«Andei no Benfica 15 dias, disseram-me que não precisavam de ponta de lança»

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A proposta que aqui deixamos é conhecer a vida de Manuel Fernandes contada, desde os tempos em que acompanhava o pai que trabalhava nas fragatas até à invasão de Alcochete, que testemunhou, pelo próprio protagonista. Numa extraordinária entrevista de vida concedida a A BOLA TV em setembro de 2019, Manuel Fernandes desfiou memórias e abriu o coração. E é ao lado de Fernando Peyroteo e Vítor Damas, depois de ter reencontrado Salif Keita, Manoel, Rui Jordão e Chico Faria, companheiros do ataque verde e branco — que o Manel de Sarilhos vai certamente gostar de recordar esta sua história, vai da trapeira à Bola de Prata, das alegrias às amarguras, das vitórias às injustiças, afinal retalhos da vida de quem escolheu o futebol como profissão e o Sporting como paixão…

— Foi fácil começar a jogar no Sarilhense?

— Foi espetacular. Em Sarilhos havia 5 ruas e havia 5 equipas. A rua onde nasci era a Atrás da Taipa, havia o Largo, a Maragateira, a Esnega da Poça e o Celeiro. Fazíamos torneios uns contra os outros. O Sarilhense percebeu que havia um grande potencial em muitos dos jovens que jogavam pelos bairros, e inscreveu pela primeira vez uma equipa de juvenis. Sabe, calcei pela primeira vez botas de futebol aos 16 anos. Nessa época, éramos tão bons que ultrapassámos a fase regional, depois a distrital, chegámos à fase nacional e só não fomos à fase final porque falhei um penálti contra o Belenenses. Isto com miúdos que nunca tinham calçado umas chuteiras!

— A seguir, com 17 anos, entrou logo nos seniores.

— O Sarilhense não tinha juniores e eu já não tinha idade para os juvenis, lá teve de ser. Antes, fui treinar a vários clubes, ao Sporting e ao Benfica, e não fiquei. No Sporting, num treino de captação, mesmo no Estádio José Alvalade, éramos mais de 200 à experiência, não podiam ver nada. Não fiquei.

— E no Benfica?

— Fui treinar ao campo pelado, no Campo Grande, conhecido como Estância de Madeira, e ainda andei por lá 15 dias, mas no fim disseram-me que tinham o Raul Águas e mais alguns e não precisavam de ponta de lança.

— E então a solução foi jogar no Sarilhense…

— O meu pai não queria que fosse jogar com os seniores, mas eu disse-lhe que era daquilo mesmo que precisava para me fazer homem. Foi o que fiz de melhor. Fui o melhor marcador e a CUF, que andava sempre à pesca naqueles clubes, contratou-me aos 18 anos e com essa idade já jogava na I Divisão.

— O Grupo Desportivo da CUF pertencia à Companhia União Fabril, uma das empresas do país que tinha um conceito diferente porque empregava na fábrica os futebolistas, oferecendo-os uma estabilidade para quando acabasse a carreira desportiva. O Manuel Fernandes também trabalhou na fábrica…

— Eu tinha o curso de serralheiro mecânico e colocaram-me numa oficina, mas o chefe não gostava muito dos jogadores de futebol e não me dava nada de interessante para fazer.

— Qual era a carga horária na fábrica que os jogadores tinham?

— Só trabalhávamos das 8 às 11. Depois almoçávamos no refeitório da CUF, que era melhor que muitos restaurantes. Íamos a seguir para a sede, jogar às cartas ou descansar, e treinávamos a partir das três da tarde. Mas a verdade é que só estive 3 meses na oficina e depois nunca mais lá pus os pés. O salário do operário continuou a cair todos os meses na conta.

— Recebia dois salários mensais, um pela fábrica e outro pelo futebol?

— Sim, eu e os outros. Era assim que funcionava. Mas era uma fórmula que dava muita segurança à maioria dos jogadores da CUF, que acabaram por reformar-se pela fábrica.

— O seu percurso na CUF foi fácil?

— Na segunda época na CUF, com Carlos Silva como treinador, fui operado ao joelho depois de um choque com o Rui Paulino num jogo no Lavradio, contra o Boavista. Quem me fez o diagnóstico certo, depois de muitos meses a penar, foi o meu saudoso amigo Manuel Marques.

— Quem é que o levou ao Sporting para ser visto?

— A mãe do José Carlos, um dos antigos Magriços, que era a defesa-central do Sporting e que tinha jogado na CUF, era minha vizinha em Sarilhos. Um dia o filho foi visitá-la, cruzou-se comigo e perguntou-me por que razão estava sem jogar. Expliquei-lhe que o joelho me inchava cada vez que corria. E o José Carlos disse-me imediatamente que fosse ter com ele, no dia seguinte, a Alvalade. Dito e feito, fui visto por Manuel Marques que, só pela observação, sem radiografias nem nada, me disse de imediato: o meu querido amigo tem de ser operado ao menisco. Na época seguinte comecei a jogar e recordo que chegámos a ficar, na CUF, em 4º lugar, à frente do FC_Porto, aliás marquei um golo a passe do Capitão-Mor, no jogo decisivo contra eles, o que nos deu acesso às competições europeias. Lembro-me que eliminámos o Racing White de Bruxelas e fomos eliminados pelo Kaiserslautern. Eu, nessa altura, estava a fazer tropa em Leiria, mas a CUF ia buscar-me sempre para jogar.

— Como é que se processa a sua saída da CUF?

— Foi já em 1975, depois do 25 de Abril, graças ao fim da Lei da Opção. Acabei contrato e fiquei livre.

«Sporting foi o último interessado, até o Belenenses oferecia mais»

— O Sporting foi o único interessado?

— Não, foi até o último. Primeiro apareceu o Belenenses a oferecer-me bom dinheiro, e depois o Futebol Clube do Porto. Fui ao Porto falar com os dirigentes, dormi no Hotel Nave, e cheguei a acordo com eles. Apenas deixei as coisas pendentes de uma conversa que devia ter com a minha família. Se fosse hoje, Pinto Costa não me deixava sair de lá sem ter o contrato assinado. Mas depois de regressar, em conversa com um amigo, confidenciei que já que o Sporting não dizia nada, lá teria de ir para o FC_Porto, ao que ele me disse que ia falar com alguém do Sporting sobre o assunto.

— A história diz que sempre lhe ligaram...

— Eu ia embarcar para o Brasil, onde ia fazer uns jogos de showbol com o Eusébio, o Nené e o Arnaldo, entre outros, e nessa manhã ligou-me o Dr. Nunes dos Santos, vice-presidente de João Rocha, a dizer-me que já sabia que eu queria ir para o Sporting.

— Estava a tornar-lhes o contrato mais barato…

— E foi. Até o Belenenses me oferecia mais. Mas o Sporting, que tinha perdido Yazalde, precisava bastante de um ponta de lança. Nessa primeira época em Alvalade, o ataque era composto pelo Marinho à direita, eu no meio, e o Chico Faria à esquerda. Ficámos em quinto lugar, eu queixei-me a João Rocha, que tínhamos uma equipa limitada, e ele garantiu-me que em dois ou três anos estaríamos a fazer uma equipa campeã. No ano seguinte tivemos Jimmy Hagan, que deu o cabo de nós…

— Gostou de trabalhar com ele?

— Uma pessoa muito difícil, mas de uma honestidade insuperável, e é isso que os jogadores respeitam. Jimmy Hagan não nos ensinou muito, lembro que ele chegava à porta do balneário, apitava, e tínhamos de ir todos atrás dele, dar a volta ao estádio por fora, pela estrada, mas nós tínhamos verdadeira adoração por ele, porque se tratava de uma pessoa muito justa. Para Hagan os jogadores eram todos iguais. Ganhámos 3-0 ao Benfica, na primeira jornada, e chegámos a ter sete pontos de avanço, quando as vitórias só valiam dois pontos. Mas fomos jogar a Setúbal, podíamos ter goleado, e acabámos por perder com um autogolo. A seguir lesionei-me, o Keita também, o plantel era curto, e depois perdemos na Luz, num jogo ganho pelo Chalana, e lá se foi o campeonato. E a seguir, tivemos um brasileiro, Paulo Emílio, que não correu bem, fomos eliminados pelo Bastia na UEFA, mas só com a chegada de Milorad Pavic, grande treinador, é que as coisas começaram a acertar. No ano seguinte, já com a estabilidade que o Eurico deu à defesa, discutimos o campeonato, e nas Antas tirámos o tri ao FC_Porto, que já tinha encomendado as faixas. Foi tudo feito para perdermos, mas mostrámos a nossa garra, e conseguimos empatar. E até merecíamos ganhar, porque me invalidaram um golo limpo, que fazia o 2-0.

— Isso foi em 1979/1980. Em 1982 já foram campeões com outro conforto?

— Foi a melhor época de todas em que estive no Sporting, apesar de termos feito menos pontos que no outro ano do título. A nossa equipa era muito forte, eu, o Jordão, o Oliveira, o Nogueira, que jogava uma barbaridade, sim, o Nogas, grande malandro, o Meszaros, que era um dos melhores guarda-redes do mundo, o Eurico era o esteio da defesa, e havia o Malcolm Allison, um treinador muito perspicaz. Ele lançou o Carlos Xavier, com 18 anos, como titular. A seis jogos do fim do campeonato, trocou-o pelo Bastos, que era muito mais experiente, para garantir o título.

— No ano seguinte, Allison foi despedido, e Oliveira passou ao treinador-jogador.

— Pois foi. E eu disse ao Oliveira, um craque fabuloso, por quem tenho amizade e consideração: nunca mais vais ser o jogador da época passada, e a jogares e a treinares ao mesmo tempo, não fazes uma coisa nem a outra.

— João Rocha estava farto de Malcolm Allison?

— Estava. O Allison, às vezes, facilitava, bebia em sítios públicos, mas era a forma de ele estar na vida, nunca chegou atrasado a um treino e foi sempre um grande profissional.

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