Ninguém quer ter António Costa "à solta" mas "não seria justo" Marcelo "vir dizer que o quer longe"

Marcelo e António Costa no lançamento do livro

“Há quase um consenso nacional que o lugar de António Costa é em Bruxelas”. Há muito que se diz que o futuro do ex-primeiro-ministro é como presidente do Conselho Europeu – chegou a ser uma hipótese avançada ainda durante a plenitude do Governo. E Raquel Abecasis, analista política, entende que esse é o lugar onde António Costa “poderá fazer menos estragos, estando longe da atividade política nacional”. Sabe-se que o ex-primeiro-ministro está a tirar uma pós-graduação em Contencioso Contratual, Mediação e Arbitragem na Universidade Católica Portuguesa, a dúvida surge no passo seguinte – irá manter-se perto da política nacional ou seguirá o sonho europeu?

O que muitos apontavam no calendário era o ano de 2026 para o salto de António Costa, mas a Operação Influencer fê-lo precipitar uma demissão e levou à queda do Governo. De saída, o ex-primeiro-ministro ficou com o caminho aberto. Há quem defenda que foi a Operação Influencer que conduziu à sua demissão, outros que foi a “gota de água” da “situação de degradação” em que o Governo se encontrava, depois dos muitos “casos e casinhos” com ministros, secretários de Estado ou até assessores – lembra-se de Frederico Pinheiro?

Aos olhos de António Costa, a culpa do fim da legislatura é apenas de uma pessoa: Marcelo Rebelo de Sousa. E isso fica expresso no prefácio do livro “Palavras Escritas”, editado e publicado pelo grupo parlamentar do Partido Socialista (PS). O ex-primeiro-ministro escreveu que “a ocasião fez a decisão” de o Presidente da República pôr termo “prematuramente” à anterior legislatura. O ex-primeiro-ministro até já tinha, a espaços, deixado no ar a ideia de que era o chefe de Estado o responsável, tendo inclusivamente confirmado que propôs o nome de Mário Centeno para liderar o Executivo o resto da legislatura, mas nunca o tinha feito tão taxativamente.

“Não é a primeira vez” que António Costa culpabiliza o Presidente da República pela queda do Governo socialista, aponta Raquel Abecasis, que considera esta é uma “leitura abusiva”. Na verdade, “há um primeiro ato” – foi António Costa que apresentou a demissão.

Inês Serra Lopes partilha da mesma visão. Costa “tem andado a hesitar” culpabilizar ou não o Presidente da República, mas “não o pode fazer sem referir a sua demissão”. Nas três páginas do prefácio que escreveu a 15 de março não há uma única menção à sua própria demissão. “Marcelo tinha o melhor motivo, não o fez com um pretexto extraordinário”, concretiza a especialista em política nacional. De resto, o chefe de Estado sempre deixou claro que a maioria absoluta do PS era, no seu entender, uma maioria de António Costa. Por isso mesmo decidiu não alinhar na ideia de colocar Mário Centeno a liderar o Executivo.

É também esse o entendimento da Raquel Abecasis, que, com base nos quatro meses que se seguiram, afirma que “não havia nenhuma outra solução do que a demissão do primeiro-ministro”. “Com a situação de degradação em que o Governo se encontrava, independentemente da Operação Influencer”, não seria fácil que “outro primeiro-ministro pudesse ser nomeado e tivesse levado a legislatura até ao fim”. A analista política também lembra que o nome indicado pelo PS era Mário Centeno, que “nem sequer é militante do PS”. “Era uma solução que tinha tudo para correr mal”.

“Marcelo Rebelo de Sousa foi coerente com o seu discurso”, sublinha Inês Serra Lopes, lembrando o discurso que fez na tomada de posse do Governo socialista. “Toda a gente compreendeu que Costa não podia ir para a Europa e deixar o Governo entregue a outro socialista”.

Numa possível referência indireta à investigação judicial que levou à demissão do anterior líder do executivo, Costa escreve que “nunca se saberá como seria o futuro se o passado tivesse sido outro”. Contudo, Raquel Abecasis garante que “há fortes indícios” de que a solução socialista “não teria estabilidade e não seria durável no tempo”. “Se não tivéssemos tido eleições em março convocadas por Marcelo Rebelo de Sousa, se calhar teríamos tido eleições antecipadas”.

Foi anunciado esta semana que o ex-primeiro-ministro vai ser comentador no novo canal de televisão, que será lançado pelo grupo Medialivre. Para Raquel Abecasis, “nem Marcelo Rebelo de Sousa, nem Luís Montenegro, nem Pedro Nuno Santos querem ter António Costa à solta a fazer comentário político na televisão”. Inês Serra Lopes discorda: “Marcelo tem muito desportivismo no que toca aos seus comentários”. Aliás, “não seria justo, depois de andar com o Governo da geringonça às costas, vir dizer que quer António Costa longe”.

Na ótica de Inês Serra Lopes há um paralelismo entre “quanto mais perto António Costa está de ter o cargo de presidente do Conselho Europeu com as críticas internas que faz, de forma a ter apoio”. No entanto, o prefácio do livro “Palavras Escritas” deixa a especialista em política nacional na dúvida: “será que o ex-primeiro-ministro pensa que afinal não terá o lugar europeu que tanto deseja?” Uma coisa é certa, se António Costa seguir o sonho de ir para o Conselho Europeu, o seu tempo enquanto comentador político será curto.

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