Na véspera do 25 de Abril, Pinto da Costa anunciou que a um aperto de mão com Sérgio Conceição ia suceder, esta quinta-feira, a assinatura da renovação de contrato com o treinador por mais quatro anos – antes das eleições de sábado no FC Porto. O presidente e o técnico disseram, ambos, que antes do sufrágio não era altura para prolongar o vínculo com o clube sem se saber quem seria o novo líder
Sérgio Conceição, em fevereiro, a dar um beijo antes de abraçar Jorge Nuno Pinto da Costa, aquando da apresentação oficial da recandidatura do presidente a um 16.º mandato na liderança do FC Porto.
As palavras importam. É a palavra dita que vincula seja quem for ao que se disse, porque palavras ditas não podem ser desditas. Era novembro de 2023, longe estava Jorge Nuno Pinto da Costa de anunciar em público a candidatura a um 16.º mandato na presidência do FC Porto, prenunciava-se a sua intenção mas certezas sobre a sua vontade em prolongar o seu périplo de 42 anos na liderança do clube eram então só suspeitas. Com uma cadeira a dar-lhe amparo numa sala com vista para o relvado do Estádio do Dragão, contudo, foi questionado, em entrevista à “SIC”, acerca dessa hipótese e de várias outras, uma delas a eventual renovação de contrato com Sérgio Conceição. Na resposta, foi perentório:
“Você acha que algum treinador de algum clube vai renovar o contrato sem saber com quem vai trabalhar? Acha? Não estou em período eleitoral nem entendo como em seis meses ou mais se possa considerar isso. Não quero envolver nenhum profissional de futebol nesta matéria.”
A reação de Pinto da Costa à pergunta emanava a ponderação expectável. Na antecâmara das eleições que se preveem ser as mais renhidas desde a sua chegada ao cargo, em 1982 – os sinais não são de agora, pois em 2016, enquanto candidato único, teve 79% dos votos e, há quatro anos, foi reeleito com 68,65% dos votos, com 26,44% a irem para o segundo candidato mais votado, José Fernando Rio -, o presidente, perante a incerteza e apesar da sua relação de cortesia mútua com Sérgio Conceição, optou pela lógica. Cerca de quatro meses depois, o treinador estava presente quando virou oficial a corrida de Pinto da Costa a mais uma (e última) corrida à presidência dos dragões.
Em fevereiro, no Coliseu do Porto, o técnico do FC Porto desde 2017 trocou um abraço com Pinto da Costa e beijou-lhe a testa entre a plateia que assistiu à confirmação da sua recandidatura. A cumplicidade entre ambos, antes atestada pelos elogios de parte a parte durante os anos de convivência no clube, foi notória. “Dei um abraço a um amigo, a um mentor, a alguém que conheço desde os meus 15 anos e que me deu algumas das oportunidades que considero muito importantes na minha vida pessoal e profissional, foi um abraço muito importante para o presidente e para mim numa relação de mais de 30 anos. Com isto, não falo mais dessa situação. Peço que respeitem”, diria, dois dias volvidos.
O que dissera antes de estar presente na cerimónia que oficializou Pinto da Costa como presidente recandidato, porém, é o que acrescenta ao desenrolar desta história de declarações:
“Costumo dizer para os jogadores que estão em final de contrato que não basta ter contrato, é preciso sentir o clube. Se forem responsáveis no sentido de entrarem aqui e serem dedicados, trabalhadores e profissionais, isso para mim é que é importante. O nosso presidente, que ‘só’ tem 40 anos como presidente e é o mais titulado do mundo, já disse que não é no final do mandato que se vai renovar com um treinador, isso é óbvio para toda a gente.
Neste momento, os candidatos à presidência são unânimes e têm a mesma opinião de que o sucesso da equipa é importante e quanto mais tranquilidade tiver, melhor. O meu papel e o dos jogadores é pensar única e exclusivamente em servir o FC Porto.”
Cerca de dois meses passaram. O clima público de bate-boca entre Pinto da Costa e André Villas-Boas, o outro principal candidato (o terceiro é Nuno Lobo), intensificou-se entre ações de campanha e múltiplas entrevistas, acusações para ali e respostas para acolá. Nestes últimos dias que antecedem o sufrágio, agendado para sábado, 27 de abril, véspera de um FC Porto-Sporting que vai compor o ramalhete algo escaldante do fim de semana que espera o clube (pode dar-se o caso de os leões terem hipótese de serem campeões no Dragão, se o SC Braga vencer antes o Benfica), algumas cartadas saíram das mangas dos homens que mais se prevê que vão discutir de perto a vitória nas eleições.
Villas-Boas garantiu que será um presidente não remunerado, desvendou a criação do cargo de diretor-desportivo que reservará para o espanhol Andoni Zubizarreta e ainda de outro, o de diretor de futebol, destinado a Jorge Costa, um capitão portista de outrora. Por sua vez, Pinto da Costa, em dias sucessivos, garantiu que Pepe, o atual dono da braçadeira, renovará contrato com o FC Porto caso o recandidato seja reeleito, e mais, porque a promessa estendeu-se à figura do treinador. “O Sérgio Conceição vai continuar comigo, ponto. Se tenho essa garantia? Claro, senão não dizia nem podia estar a dizer isso. Se eu vencer as eleições, o Sérgio Conceição vai continuar. O Pepe, que é um jogador de grande utilidade, tem contrato assinado comigo para mais um ano, mas pediu-me para metê-lo na Liga só depois das eleições”, assegurou. No dia seguinte, em resposta a perguntas da Tribuna Expresso, não era tão cáustico: “Por mim, Sérgio Conceição continuará a ser o treinador do FC Porto.”
Nenhum destas frases contrariou o dito por presidente e treinador há meses, antes de entrarem na derradeira semana prévia ao ato eleitoral. Só na noite anterior à celebração do meio século de 25 de Abril, bolo temporal que se confunde com o tempo que Pinto da Costa conta na liderança do FC Porto (são 42 anos), o presidente dos dragões disse que fez o que ele dissera que não faria:
“O que assinámos com aperto de mão e amanhã [quinta-feira] formalizaremos é um contrato de quatro anos, ele é importantíssimo para o projeto que eu tenho, de voltar às grandes lides europeias. É posto amanhã no papel o que já assinámos com aperto de mão. Amanhã será confirmado, hoje não quero estar a falar disso, não quero que o Sérgio Conceição se intrometa na eleição. Mas estou perfeitamente à vontade para dizer que praticamente está fechado, apertámos as mãos e, para o Sérgio Conceição, um aperto de mãos vale mais do que a assinatura formal.”
Em Espinho, durante um jantar com apoiantes, Jorge Nuno Pinto da Costa desvendou o que parece ser o maior trunfo da sua campanha, contradizendo-se e contrariando também o afirmado pelo treinador. “Não me passa pela cabeça que seja quem for o vencedor não queira o Sérgio Conceição, sobretudo a lista B que se tem fartado de dizer que se sentaria com Sérgio Conceição para resolver o assunto. Assim já fica resolvido”, acrescentou. O suposto contrato que será assinado terá uma cláusula que possibilitará ser revogado, sem custos, caso Pinto da Costa não seja reeleito, avançou o jornal “A Bola”.
Não sendo propriamente mentira o que o recandidato disse acerca das vontades do seu adversário, tão pouco é um facto sem brechas, já que Pinto da Costa não teve em conta o contexto do que tem sido dito por Villas-Boas, inclusive na explicação dada à Tribuna Expresso.
“Sim, já afirmei várias vezes que pretendo sentar-me e conversar com o Sérgio. Essa intenção mantém-se, independentemente dos resultados desportivos até ao final da época”, enquadrou, com uma ressalva – “É fundamental que exista um alinhamento completo entre as nossas expectativas e o projeto que temos para o futuro do clube. Tenho ideias bastante específicas sobre como deve ser a estrutura da direção desportiva e como isso se integra com a função do treinador. E esta conversa será decisiva para entender também os seus planos, e decidirmos qual será o melhor caminho futuro.” Porque o contexto é tudo e nunca Conceição teve no FC Porto o que teria caso Villas-Boas ganhe as eleições, duas figuras acima dele a quem responder: um diretor-desportivo a dita a política do clube e um diretor para o futebol. E um novo presidente que foi ele próprio treinador durante 10 anos.
Assim se termina de ligar a história de declarações ditas outrora que são desvalidadas por outras que se disseram mais tarde.
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