Sem a vitória da Ucrânia não há segurança europeia

A vitória da Ucrânia na guerra desencadeada pela Rússia no coração da Europa é extremamente necessária não só para a nossa sobrevivência, mas também para a segurança e o desenvolvimento da Europa. As apostas são demasiado altas para recuar

sem a vitória da ucrânia não há segurança europeia

Sem a vitória da Ucrânia não há segurança europeia

2023 foi um ano extremamente difícil para a Ucrânia. Estamos a aproximar-nos de outra data trágica – dois anos desde o início da guerra genocida, injustificada e em grande escala da Rússia contra o meu país. Na Ucrânia, muitos especialistas caracterizaram este período difícil com as palavras de Winston Churchill no seu famoso discurso proferido em 1940 – sangue, trabalho duro, lágrimas e suor (“blood, toil, tears and sweat”).

Na minha opinião, a única conclusão incontestável que se pode tirar destes dois anos de guerra é que agora não é altura de desistir. E para tal, há pelo menos três argumentos.

Em primeiro lugar, apesar de tudo, a Ucrânia já não perdeu esta guerra. Em vez das duas semanas que alguns especialistas militares nos deram no início da guerra, os soldados e cidadãos ucranianos resistem há quase 2 anos. O exército ucraniano fortaleceu-se tremendamente – atualmente existem cerca de 700.000 ucranianos nas forças armadas, três vezes mais do que em 2014-2021. Um fator interessante é o papel das mulheres, que tem sido tradicionalmente muito importante na sociedade ucraniana. Em outubro de 2023, cerca de 60.000 mulheres serviam no exército.

O exército ucraniano dominou e utilizou com sucesso e criatividade o equipamento militar ocidental em batalhas. 50% do território ocupado pela Federação Russa após fevereiro de 2022 já foi libertado, em particular Kherson – o único centro regional capturado após o início da invasão em grande escala, e uma grande parte da região de Kharkiv. Até ao final de 2023, o exército ucraniano não permitiu que a Rússia implementasse o seu objetivo principal – ocupar na totalidade as regiões administrativas de Donetsk e Luhansk.

E sobre o sucesso das ações do exército ucraniano, em como conseguiram acabar com o domínio da Federação Russa no Mar Negro, um dia serão filmados blockbusters: durante esse período, 23 navios de guerra russos, um submarino, o Quartel General e o quartel de reserva da Frota do Mar Negro da Federação Russa foram destruídos na Crimeia. A própria frota já não se sente segura na parte ocidental do Mar Negro e foi forçada a abandonar a sua base principal em Sebastopol. Como disse o Ministro de Estado das Forças Armadas do Reino Unido, Sr. James Heappey, em outubro do ano passado, tal situação pode ser definida como uma “derrota funcional” das forças navais russas no Mar Negro.

Os soldados ucranianos continuaram a “esmagar” o exército russo, onde a vida de um soldado não vale nada. Atualmente, as perdas russas na Ucrânia ascendem a centenas de milhares de mortos e feridos. Desde o início da invasão em grande escala, mais de 6000 tanques russos foram destruídos, o que representa cerca de metade do seu número total, de acordo com os dados de “Global fire power” para 2023. No ano passado, as forças de defesa antiaérea ucraniana destruíram 3800 alvos aéreos russos, incluindo todos os tipos de mísseis e drones.

Claro que tudo isto é pago com o sangue e o suor dos militares ucranianos e o sofrimento e vidas da população civil da Ucrânia. Estamos sinceramente gratos aos nossos parceiros internacionais pela ajuda militar, mas não nos cansamos de repetir – a sua qualidade, volume e rapidez de fornecimento têm um impacto direto na duração e nos resultados da guerra. Infelizmente, a guerra não se transformou numa corrida de velocidade. Esta é uma maratona e a questão da criação de um complexo industrial de defesa europeu único, tendo a indústria de defesa ucraniana como parte integrante, é mais do que atual.

A Rússia está a mudar ativamente a sua economia dirigindo-a para os seus objetivos militares e o aumento da produção de armas. O exemplo mais recente foi a descoberta de que, durante o bombardeamento sem precedentes de 2 de janeiro deste ano de cidades ucranianas, as tropas russas usaram mísseis X-101, produzidos no quarto trimestre de 2023. A produção de tais mísseis não é possível sem componentes de produção estrangeira. Por conseguinte, a questão do combate à evasão das sanções russas e do seu reforço também deve continuar a estar no centro da nossa atenção.

Em segundo lugar, se a Rússia não for derrotada na Ucrânia, a guerra atravessará sem dúvida as fronteiras da União Europeia e da NATO. Quando a liderança russa define o Ocidente como o principal inimigo, ameaça abertamente a Finlândia e não só – quando propagandistas russos, a favor do seu governo, cobiçam Lisboa e sonham em criar a “República Popular de Lisboa”, isto deve ser levado tão a sério quanto possível. Todos nos lembramos de como a maioria dos países europeus não acreditava na realidade de uma invasão russa em grande escala da Ucrânia, enfatizando a ilogicidade e a irracionalidade deste passo. Mas a Rússia não funciona de forma lógica.

Tendo lançado uma invasão em grande escala da Ucrânia e fracassado no blitzkrieg, o regime russo ultrapassou o ponto sem retorno nas suas relações com o Ocidente. A isto juntaram-se os atos genocidas contra a população civil, numerosos crimes documentados contra a humanidade e os direitos humanos, a deportação forçada em massa de crianças ucranianas, que levou à emissão de um mandado de detenção para Putin e Maria Lvova-Belova pelo Tribunal de Haia. Tornou-se óbvio que a liderança russa irá até ao fim para alcançar o seu objetivo principal, que considera uma missão: “restauração da chamada justiça histórica através da devolução de todas as terras que outrora pertenceram ao império russo”, de modo a realizar uma redistribuição global pelo menos da Europa e, no máximo, do mundo, com a divisão de esferas de influência e fundamentando o papel principal da Rússia na arena internacional.

Assim, se a Federação Russa não sofrer agora uma derrota decisiva na Ucrânia, irá certamente mais longe e testará a segurança europeia e o Artigo 5 do Tratado de Washington da NATO – por meios militares e híbridos. E então, nem a Europa Oriental nem os países bálticos, nem a Escandinávia, nem a Europa Central se sentirão seguros. Toda a história da humanidade e a nova e recente história da Europa provam que as tentativas de apaziguar o agressor falharam sempre e conduziram a guerras de maior escala e com um número ainda maior de vítimas.

Terceiro, o destino da futura ordem mundial está atualmente a ser decidido nos campos de batalha da Ucrânia. E tal não é um exagero. Muito já foi dito sobre o facto de a agressão da Federação Russa contra a Ucrânia se ter tornado uma violação brutal do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas. Um fator complicador é o facto de que, num certo momento, a Ucrânia desistiu do terceiro maior arsenal nuclear do mundo sob garantias de segurança e respeito pela sua integridade territorial e soberania da Federação Russa e de outros países que assinaram o famoso memorando de Budapeste. Se isto permanecer sem uma reação adequada e o agressor não for punido, o único documento ao qual aderiram todos os países do mundo, independentemente do seu sistema político, tornar-se-á num simples pedaço de papel.

A vida num mundo sem regras assemelhar-se-á ao caos, onde a simples sobrevivência será possível e o desenvolvimento e o bem-estar serão esquecidos. A agressão impune desencadeará uma série de acontecimentos semelhantes em diferentes partes do mundo. A política de não proliferação nuclear sofrerá danos irreparáveis.

Assim, a única solução preferível para a Ucrânia e os seus parceiros é concentrarem-se, consolidarem esforços e vencer! E o tempo desempenha aqui um papel decisivo. Como disse Winston Churchill no final do discurso que já mencionei: “Vocês perguntam: Qual é o nosso objetivo? Posso responder numa única palavra: vitória! Vitória a todo o custo, vitória apesar de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que o caminho possa ser, pois sem vitória não há sobrevivência.”

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