"Ele que venha, que leva com um balde de mostarda". Pedro Nuno, o construtor que só tem bifanas prontas para inaugurar

Pedro Nuno Santos em Évora (Lusa)

É um cheiro a bifanas logo às 10:00. E estas, hoje, prometem dar molho. “Ele que venha, que leva com um balde de mostarda. O outro leva com tinta, ele leva com mostarda”. Ele é Pedro Nuno Santos. O outro é Luís Montenegro. Carlos Teixeira ri-se. Há mais de 20 anos que serve a iguaria que coloca Vendas Novas no mapa.

Carlos Teixeira não resiste a adaptar a tinta verde de Montenegro à realidade de Vendas Novas (CNN Portugal)

Está ao balcão do Café Boavista. No toldo, lê-se “as originais”. Porque “foi aqui que nasceu a bifana há 50 anos”. As outras casas, que nasceram como cogumelos, “são fotocópias”. “Antes passava muita gente aqui para a caça, agora passam para a caça ao voto”.

Quem hoje vem de armas e bagagens – ainda que em formato miniatura – é o secretário-geral do PS. Neste concelho-bastião, há quem esteja aziado com o partido. Luís Dias, que era presidente da câmara, concorre ao lugar de deputado. Há trocas que não se perdoam. “É normal, é sinal de que se faz um bom trabalho. O que tenho dito é que nunca vou abandonar Vendas Novas. vou defender a terra a outros níveis”, reage.

Nina, a cadela, também não se rala muito com a política (CNN Portugal)

Quando Pedro Nuno Santos chega a Vendas Novas, Nina não se dá ao trabalho de sair do seu lugar ao sol. Bem na porta da loja de Anatilde Silva. “Ela é calminha, não vai às canelas de ninguém. Nem a ele nem a nenhum candidato”.

Anatilde lembra-se bem de quando foi de férias à Suíça. Mas um aeroporto aqui na terra, como chegou a ser sugerido, não faria a diferença? “Não sei se era o aeroporto ou se era aumentar os ordenados”. De voos, confessa, pouco se fala por aqui.

Mesmo que a ideia, diz o novo autarca, Valentino Salgado Cunha, comece “a ter adeptos”. “Queremos que o novo aeroporto entre em construção. Alcochete e Vendas Novas são opções que nos beneficiam”. Sobre este tema, Pedro Nuno Santos tem local preferido: Alcochete. Mas em Vendas Novas não quis “falar sobre isso”.

Em Vendas Novas, a bifana “tem de ser”, mesmo às 10:30 da manhã (Lusa)

Muita bifana e Nestum para ser primeiro-ministro e “corrigir”

Sim, Pedro Nuno Santos come uma bifana às 10:30. Sim, Pedro Nuno Santos acompanha com uma imperial. Mas antes tem de forrar o estômago com um café. O pequeno-almoço, conta na brincadeira, “foi Nestum”. E ainda há muita papa para comer até chegar a primeiro-ministro.

Que o diga Rosinda, que vê o líder do PS sentar-se à sua mesa. Ele quer conversar com a idosa. Depois, aproximam-se as câmaras das televisões. Desiste da ideia. Rosinda é que não se faz rogada: diz o que tem para dizer. “Eu gosto dele mas não psso dizer que gostei do último mandato”. Não escapa o PS nem escapa Passos Coelho. “Quero os meus netinhos cá. Eles é que têm culpa”.

Pedro Nuno promete “corrigir o que não correu bem”. E parte rumo à casa de bifanas. Não, não é a mesma onde prometeram atirar-lhe com mostarda.

Rosinda não poupa nas críticas. Nem à esquerda, nem à direita (CNN Portugal)

Pronto para inaugurar… vai é ser preciso esperar

O homem sonha, mas nem sempre a obra nasce a tempo das eleições. Ainda para mais quando são eleições antecipadas. No distrito de Évora, Pedro Nuno Santos quer mostrar obra feita. Ou, pelo menos, obra em curso. Primeiro no Hospital Central do Alentejo. Depois de a abertura ser adiada pela terceira vez, deseja-se que esteja a postos em fevereiro de 2025.

Filomena Mendes,  presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo, acaba por fazer sozinha a campanha socialista. Pedro Nuno concorda com a cabeça. “Boa”, “é isso”, “muito bem”. Porque é lembrado que esta obra “tem mão de António Costa” (que há de se juntar à caravana, só não se sabe quando) e que Pedro Nuno Santos é o único candidato a primeiro-ministro a passar por cá. “Para poderem dizer que não se está a fazer nada, é melhor não virem”, reage o secretário-geral do PS.

Na visita às obras do novo hospital em Évora, Pedro Nuno quase não precisa de falar. Há quem louve o PS por ele (Lusa)

Toneladas e toneladas de betão e aço. O candidato percorre-os em passo rápido, sem “arrastar os pés”. “Vamos lá trabalhar, que temos aqui mão de obra”. Fala da comitiva. Porque entre os 500 trabalhadores há muitos – imigrantes – que não o conhecem. Dizem que é o “presidente”. Pedro Nuno só lhes pergunta se está na hora de almoço.

“A nossa convicção é de que somos nós que vamos inaugurar este hospital. Este e outros”, diz depois aos jornalistas. Pedro Nuno, o fazedor, quer mostrar que também é construtor. E à tarde tem uma visita a obras na ferrovia, no Corredor Internacional Sul, que liga Évora a Espanha.

Aqui sim, há mão dele, enquanto antigo ministro das Infraestruturas. O candidato serve uma imagem poética. Ele, sozinho, na linha do comboio. O homem e a sua obra em construção. Espera estar em funções no dia em que as fitas estiverem a postos para serem cortadas. Sobre os riscos de ser o PSD a fazê-lo, responde: “Era o que faltava, vão ser inauguradas por nós”. Até porque essa parece não ser uma prioridade de Luís Montenegro: “não há uma palavra sobre a linha de grande velocidade no programa do nosso adversário”.

Pedro Nuno Santos quer inaugurar novas linhas de comboio, que tanto trabalho lhe deram como ministro (Lusa)

O príncipe da ‘selfie’ alentejana

Ao quinto dia de campanha, Pedro Nuno Santos parece tomado por uma nova energia. As sondagens, desvaloriza, “valem o que valem”. E em Évora, onde os socialistas levaram dois deputados ao Parlamento em 2022, a o sorriso do candidato torna-se mais rasgado. O cumprimento ao povo mais demorado.

Pedro Nuno Santos começa a estar mais à vontade na rua (Lusa)

“Acho sinceramente que as coisas estão a correr bem”. O esforço é porta a porta, loja a loja, beijo a beijo. E, se já tinha mostrado que não tem medo de ‘selfies’, em Évora tenta confirmar o estatuto de estrela. Em pleno centro histórico, Marcedones Lima espreita pelo vidro do café com o telemóvel na mão. Pedro Nuno percebe para quê. E faz-lhe a vontade.

Uma das muitas ‘selfies’ em Évora (CNN Portugal)

“Tirei a fotografia para mandar para o meu patrão”. Com o voto dela o PS não conta. Apesar de estar em Portugal há 16 anos, esta brasileira ainda tem direito ao boletim. O marido, sim. “Não estou acompanhando muito a campanha, mas precisamos de melhorar muita coisa”.

Conselho que Pedro Nuno Santos já deve ter ouvido sobre a sua postura na rua. Ao quinto dia, a coisa começa a aquecer. Começa.

Arruada contou com o cabeça de lista pelo distrito de Évora, Luís Dias (Lusa)