"Ativismo acionista". Como um grupo de freiras comprou ações da Smith & Wesson para pôr a fabricante de armas em tribunal

AR-15 da Smith & Wesson (Getty Images)

Um grupo de freiras de quatro congregações católicas norte-americanas interpôs uma ação judicial contra a fabricante de armas Smith & Wesson, após ter comprado ações da empresa, na tentativa de a forçar a travar a produção de espingardas AR-15, “arma de escolha de numerosos homicidas em massa”.

O processo foi interposto num tribunal distrital do Nevada no passado dia 5 de dezembro. Nele, as freiras alegam que a Smith & Wesson tem ignorado repetidos “alertas vermelhos” e falhado em responder de forma apropriada aos tiroteios em massa nos Estados Unidos, invocando alguns dos piores e mais recentes, como o ataque numa sala de cinema de Aurora, no Colorado, em 2012, o tiroteio num liceu de Parkland, na Flórida, em 2018, e um outro numa escola primária de Uvalde, no Texas, em 2022. Ao todo, os três tiroteios provocaram 61 mortos, incluindo dezenas de crianças.

Em comunicado, o CEO e presidente da fabricante de armas acusa as freiras de “não estarem interessadas nos melhores interesses da empresa ou dos seus acionistas”. Mark Smth acrescenta: “Este processo frívolo é só mais um exemplo num longo historial de tentativas de sequestrar e abusar do processo de defesa dos acionistas para danificar a nossa reputação.”

No início do ano, as freiras já tinham patrocinado uma resolução para obrigar a Smith & Wesson a avaliar o impacto das suas práticas empresariais nos direitos humanos, que uma maioria dos acionistas chumbou em setembro. Essa resolução seguiu-se a uma outra apresentada por um grupo de acionistas da mesma empresa, entre eles algumas organizações religiosas, em 2018, para a obrigar a definir como vai abordar os riscos de segurança que os seus produtos representam.

“Falta apoio de outros grupos de investimento”

Citadas pelo New York Times, as freiras defendem no mais recente processo judicial que a fabricante deve alterar as suas práticas de marketing para limitar a atração por estas armas entre os jovens e pessoas que possam inspirar-se na “imagética militarista” das campanhas, nas quais a Smith & Wesson publicita o recurso aos seus produtos “contra supostos inimigos”.

“Apelamos à Smith & Wesson que regresse às práticas que marcaram os seus primeiros 153 anos de existência, quando [a empresa] se apresentava como farol da posse responsável de armas e não produzia, comercializava nem vendia armas de assalto de grau militar que provocam mortos em massa”, dizem as freiras em comunicado.

Fundada em 1852 e uma das maiores fabricantes mundiais de pistolas, revólveres e outras armas de fogo, só em 2006 é que a Smith & Wesson começou a produzir a sua primeira série de espingardas semiautomáticas, o que levou a um aumento de lucros tal que a empresa se tornou “aparentemente imperturbável face ao aumento exponencial de mortes por armas de fogo e de tiroteios em massa executados com os seus produtos”, acrescentam as freiras.

O tipo de espingardas AR “não tem qualquer outro propósito que não o de homicídios em massa”, lê-se ainda no comunicado. “Não são espingardas desportivas que os elementos das nossas próprias famílias e outras pessoas responsáveis na posse de armas valorizem.”

Ao Washington Post, um dos advogados do grupo de freiras diz que as suas clientes são “ativistas investidoras”, ou seja, pessoas que compram ações em empresas para atingirem determinado objetivo dentro das companhias.

“Estamos orgulhosos de ser parceiros destas congregações de irmãs católicas que há muito buscam responsabilizar empresas através deste ativismo acionista”, refere Jeffrey Norton.

Entrevistada pelo New York Times, Jennifer Wu, da Escola de Gestão da Universidade de Buffalo, diz que as cerca de mil ações compradas pelas freiras representa uma “muito pequena” quantidade do total de 46 milhões de ações que a Smith & Wesson tem em circulação. “Para que este ativismo acionista realmente funcione, este grupo de freiras precisa de obter o apoio de outros grupos de investimento.”

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