“O 25 de Abril, depois do nascimento da minha filha, foi a coisa mais alegre que eu tive na vida”. A frase é do jornalista Germano Silva que aqui recorda o primeiro dia vivido em liberdade na cidade Invicta.
Germano Silva, jornalista
“O meu coração ficará no Porto, já que no Porto nasceu, como noutros momentos históricos, o indomável espírito de luta que só terminará com o triunfo da Liberdade em Portugal”.
A frase, que ficou célebre, foi proferida a 14 de maio de 1958 por Humberto Delgado aquando da visita à cidade do Porto durante uma das mais concorridas eleições presidenciais do Estado Novo.
O “General sem Medo” concorria como independente contra o candidato do regime, Américo Tomás. Na Invicta foi recebido de forma apoteótica pela população, proporcionando imagens impressionantes de uma manifestação como nunca se tinha visto no país. Em plena ditadura as gentes do Porto faziam tremer o regime e mostravam, uma vez mais, que na cidade invencível o povo não se curva.
Germano Silva acompanhou esta visita. O jornalista e escritor, que todos conhecem no Porto e uma das personalidades mais carismáticas da cidade, conta que o convite a Humberto Delgado para se candidatar à Presidência da República foi forjado num dos cafés da Invicta, onde habitualmente aconteciam tertúlias que juntavam políticos, escritores, artistas e jornalistas.
Os cafés portuenses eram locais de intervenção política, social e cultural. Era onde, de forma camuflada, se conspirava a favor da liberdade, e se lutava contra o fascismo, sempre com medo da PIDE.
A polícia do Estado, que perseguia, prendia e interrogava quem fosse visto como inimigo da ditadura salazarista, tinha informadores em todo o lado.
Germano Silva nunca foi preso pela PIDE, mas foi chamado várias vezes à Rua do Heroísmo – onde funcionava a sede da polícia política no Porto – por assinar documentos contra a censura. A ameaça que ouvia era sempre a mesma.
Antes do dia 25 de Abril de 1974 já corriam boatos entre muitos setores da sociedade – nomeadamente nas redações – que estaria em preparação algo muito importante. Os rumores de um golpe chegaram também aos ouvidos de Germano Silva por intermédio do amigo, jornalista e poeta Manuel António Pina.
Estava em curso em Revolução e era preciso contar ao povo o que estava a acontecer. Durante dois dias e duas noites os jornais fizeram edições especiais que os ardinas vendiam num ápice à população sedenta de notícias.
Pela primeira vez os jornalistas puderam escrever sem sofrer os cortes do “lápis azul” (que, na verdade, era vermelho) dos censores.
Seis dias após a Revolução dos Cravos milhares de pessoas voltaram a sair para as ruas para festejar o Dia do Trabalhador. Diz Germano Silva que a verdadeira festa da Liberdade foi nesse 1º de Maio de 1974.
Na Avenida dos Aliados, e nas ruas à volta, o povo gritou por “paz, pão, habitação, saúde e educação”.
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