A verdadeira ameaça à democracia é a incompetência e a irresponsabilidade
Os partidos moderados não têm de ser “mansos” na ação, mas sim responsáveis e verdadeiros. É por isso que não me canso de repetir que PS e PSD têm de se respeitar e dar-se ao respeito
A verdadeira ameaça à democracia é a incompetência e a irresponsabilidade
O apoio do Governo da AD à escolha de António Costa para liderar o Conselho Europeu e as eleições em França do passado domingo ocorreram quase em simultâneo e representam duas realidades opostas sobre o mesmo problema. Sim, não estranhem a comparação. O ex-primeiro-ministro português foi eleito também graças ao apoio de um Governo da AD que tanto o combateu. Isso não é um problema é sim um exemplo de responsabilidade e maturidade.
A responsabilidade pelo resultado em França não é apenas nem de Le Pen nem de Bardella, mas sim da incapacidade dos partidos tradicionais para reformar o país e da desilusão com Macron, qual novo fidalgo, que de forma também ela oportunista explorou essa incapacidade e matou socialistas e republicanos com um discurso que procurava agradar tanto à esquerda como à direita moderada desvalorizando as diferenças tradicionais e explorando os erros de socialistas e populares como qualquer populista.
Macron acaba por ser o grande responsável pelo crescimento da extrema direita, pelo efeito de desilusão que provocou, pela forma como se aproveitou e manipulou o espectro político tradicional francês sob o lema de uma nova geração que afinal não era assim tão boa.
Em sentido contrário vemos Luís Montenegro a defender o nome de António Costa para líder do Conselho Europeu, colocando as diferenças ideológicas de lado, separando o trigo do joio e sem temer o incómodo dos mais “fanáticos”, sejam eles internos ou externos à própria AD.
E o que têm em comum estas duas situações? Absolutamente nada. São inversas. Mas nem sempre foi assim.
O erro dos partidos ocorre sempre que os moderados exploram reciprocamente as suas fraquezas como se de extremistas se tratassem e o fazem de forma irresponsável e até demagógica. Não estou a dizer que os moderados se devem encobrir ou inibir, mas sim que não devem usar as armas dos populistas e demagogos. O PS e o PSD têm diferenças suficientes nos seus programas e ações para não precisarem de ser arrogantes e demagogos para se diferenciarem.
Veja-se o exemplo do pós-troika quando todos assistimos à irresponsabilidade do Partido Socialista a desvalorizar o esforço feito pelo Governo de Passos Coelho. De forma irresponsável António Costa e seus pares faziam de conta que os sacrifícios e os esforços não tinham valido a pena nem eram necessários. Isso foi irresponsável. Isso alimentou os Chegas dessa vida. Atenção, não digo que não se pudesse dizer que houve coisas que foram mal feitas, mas o PS pós Seguro comportou-se como se não tivesse responsabilidade nem na bancarrota nem no memorando e teimava em fazer crer que as situações de partida em 2011 e em 2015 eram iguais. Isso foi irresponsável porque era falso.
Os partidos moderados não têm de ser “mansos” na ação, mas sim responsáveis e verdadeiros. É por isso que não me canso de repetir que PS e PSD têm de se respeitar e dar-se ao respeito. O caminho dos Chegas desta vida é fazer crer que os partidos moderados são todos iguais, que ambos falharam e isso não é verdade. Portugal cresceu e mudou muito desde a década de 80 e isso não aconteceu nem graças à extrema esquerda nem graças à extrema direita, mas apesar desses.
O resultado francês resulta da incapacidade dos partidos tradicionais, e sobretudo da incapacidade de Macron de reformar a França. Apesar de haver um partido francês que se arroga insubmisso, a verdade é que o regime francês foi sempre submisso ao barulho das corporações anti reformistas que a esquerda caviar francesa continua a proteger. Os franceses olham para a Frente Nacional por frustração com os partidos tradicionais.