogo com Geórgia foi para 8 a 1 ou 9 a 1»

3 hrs ago

Vagas preenchidas... Demitido pelos Cavs, JB Bickerstaff assume os Pistons

3 hrs ago

Show do Brasil na Áustria: Bortoleto 'domina' rivais e vence primeira na F2; Fittipaldi é quarto

3 hrs ago

Willy Sagnol: «A Géorgia foi excecional no Euro 2024»

3 hrs ago

Rovanperä fecha semana maluca com vitória no Rali da Polônia do WRC

3 hrs ago

Aprendemos com os erros do Zeebo, diz TecToy sobre Zeenix Lite e Pro

3 hrs ago

Sagnol critica arbitragem: «O golo do empate da Espanha era fora-de-jogo»

3 hrs ago

Benfica: será esta a camisola alternativa para 24/25? (fotos)

3 hrs ago

Bardella já não vê partido de Macron como ameaça. "Chegou o momento de dar o poder a líderes que vos compreendem"

3 hrs ago

Gerson é exaltado por jornalistas em gol do Flamengo no Cruzeiro: 'Tudo perfeito'