"Irão não atacou, retaliou" e cabe a Israel parar por aqui

Para a investigadora Ghoncheh Tazmini, se a comunidade internacional tivesse condenado ou incriminado o ataque de Israel ao consulado do Irão em Damasco, “em violação flagrante dos regulamentos e convenções de direito internacional”, o Irão “teria repensado melhor a retaliação, porque teria entendido que não estava indefeso”.

“Irão não atacou, retaliou” e cabe a Israel parar por aqui

A investigadora iraniana Ghoncheh Tazmini defendeu esta terça-feira que o Irão “não atacou Israel, apenas retaliou” e que Telavive deve parar por aqui para evitar uma escalada do conflito no Médio Oriente.

Em declarações à agência Lusa, Tazmini, diretora de Investigação no Instituto Ravand de Estudos Económicos e Internacionais e que vive atualmente entre Portugal, Canadá e Reino Unido (tem tripla nacionalidade — iraniana, portuguesa e canadiana), sublinhou que a “natureza da retaliação” de Teerão foi “muito comedida, muito calibrada e muito coreografada”.

“A razão é que o objetivo não era militar, era uma demonstração política do princípio de que o Irão pode defender-se, ou deve defender-se (…) e isso explica por que o Irão continuou a invocar o Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que este é um ato de autodefesa e que opera no âmbito do direito internacional”, prosseguiu a escritora, investigadora e conferencista independente.

Para Tazmini, se a comunidade internacional, como a União Europeia (UE) ou os Estados Unidos, tivesse condenado ou incriminado o ataque de Israel ao consulado do Irão em Damasco (a 01 deste mês), “em violação flagrante dos regulamentos e convenções de direito internacional”, o Irão “teria repensado melhor a retaliação, porque teria entendido que não estava indefeso”.

Prova disso é o facto de países como a “Turquia e outros” terem sido “notificados” da intenção de Teerão 72 horas antes, segundo a diretora de Investigação no Instituto Ravand de Estudos Económicos e Internacionais — o primeiro grupo de reflexão iraniano independente, apartidário, privado, e não-governamental que se dedica a questões políticas importantes para o Irão.

Tal permitiu, sustentou, que Israel se preparasse para intercetar os ‘drones’ (aeronaves não tripuladas) e os mísseis balísticos e de cruzeiro, “o que sugere” que a ideia não era infligir danos cinéticos, mas sublinhar que o Irão tem o direito defender-se quando se encontra indefeso, após não haver incriminação do ato de agressão de Israel.

“A outra coisa é o facto de não ter havido vítimas civis, e essa não era a intenção, é uma prova disso”, sublinhou a autora do livro “Power Couple — Russian-Iranian Alignment In The Middle East”, publicado já este ano no Reino Unido.

Nesse sentido, Tazmini lembrou as reuniões de emergência tidas sobretudo no Conselho de Segurança da ONU, cujo secretário-geral, António Guterres, afirmou “de forma inequívoca” que é altura de evitar ações que possam levar a uma escalada de um confronto militar sob múltiplas formas no Médio Oriente.

“Penso que o mundo está a perceber que isto pode resultar em algo enorme e que, claro, ninguém pode dizer: ‘Israel, recue e não faça nada’. Mas penso que o facto de [o chefe da diplomacia britânica] David Cameron ter dito muito claramente que o ataque de Teerão foi uma dupla derrota e que não conseguiu infligir danos a Israel e que é uma influência maligna, pelo que não faz sentido realmente escalar é, de certa forma, dizer a Israel, ‘está tudo bem, isso foi um fracasso para o Irão, não há necessidade de retaliar, não há necessidade de fazer disso uma retaliação, vamos recuar'”, argumentou.

“Acho que essa é a mensagem. Penso que o potencial para que esta situação se transforme em algo de grande alcance, com consequências de longo alcance, serviu de impulso para vozes mais altas e vociferantes nos meios de comunicação social, nas organizações internacionais, e nas declarações feitas por funcionários de que precisamos de nos conter, precisamos de ser prudentes, precisamos de nos afastar da beira da destruição regional que tem implicações globais”, acrescentou.

Para a também licenciada em Relações Interacionais pela Universidade de British Columbia e pela London School of Economics, de Londres, doutorada na mesma temática pela Universidade de Kent, a “tendência terá de passar por um abrandamento da escalada” e tentar levar Israel a diminuir a tensão e a “empacotar tudo” como Cameron defendeu.

“Isto é, encarar tudo como um fracasso. Com é um fracasso, não há necessidade de responder precisamente por ser um fracasso. Acho que este tipo de embalagem do cenário é, de certa forma, uma mensagem para Israel: ‘Israel, vocês não perderam nada, então vamos evitar uma nova escalada, vamos deixar as coisas como estão e concluir esse capítulo’. Acho que esse é o sinal, essa será a trajetória futura”, afirmou.

“É uma situação muito complexa, por isso gostaria de pensar em todos os ângulos”, frisou Tazmini.

Com Lusa

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