“O mundo pós-Guerra Fria em que vivíamos em paz e em comércio com o mundo inteiro acabou"

O regresso da guerra à Europa trouxe desafios em matéria de segurança e defesa, nomeadamente o necessário aumento do investimento nesta área, mas também levanta uma questão: qual é o papel que Portugal poderá ter numa União Europeia em transformação e alargamento? Este foi o tema do último de dez debates que a Impresa e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) promovem desde maio para refletir e fazer um retrato das últimas cinco décadas de democracia em Portugal. Conheça as principais conclusões

O último debate 5 Décadas de Democracia contou com a participação de (da esq. para a dir.) Henrique Burnay (Instituto de Estudos Políticos), Adolfo Mesquita Nunes (Pérez-Llorca), Joana Silva (Universidade Católica Portuguesa) e Ana Santos Pinto (Universidade Nova de Lisboa)

Não há como negar o que é evidente: a Europa de 2024 não é, de todo, a mesma do período pós-Segunda Guerra Mundial ou tão pouco a do pós-Guerra Fria. A organização geoestratégica dos principais blocos mundiais – Estados Unidos, Europa, Rússia e China – alterou-se, as alianças e a interdependência também, e tudo isto implica que os decisores políticos europeus vejam o projeto da União Europeia (UE) com outros olhos. “O mundo pós-Guerra Fria em que vivíamos em paz e em comércio com o mundo inteiro acabou”, exclama Henrique Burnay.

O professor do Instituto de Estudos Políticos da Católica acredita que, mesmo com o alargamento da UE a Leste, Portugal pode ter um papel importante no contexto europeu se conseguir afirmar o “eixo atlântico como uma das peças essenciais da nossa participação na UE”. Ou seja, num momento em que a Europa se torna mais continental, a dimensão marítima do país e a sua posição estratégica em relação ao Atlântico deve ser valorizada e potenciada.

O crescimento do populismo na Europa e as mudanças geopolíticas foram os principais temas em discussão

Henrique Burnay foi um dos convidados do último de dez debates organizados pela Impresa com apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos para refletir sobre as últimas cinco décadas de democracia. A discussão, moderada pela jornalista da SIC Notícias, Rosa de Oliveira Pinto, contou ainda com a presença de Adolfo Mesquita Nunes (Pérez-Llorca), Ana Santos Pinto (Universidade Nova de Lisboa) e Joana Silva (Universidade Católica Portuguesa).

Conheça as principais conclusões.

Entre a defesa da segurança europeia e o combate ao populismo

  • Para Henrique Burnay, Portugal deve repensar o seu papel na UE e “perceber o que quer” deste continente em transformação. O especialista defende que o país deve desejar uma Europa aberta e que, ao mesmo tempo, mantenha uma “relação forte com o Atlântico” – em especial, com a NATO e com os Estados Unidos.
  • Com o regresso da guerra ao território europeu, o tema da segurança e da defesa volta a estar entre as principais preocupações dos decisores, mas também dos cidadãos. O anúncio da Comissão Europeia sobre a implementação do Fundo Europeu de Defesa é um primeiro passo no sentido de apostar, de forma conjunta, nesta indústria numa perspetiva de investigação e desenvolvimento de protótipos. “Uma coisa diferente é a dimensão de comando e operações [militares] e isso a UE não tem e não se constrói num curto prazo”, explica Ana Santos Pinto.
  • “Não estamos a falar de um exército europeu”, assegura Henrique Burnay, que esclarece que o objetivo europeu é criar “capacidade industrial” e, nesse campo, Portugal pode ter um papel. “Não podemos olhar para o que se está a discutir de reforço da segurança e defesa e pensar que é vendermos uniformes e botas. Temos tecnologia e temos também de participar com isso”, reforça.
  • Joana Silva, professora da Católica e economista no Banco de Portugal, lembra que não é possível – ou, pelo menos, não é desejável – que a Europa se feche sobre si mesma para ser autossuficiente. “Se bloquearmos o comércio internacional em vários produtos, vamos ter menos variedade e vamos ter produtos mais caros”, avisa.
  • Por outro lado, continua, o interesse português é “sermos o mais produtivos possível, termos mais emprego e termos os melhores salários possíveis”. Para isso, porém, é preciso continuar a apostar em exportações e na captação de investimento estrangeiro – algo que não é compatível com medidas protecionistas.
  • Adolfo Mesquita Nunes, agora afastado da política ativa, assinala que a discussão de temas difíceis como o da defesa, o da reindustrialização, o do combate às alterações climáticas ou da desigualdade são propícios ao crescimento dos movimentos populistas. O segredo para combater esta tendência? “É preciso falar a verdade”, resume o antigo responsável do CDS.
  • Apesar de considerar que “não existe uma resposta única” para o populismo, Adolfo Mesquita Nunes insiste que é preciso “tratar as pessoas como adultas e dar-lhes respostas, porque o populismo reside essencialmente nesta ideia de que para problemas complexos há respostas simples”.
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