Na primeira arruada "não apareceu muita gente", no almoço de última hora apareceram centenas: um desvio de 150 quilómetros fez toda a diferença para Montenegro

Montenegro dia 2

“Neste tipo de momentos as intrigas políticas contam muito”, justifica-se Avelino Rodrigues, 65 anos, erguendo os ombros e apontando para o número inferior ao esperado de militantes que se reuniam a aguardar que Luís Montenegro chegasse a Mirandela e desse o tiro de partida para a sua primeira arruada em campanha eleitoral. “Não apareceu muita gente, é verdade, também o candidato é de Bragança e as rivalidades na região acabam por prejudicar – isso e o facto de a feira da alheira só começar daqui a 4 dias.”

Assim, foi perante uma série de bancas fechadas que Luís Montenegro avançou através do Largo 1.º de Janeiro em direção a um café coberto, onde lá dentro aguardava José Silvano, antigo secretário-geral de Rui Rio que, nas eleições de 2022, viu o PSD perder o distrito de Bragança pela primeira vez desde 2005 (por uma diferença de 15 votos).

“Desta vez estou muito confiante”, disse Silvano a Montenegro. “Em termos de otimismo estamos muito melhor e perto da vitória, agora é trabalhar até ao último dia”. Resposta de Montenegro: “Terra a terra, voto a voto, rua a rua, casa a casa”, Reação de Silvano: “Isso é o que nós dizíamos nas autárquicas, pá, nas aldeias o que ganha é esse discurso.”

 

Montenegro toma café com José Silvano, antigo braço direito de Rui Rio / Tiago Petinga (Lusa)

O antigo braço direito de Rio foi acompanhando à distância a arruada e, à CNN Portugal, sublinhou que, “independentemente do líder ter mais ou menos gente”, tem a certeza de que as pessoas do seu distrito preferem “arriscar” a “deixar tudo na mesma”. “As pessoas estão fartas de estar oito anos com listas de espera nos hospitais, oito anos com os impostos no máximo e, mesmo que corram alguns riscos, preferem correr esses riscos a deixar ficar tudo na mesma.”

A arruada durou 40 minutos e esteve concentrada na Rua Santa Luzia, que foi percorrida de frente para trás e de trás para frente, de forma a que o líder do PSD conseguisse entrar em quase todas as lojas tradicionais de enchidos. À entrada de uma delas, Montenegro chegou a beijar uma fila de seis amigas idosas que se encostaram à parede enquanto a arruada seguia. Cidália Rodrigues, de 72 anos e a última beijada, diz que o grupo estava a meio de uma excursão de dois dias por Mirandela e que ficou “muito bem impressionada” com a “vida” do candidato. “Gosto muito dele”, disse.

Montenegro beija uma fila de senhoras na arruada em Mirandela/ Tiago Petinga

 

Durante o percurso, Montenegro evitou também falar sobre a polémica que o tem colocado em rota de colisão com Miguel Albuquerque, que depois da operação policial que levou à queda do seu governo na Madeira já veio entretanto manifestar a sua intenção de se recandidatar mesmo sem o apoio do líder social-democrata.

Esses assuntos, tal como a incógnita que tem deixado sobre o que fará num cenário em que o PS vença as eleições mas sem maioria no Parlamento, são “assuntos que não preocupam as pessoas” – uma mensagem que gritou ao megafone no final da arruada em cima de um banco de parque e que repetiu ao longo do dia. “O PS só se preocupa consigo mesmo, nós preocupamo-nos com os problemas do país.”

Se preocupações existissem, no entanto, sobre a capacidade de mobilização naquela arruada, Luís Montenegro acabou por vir a dissipá-las durante a tarde. Primeiro rumou a Maia, à Quinta do Granjeiro, para um almoço-comício de última hora que esgotou em quatro horas e reuniu no mesmo sítio mais de 600 militantes e dirigentes sociais-democratas da região do Porto.

Nesse mar de gente, reunido em mesas circulares e dividida por distritais, Montenegro sentou-se à mesa com Paulo Rangel, António Silva Tiago, autarca da Maia, e também com o estreante Miguel Guimarães, antigo bastonário da Ordem dos Médicos e cabeça de lista no Porto pela Aliança Democrática.

Quando se levantou para discursar, Guimarães, que raramente tirou os olhos de Montenegro, disse que aceitou o convite para integrar as listas por ter a “confiança de que ele quer cuidar das pessoas do nosso país”. “Ao contrário de Pedro Nuno Santos – que não é um líder, é um autoritário -, Luís Montenegro sabe estar, escutar e apresenta as suas propostas com conhecimento de causa”.

“Não há dúvidas”, continuou o ex-bastonário, que foi substituído por Carlos Cortes no ano passado. “Luís Montenegro será primeiro-ministro e será o melhor primeiro-ministro que teremos após o 25 de Abril.”

“Eu não estou preocupado com o futuro do PSD nem do CDS, estou preocupado é com as pessoas”

No seu discurso, Miguel Guimarães definiu também logo o seu alvo a abater: Manuel Pizarro, “o responsável pelo estado de emergência que o país vive na saúde”. “Se olharmos para os dados da Entidade Reguladora da Saúde, o incumprimento do tempo máximo de resposta para consultas hospitalares aumentou para mais de 50%, isto apesar de termos o maior aumento de investimento de sempre na saúde. Se olharmos só para as consultas de cardiologia, o tempo máximo foi ultrapassado em 83% das consultas, estamos a falar de uma área em que esse tempo de espera põe em causa vidas.”

O almoço-comício não estava planeado e foi integrado na campanha, levando a comitiva a fazer um desvio de 150 quilómetros antes de rumar a Vila Real para o segundo comício da campanha. Com centenas de bandeiras a flutuar, até Montenegro se mostrou surpreendido com tanta adesão. “É entusiasmante receber tanta força e energia, tanta vontade de mudar.”

Luís Montenegro durante o comício de Vila Real/ Lusa

 

Aproveitando o momento para continuar a estratégia já destapada durante a manhã, Luís Montenegro sublinhou que “as pessoas não estão preocupadas com aquela boca que um político manda ao outro, o que querem é conseguir uma consulta e ter uma cirurgia programada”. Minutos depois, contudo, mandou uma boca ao PS.

“Há muitas forças políticas, incluindo o PS, que estão mais preocupadas consigo próprias e com o seu futuro político. Eu não estou preocupado com o futuro do PSD nem do CDS, estou preocupado é com as pessoas”, disse Montenegro, reforçando que a sua equipa “não está nesta campanha para tratar do partido, nem confundir os órgãos do Estado com ele”. O PSD, concluiu, é “apenas o instrumento” que tem “para chegar às pessoas”.

Já de volta a Vila Real, para um comício dentro de um teatro municipal a abarrotar, o líder social-democrata não resistiu a celebrar, novamente, a quantidade de militantes que o vieram ouvir – um número em tudo díspar face à arruada de manhã. “Quero pedir desculpa por não caberem todos cá dentro”, disse – e a seguir citou imediatamente Carlos Mota Pinto: “Quando começámos éramos muitos, hoje somos milhares e amanhã seremos milhões.”.

Naquela que é uma das regiões mais envelhecidas de Portugal, Montenegro voltou a concentrar-se na sua estratégia de reconciliação com os reformados e pensionistas, aproveitando cada momento para desviar o sentimento de responsabilidade pelo corte das pensões de Passos Coelho para José Sócrates, que responsabilizou pela chamada da troika. E fez uma promessa: “Nós não vamos de maneira nenhuma cortar um cêntimo que seja ou cortar na pensão de quem quer que seja”.

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