40 anos depois: “Do Fundo do Coração”, o quase apocalipse de Coppola, é uma obra-prima e está de volta ao cinema
Há 40 anos, o musical “One from the Heart” foi a quase ruína de Francis Ford Coppola. Em julho, voltará às salas portuguesas. É uma obra-prima, um filme apaixonante até às lágrimas - e quase arruinou o cineasta
40 anos depois: “Do Fundo do Coração”, o quase apocalipse de Coppola, é uma obra-prima e está de volta ao cinema
Quando, no verão de 1979, “Apocalypse Now” partiu para um grande sucesso internacional, Francis Ford Coppola estava, triunfante e soberano, como Napoleão se deve ter sentido após a batalha de Austerlitz. No grande épico que o cineasta dissera ser não sobre o Vietname, mas o próprio Vietname, Coppola pusera tudo em risco: a reputação, o património financeiro, a sanidade mental, até a família. Depois de uma rodagem desmedida — mais de um ano em filmagens —, de uma pós-produção a arrastar-se meses e meses, de estreias sucessivamente adiadas, de uma exibição em Cannes ainda enquanto work in progress (valeria, ainda assim, a Palma de Ouro) e da vitória final nas bilheteiras, parecia possível o projeto que sonhara para a Zoetrope, a empresa criada ainda nos anos 60: transformá-la num estúdio à moda antiga, com argumentistas, atores, técnicos contratados em continuidade, dotado das mais modernas tecnologias (que a Sony não se cansava de lhe prodigalizar e ele ia testando) e, sobretudo, destinado a albergar os maiores criadores mundiais que não tinham porta aberta nas companhias tradicionais. É o tempo em que figuras como Wim Wenders, Jean-Luc Godard ou Hans-Jürgen Syberberg passam temporadas na mansão de Coppola em Napa, nos arredores de San Francisco; em que velhas glórias do cinema, como Gene Kelly ou Michael Powell, são contratadas como sábios conselheiros; o tempo em que ele se abalança a gestos quixotescos, como o de pressionar a 20th-Century Fox a comprar os direitos americanos de “Kagemusha” de Kurosawa, deste modo tornando possível o regresso do mestre japonês ao primeiro plano do cinema internacional. Mas é também o tempo em que arriscou exibir as mais de sete horas de “Hitler — Um Filme da Alemanha”, de Syberberg, no Lincoln Center, em Nova Iorque, num auditório com 2700 lugares. Parecia uma loucura, mas a sessão esgotou em 24 horas — e teve de ser repetida umas quantas vezes. Seguiram-se iniciativas similares em diversas outras cidades, sempre com sucesso. A navegar a crista da onda, no ano em que chegou aos 40 de idade, era o ‘mogul’ do momento. De resto, em abril, a sua festa de aniversário, em Napa, fora um estrondo: mil convidados, vários dias de duração, o bolo, montado na horizontal e transportado numa padiola, tinha quase dois metros de comprimento — contou ele a Peter Cowie, seu biógrafo.
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