JM Bartomeu: «Foi um erro despedir Zubizarreta, não o voltaria a fazer»
Andoni Zubizarreta é o nome escolhido por André Villas-Boas para comandar o futebol profissional do FC Porto. Homem apaixonado pela Cultura e pela Arte, o antigo portero foi criticado por Pinto da Costa. Os motivos? Os despedimentos sofridos enquanto dirigente do Barcelona e do Marseille, no entender do ainda presidente portista.
Ora, nesse sentido, o zerozero foi à procura de respostas e encontrou-as na boca da personagem perfeita para confidenciá-las: Josep Maria Bartomeu, presidente do Barcelona entre as temporadas 13/14 e 20/21, além de ter sido membro da direção desde a mudança geracional de 2003, que tantos e bons frutos deu aos catalães.
Bartomeu foi o responsável pela saída de Zubizarreta mas, admite pela primeira vez em público, esse foi «um erro». Com Josep Maria, os catalães conquistaram 13 troféus oficiais: quatro campeonatos, quatro Taças do Rei, duas Supertaças, uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia e um Mundial de Clubes.
Devido a acusações de fraude financeira, acabou por sair do Barcelona debaixo de grande polémica. Continua a batalhar na Justiça pela sua inocência.
Bartomeu aceitou quebrar o silêncio em exclusivo para o zerozero. Fez questão de o fazer para demonstrar a estima sentida por Andoni Zubizarreta. Uma conversa cheia de revelações.
zerozero – Enquanto membro da direção que escolheu Zubizarreta para diretor desportivo, e o presidente que o demitiu, o que nos pode dizer sobre o seu perfil e percurso?
Josep Maria Bartomeu – Contratámos o Zubizarreta no Verão de 2010 para ser o diretor desportivo do clube. No princípio, o seu trabalho principal era reorganizar toda La Masia (academia de formação do FC Barcelona). Estava muito desorganizada e ele criou novos métodos e novos protocolos para o desenvolvimento dos jogadores. Desde Espanha, Europa e outros países. Incorporou novos sistemas informáticos, novas ideias. Ele mudou quase tudo, exceto o conceito de La Masia. Falo apenas da sua reorganização.
O Zubi criou um conceito novo a que chamámos As Linhas de Sucessão, que consistia em monitorizar os jogadores para chegar à primeira equipa. No entanto, esses frutos não se veem de imediato e o Barcelona está agora com os proveitos dessa nova organização de 2010/2011: Ansu Fati, Lamine Yamal, Pau Cubarsi, por exemplo, todos estes jogadores saem desse conceito criado pelo Zubi. É o que chamamos La Masia Integral. Foi um conceito copiado logo a seguir pelas modalidades do Barça.
zz – Que importância teve o Zubizarreta no projeto ganhador de Pep Guardiola?
JMB – A função do Zubizarreta foi ajudar a alargar o ciclo ganhador de Guardiola, que começou em 2008. Como sabem, no futebol, é difícil prolongar os ciclos ganhadores por mais do que três anos e ele veio para ajudar a manter essa dinâmica.
Quando o Pep Guardiola foi embora, foi o Zubizarreta quem convenceu o Tito Vilanova a assumir a equipa principal. Quando o Tito adoeceu, anos mais tarde, foi ele o responsável por escolher Luís Enrique. Foi ele o responsável também por trazer o Neymar, o Ter Stegen, o Luís Suarez. Graças a esse trabalho, ele foi o pai do segundo triplete da história do FC Barcelona, na época 2014/2015. Ganhámos a Champions League, a La Liga e a Taça do Rei. Claro que tínhamos o Messi, mas ele sozinho não pode ganhar. Zubizarreta fez o trabalho de juntar grandes jogadores na equipa para prolongar o ciclo vencedor.
zz – Que importância dá às ideias defendidas por Zubizarreta no Barcelona?
JMB – Mesmo depois da sua saída, quisemos seguir o seu projeto e as suas ideias. Foi por isso que contratámos Ernesto Valverde. O Zubi sempre me disse: ‘Quando acabar o ciclo do Luís Enrique, temos de trazer o Ernesto Valverde’. O Zubizarreta já não estava em 2017, mas seguimos essa corrente e a sua filosofia.
zz – De que forma resume o perfil e o caráter do senhor Zubizarreta?
JMB – É uma pessoa muito séria, muito responsável, muitíssimo inteligente, com ideias muito claras e, sobretudo, honesto. No mundo do futebol faz falta gente honesta. Ele tem uma coisa muito boa, é que ele não te diz o que queres ouvir, diz o que ele pensa, mesmo que não esteja de acordo com o presidente.
zz – Afinal, qual é a verdadeira razão para o Zubizarreta ter sido despedido pelo presidente Bartomeu?
JMB – Os presidentes nem sempre acertam e eu, com o tempo, admito: não acertei ao despedi-lo. Se pudesse voltar atrás, não o despediria. Na altura eu tinha de tomar decisões, eram dias de muita tensão. Houve um problema grande entre o Luís Enrique e os jogadores, e eu tinha de resolver e tomar as minhas decisões. Naquela altura, despedi-o a ele e ao diretor-geral do clube [ndr. em 2015 saíram também Carles Puyol, Albert Valentí e Narcís Julià, todos colaboradores de Zubizarreta].
Não é, como se diz por aí, que tenha saído por causa de ter comentado publicamente sobre as sanções que a FIFA nos instaurou [impedimento de inscrever jogadores]. Isso nada teve a ver com ele nem comigo. São anteriores à nossa gestão.
zz – Passou por uma mudança geracional no Barcelona. De que forma vê as eleições do FC Porto e que impacto uma possível mudança pode ter no clube?
JMB – Eu estive na mudança de ciclo do FC Barcelona no ano de 2003. Houve eleições e entrou um grupo de gente jovem no clube: Laporta, Sandro Rosell, Ferran Soriano, que agora está no Manchester City, entrei eu, o Txiki Begiristain, e trouxemos o Frank Rijkaard. Demos outra imagem ao clube.
Não digo que os anteriores estivessem mal, mas os sócios quiseram-nos a nós, a geração do Powerpoint (risos). E repare que a nossa geração continua, com o regresso de Laporta. Não falarei do FC Porto, porque não estou por dentro do clube mas, dando o exemplo do Barça, é importante que se renovem gerações. No nosso caso [FC Barcelona], a mudança foi muito boa para se abrir a novas ideias. Vínhamos de uma dinâmica negativa e esta geração ajudou. Claro que foi muito importante trazer o Ronaldinho, sem ele não tínhamos conseguido. O mesmo aconteceu mais tarde com Messi.
Conheço o Pinto da Costa, é um grande presidente. As equipas importantes que o FC Porto teve na europa foram à custa do seu trabalho. O que decidirem os sócios, será bom para um clube democrático.
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