Lula evita pedir voto, mas reforça estratégia eleitoral de Boulos e acirra guerra de vices
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) dividiu palanque com Guilherme Boulos (PSOL) em evento do governo federal neste sábado (29) em São Paulo e reforçou a estratégia eleitoral do seu aliado, mas evitou pedido de voto após ter sido condenado por campanha antecipada no 1º de Maio.
Lula exaltou a ex-prefeita e vice de Boulos, Marta Suplicy (PT) e disse haver preconceito contra quem adota políticas sociais a favor dos mais pobres, em sintonia com a tentativa do pré-candidato do PSOL à prefeitura de se contrapor a uma fala do ex-Rota e coronel da reserva Ricardo Mello Araújo (PL), escolhido para a vice de Ricardo Nunes (MDB).
Lula disse que Marta "cuidou muito das pessoas mais pobres" e que a existência de preconceito por políticas públicas a favor dos pobres acabou a derrotando em sua tentativa de reeleição na época.
Antes do presidente, Boulos, no mesmo palanque, fez referência semelhantes com recados indiretos a Nunes ao criticar o tratamento diferente dado a moradores da periferia e de bairros ricos.
Em 2017, Mello Araújo, escolhido para a chapa de vice do atual prefeito, defendeu ao UOL diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins e na periferia.
"É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado", disse na época.
Lula e Boulos dividiram palanque neste sábado (28) em cerimônias de inauguração de novos campi de institutos federais e expansão do metrô em São Paulo.
Adotaram uma atitude mais comedida nos discursos, depois de condenação pela Justiça a pagamento de multa em razão de fala no 1º de Maio considerada propaganda eleitoral antecipada.
Na ocasião, Lula afirmou que a disputa paulista pela prefeitura seria uma "verdadeira guerra" e pediu que seus eleitores votassem em Boulos. "Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo", disse no 1º de Maio.
A programação deste sábado de Lula é marcada por dois eventos, um na manhã e outro de tarde. De manhã, os políticos participam de cerimônia de lançamento da pedra fundamental do campus Zona Leste da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do campus Cidade Tiradentes do IFSP (Instituto Federal de São Paulo). Também foi anunciada a linha verde do metrô
De tarde, ocorre ato sobre a expansão do IFSP no bairro Jardim Ângela e a vinda de recursos do Novo PAC para a expansão da linha 5 lilás do metrô.
Antes de discursar pela manhã, Lula disse que iria corrigir "um pequeno equívoco" por não terem falado antes dele dois representantes de movimentos sociais, cedendo a palavra.
Falou da importância da educação para a ascensão social e disse que é preciso parar com a ideia de que as pessoas gostam de ser pobre. "Efetivamente eu não sou o pai dos pobres. Eu sou um pobre que chegou à Presidência da República por causa dos pobres desse país que me elegeram", disse.
Lula afirmou que sua gestão encontrou o país como a "Faixa de Gaza no estado Palestino", dizendo que encontraram o Brasil sem ministério, com rombo e sem governança.
Afirmou também não estar "preocupado em quem é governador de São Paulo, mas com quem é o povo que necessita".
O evento deste sábado é exemplo de esforço do petista para alavancar a candidatura de Boulos à Prefeitura de São Paulo, em cenário reconhecido como prévia da disputa nacional entre Lula e o bolsonarismo.
No palco com Lula pela manhã, além de Boulos, Marta e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, estiveram ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Jader Filho (Cidades) e os deputados petistas Jilmar Tatto e Rui Falcão, assim como a primeira-dama Janja.
Não participaram do evento o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes. Tarcísio está em viagem até início de julho, enquanto Nunes afirmou que os eventos têm sido tratados pelo presidente como atos políticos.
De olho nos dois próximos pleitos, o mandatário tem dito que pode se candidatar em 2026 se for para combater a volta de "trogloditas" e "fascistas", além de falar em somar esforços em 2024 para evitar o avanço da extrema-direita.