Os cientistas estão finalmente a estudar o organismo feminino. Saiba o que estamos a aprender.

os cientistas estão finalmente a estudar o organismo feminino. saiba o que estamos a aprender.

A investigação na área da saúde ignora historicamente as mulheres. Agora, novos estudos estão, finalmente, a proporcionar informações biológicas que contribuem para melhores diagnósticos e tratamentos para tudo, desde THDA às principais causas da mortalidade materna.

Ir ao médico pode ser frustrante para uma mulher. Isso deve-se ao facto de as mulheres terem mais probabilidades de não serem eficazmente diagnosticadas com condições desdeendometriose a esquizofreniaou transtorno de hiperactividade e défice de atenção (THDA). E, vá-se lá saber como, os cientistas ainda não perceberam bem por que razão tantas mulheres têm dificuldades em amamentar.

As boas notícias é que os investigadores estão a começar a preencher essas lacunas. Os seus estudos estão a proporcionar novas descobertas biológicas – conduzindo a melhores diagnósticos e tratamentos mais localizados, desde a menstruação à menopausa.

Vejamos alguns dos desenvolvimentos que acompanhámos ao longo dos últimos anos.

 1. As mulheres e as raparigas tendem a sentir a THDA de maneira diferente

Nos últimos anos, o diagnóstico do THDA – durante muito tempo considerado um transtorno exclusivo de rapazes – aumentou consideravelmente entre mulheres. Nos EUA, por exemplo, entre 2020 e 2022 os diagnósticos quase duplicaram.

O que está por detrás dessa grande mudança? Os especialistas dizem que está em parte associada à forma como o THDA se manifesta frequentemente nas mulheres e nas raparigas. Embora o THDA esteja tipicamente associado à hiperactividade, existe também uma variante do transtorno chamada THDA do tipo desatento, que é caracterizado por desorganização, esquecimento e dificuldades em começar e manter uma tarefa.

As mulheres e as raparigas tendem a padecer de THDA desatento e os seus sintomas têm mais probabilidades de serem confundidos com dificuldades emocionais ou de aprendizagem – isto se alguém reparar neles.

2. O ciclo menstrual pode alterar a forma do cérebro

Apenas cerca de meio por cento dos estudos com recurso a imagiologia cerebral são realizados com mulheres – e isso é um grande problema, escreveu Sanjay Mishra numa reportagem publicada em Fevereiro de 2024. Esta disparidade explica o facto de só agora estarmos a descobrir como a menstruação altera a forma do cérebro.

É mesmo isso. Muda. O. Cérebro. Conforme relatado por Sanjay, estudos recentes mostram que o período mensal “altera dramaticamente a forma das regiões do cérebro que regem as emoções, a memória, o comportamento e a eficiência da transferência de memórias”.

É importante sublinhar que estes estudos não provam que estas alterações estejam ligadas à montanha-russa de emoções que algumas mulheres sentem durante o seu período menstrual. No entanto, os especialistas realçam a necessidade urgente de realizar mais estudos de neurociência com mulheres, que têm mais probabilidades de desenvolver doença de Alzheimer e depressão. “É mais do que altura de dar a devida importância ao cérebro na saúde feminina”, disse Julia Sacher, psiquiatra e neurocientista do Max Planck Institute for Human Cognitive and Brain Sciences, em Leipzig, na Alemanha, que liderou uma investigação nesta matéria.

3. Aquelas náuseas horríveis podem ser mais do que “enjoos matinais”

A maioria das pessoas sente enjoos matinais durante a gravidez – não é nada de especial, pois não? Pois bem, essa percepção pode estar a impedir as pessoas de receberem tratamento para uma condição grave chamada hyperemesis gravidarum (HG). Esta condição afecta cerca de dois por cento das pessoas grávidas e é “caracterizada por náuseas e vómitos graves e persistentes, que podem ameaçar a vida.

Embora estes sintomas possam ser debilitantes, médicos e investigadores disseram que tinham visto alguns dos seus pares desvalorizarem a HG como “histeria”. Não é, por isso, surpreendente que os estudos sobre o seu tratamento sejam insuficientemente financiados.

No entanto, essa investigação está a acontecer aos poucos. Nos últimos anos, estudos identificaram uma hormona específica associada à HG e até desvendaram exactamente como a hormona provoca esta condição. Estas descobertas podem finalmente dar origem a novos tratamentos – se os médicos souberem como prescrevê-los.

4. Temos finalmente novas ferramentas para salvar vidas durante o parto

Segundo a Organização Mundial da Saúde, quase 800 pessoas morrem diariamente em todo o mundo devido a complicações relacionadas com a gravidez e o parto. As taxas de mortalidade maternas estão a aumentar. Mas há esperança: estudos inovadores estão a dar-nos ferramentas para prevenir as principais causas da mortalidade materna, incluindo pré-eclâmpsia, anemia e sepse.

Nos EUA, foi aprovada a primeira análise ao sangue capaz de precaver os pacientes com risco de desenvolver pré-eclâmpsia – uma condição na qual a tensão arterial alta restringe tão gravemente o fluxo sanguíneo que pode provocar insuficiência de órgãos e morte. A pré-eclâmpsia é difícil de diagnosticar porque se assemelha a muitos outros problemas comuns durante a gravidez – por isso, este novo teste pode mesmo fazer a diferença.

Os investigadores também descobriram uma solução surpreendentemente simples para a anemia, uma condição que pode causar hemorragias fortes durante o parto: administração intravenosa de ferro. Embora a condição seja tradicionalmente tratada com suplementos de ferro ingeridos por via oral, os investigadores demonstraram que a administração de ferro por via intravenosa durante 15 minutos fornece o equivalente a quatro comprimidos por dia durante quatro semanas.

5. A síndrome do ombro congelado é real

A síndrome do ombro congelado é exactamente aquilo que parece: uma condição na qual o tecido conjuntivo do ombro fica tão inflamado ao ponto de a pessoa não conseguir mexê-lo. Esta condição dolorosa pode durar anos e ainda não é bem compreendida – talvez porque três quarto das pessoas afectadas são mulheres.

A menopausa parece ser um factor relevante. Os investigadores estão a investigar se a dor nas articulações sentida por cerca de 50 por cento das mulheres na menopausa poderá estar associada à diminuição do estrogénio no seu organismo. Um estudo recente sugere que as pessoas tratadas com terapia hormonal para aumentar os níveis de estrogénio têm menos probabilidades de serem diagnosticadas com síndrome do ombro congelado. Esta investigação ainda está a dar os primeiros passos.

6. Poderá finalmente haver uma cura para os afrontamentos

Mais curioso ainda é o facto de os investigadores terem finalmente descoberto por que razão a queda a pique do estrogénio durante a menopausa provoca afrontamentos.

Segundo um estudo norte-americano, até cerca de 80% das mulheres padece deste sintoma debilitante – frequentemente acompanhado por suores, palpitações cardíacas, tonturas, fadiga e/ou ansiedade. Os afrontamentos ocorrem várias vezes por dia e podem prolongar-se durante uma média de quatro anos.

Cada vez mais estudos têm demonstrado que a queda do estrogénio afecta um conjunto particular de neurónios – no hipotálamo – que regula a temperatura, fazendo-os disparar de forma inapropriada. Agora há empresas a testar fármacos para bloquear esses neurónios e acabar com os afrontamentos de uma vez por todas.

* Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.

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