Ex-Presidente dos EUA considerou que a alegação de abuso sexual por parte de Carroll, em factos que remontam a 1996, fora inventada para poder vender um livro de memórias. Tribunal valorizou as declarações como difamação
Trump condenado a pagar mais de 76 milhões de euros à escritora E. Jean Carroll por difamação
Donald Trump foi esta sexta-feira condenado a pagar 83,3 milhões de dólares (mais de 76 milhões de euros) à escritora E. Jean Carroll, num caso de difamação.
O veredito foi proferido na tarde de hoje por um júri composto por sete homens e duas mulheres, num julgamento que contou com a presença regular de Trump, que deixou abruptamente a sessão de hoje durante os argumentos finais de um advogado de Carroll.
O veredicto do júri foi, portanto, lido sem a presença de Trump na sala, enquanto Carroll esteve presente e abraçou os seus advogados, mas não quis prestar declarações à imprensa. Apesar de ter abandonado, Trump reagiu na rede social Truth Social.
O antigo Presidente dos EUA considerou “totalmente ridícula” a sentença, alegando que a condenação é um sinal de que o sistema jurídico norte-americano “está fora de controlo e a ser usado como arma política”. “Isto não é a América!”, escreveu.
A escritora E. Jean Carroll acusou Donald Trump de a ter violado
A indemnização tem origem em declarações feitas pelo ex-Presidente dos EUA em 2019, nas quais afirmou que as denúncias da escritora – de que fora alvo abuso sexual no vestiário de uma luxuosa loja de Manhattan, em 1996 – se destinavam apenas a vender o livro de memórias em que a acusação era feita.
A colunista alega que Trump arruinou a sua reputação. Em maio, um júri diferente concluiu que Trump abusou de facto de Carroll.
Após duas semanas de julgamento, o júri considerou o ex-presidente culpado dos danos infligidos a Carroll em comentários difamatórios feitos em julho de 2019, enquanto ainda era chefe de Estado, e condenou-o a pagar 18,3 milhões de dólares em indemnizações compensatórias e mais 65 milhões por danos punitivos, valores muito superiores aos considerados durante o julgamento.
O juiz distrital Lewis A. Kaplan já havia instruído os jurados a aceitar as conclusões de outro júri de Nova Iorque, que concedeu a Carroll cinco milhões de dólares (4,61 milhões de euros) no ano passado após concluir que Trump abusou sexualmente da escritora na década de 1990 na loja Bergdorf Goodman em Manhattan e a difamou em declarações feitas em 2022.
Trump, de 77 anos, negou veementemente as acusações nos últimos cinco anos e tem continuado a atacar Carroll, de 80 anos, durante a campanha eleitoral que tem em curso para tentar regressar à Casa Branca.
O julgamento chegou ao fim num momento em que Trump se encaminha para conquistar a nomeação do Partido Republicano para disputar a Presidência do país pela terceira vez consecutiva. Trump tem procurado transformar os seus vários julgamentos e vulnerabilidades jurídicas numa vantagem, retratando-os como prova de um sistema político armado.
Embora não haja provas de que o atual Presidente, o democrata Joe Biden, ou qualquer pessoa na Casa Branca tenha influenciado qualquer um dos processos legais contra o magnata, a linha de argumentação de Trump tem repercutido nos seus apoiantes mais leais, que veem os processos com ceticismo.
Carroll disse no início do julgamento que as declarações públicas de Trump fizeram com que recebesse ameaças de morte.
“Ele destruiu a minha reputação”, afirmou a colunista.
“Estou aqui para recuperar a minha reputação e impedi-lo de contar mentiras sobre mim”, acrescentou
Carroll contou que instalou uma cerca eletrónica ao redor da cabana onde mora no norte do estado de Nova Iorque, que alertou os vizinhos sobre as ameaças e comprou balas para uma arma que guarda ao lado da cama.
“Anteriormente, eu era conhecida simplesmente como jornalista e tinha uma coluna, e agora sou conhecida como mentirosa, uma fraude e uma maluca”, testemunhou Carroll.
Já a defesa de Trump disse aos jurados que Carroll enriqueceu com as acusações contra Trump e alcançou a fama que tanto desejava.
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