Francisco Conceição dribla o susto e coloca o FC Porto no Jamor

O Vitória SC até marcou no minuto inaugural, mas uma grande exibição do extremo canhoto levou à reviravolta (3-1) dos dragões, que estão na final da Taça de Portugal pela quinta vez nas últimas seis épocas

Francisco Conceição dribla o susto e coloca o FC Porto no Jamor

Lá estava ela. A instabilidade, a intranquilidade, o medo. Pelo terceiro jogo seguido no Estádio do Dragão, o FC Porto entrou a perder, e desta vez bastaram 60 segundos para tal suceder. Um minuto, três toques do Vitória na área azul e branca, 1-0.

Esfumava-se ali a vantagem trazida de Guimarães. Voltavam ali as dúvidas, o desconforto, o nariz torcido perante uma equipa que vinha de três jornadas seguidas sem vencer na I Liga. Só que, desta vez, um especialista na finta, um canhoto de número 10 na camisola e agilidade nas pernas, carregou o coletivo rumo à reviravolta.

Antes que o caos dos tempos recentes se apoderasse do FC Porto, Francisco Conceição tomou conta da segunda mão da meia-final da Taça de Portugal. Ganhou um penálti para o 1-1, apontou o 2-1, dançou e ultrapassou adversários para superar a brava oposição vimaranense, que só içou a bandeira branca quando Pepê fez o 3-1 aos 75’.

Na era Sérgio Conceição, os dragões não sabem o que é terminar uma época em branco. Há 12 meses, o FC Porto era detentor dos quatro troféus nacionais, um póquer de glória que incluía a posse simultânea de I Liga, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça. Uma volta ao sol passada, a Supertaça foi perdida para o Benfica, a Taça da Liga naufragou no Estoril, o campeonato já não é matematicamente possível.

Resta o Jamor, onde o adversário será o Sporting na competição preferida do passado recente dos azuis e branco: o FC Porto está na final da Taça pela quinta vez nas últimas seis épocas, buscando o terceiro triunfo seguido. Vai em 20 jogos seguidos a ganhar na competição.

Sem Jorge Sánchez, Iván Jaime ou Toni Martínez, os tais que precisam de dar “algo mais” além de terem contrato com o FC Porto, o encontro que poderia fazer do fim de época dos vice-campeões nacionais um triste trajeto sem objetivos pelos quais lutar arrancou em modo susto. Antes do relógio ter andado 60 segundos, o Vitória ganhou um lançamento à direita, para onde foi Jota Silva fazer uso da sua força de braços.

A bola foi bombeada para a área, onde houve três duelos entre jogadores dos locais e dos visitantes. Os três foram ganhos pelos forasteiros, com Jorge Fernandes a pentear a bola, Nélson Oliveira a desviá-la levemente e Afonso Freitas, em cima da linha de golo, a aproximar os minhotos do Jamor.

Os fantasmas estavam todos ali. Nos últimos 10 dias, o FC Porto perdeu em casa contra este mesmo adversário e, depois, empatou contra o Famalicão. Nos primeiros 20 minutos, não criou nenhuma ocasião de golo e houve um cheirinho àquela instabilidade. Mas alguém decidiu começar a voar entre o centro e a direita.

Aos 26′, Francisco Conceição, supersónico, entrou na área, onde Charles cometeu penálti sobre o extremo. Taremi assinou o 1-1.

A dado momento do primeiro tempo, o desafio era um bailado de Chico contra o sonho do Vitória, uma sucessão de fintas, dribles, do esgueirar entre pernas alheias. Aos 37′, todas as dimensões de Conceição estiveram num mesmo lance: fintou, depois recuperou a bola, depois foi pressionar o adversário para ganhar um lançamento.

Empurrado pelo seu mais virtuoso jogador, o FC Porto carregou. Pepe forçou Charles a grande intervenção, antes de novo desequilíbrio de Francisco. Pegou na bola, deu para João Mário, o lateral que mais claramente o entende deu para ele, remate com êxito. 2-1 e o Vitória a precisar de dois golos na segunda parte para forçar o prolongamento.

Para tentar escalar o Evereste, Álvaro Pacheco lançou, depois do intervalo, Maga e Kaio César, saindo Afonso Freitas e Nélson Oliveira. O antigo projeto de ponta-de-lança da seleção nacional despediu-se da noite falhando uma ocasião clara em cima do descanso.

Com a ginga de Kaio César, os visitantes melhoraram. Tiago Silva ameaçou o golo e, com a versão mais ofensivamente fluida da sua equipa, os apaixonados adeptos do Vitória animaram-se. Cantaram, apoiaram, não mais deixaram os seus até ao fecho da eliminatória, em nova prova da grandeza do clube de Guimarães.

No entanto, o arriscar visitante deu espaço para que o FC Porto selasse a ida ao Jamor. Aos 66′, Galeno, com imenso espaço, não conseguiu dar em Francisco Conceição para uma finalização de golo quase certo. O equívoco deixou o internacional brasileiro de rastos, indo mesmo às lágrimas quando, minutos depois, foi substituído.

Nas mil e uma fintas que cabem nas noites de Francisco Conceição, aos 67′ o canhoto tirou Kaio e Manu Silva da frente de uma assentada. No entanto, Pepê não conseguiu marcar. Pouco depois, aos 75′, o polivalente apontaria mesmo o definitivo 3-1.

O Vitória caiu de pé, atacando. Bruno Gaspar e André André estiveram quase a reduzir, mas a noite era do FC Porto, uma rara alegria no meio da instabilidade recente. Francisco Conceição dissipou as dúvidas e eis os dragões, novamente, no Jamor. O Estádio Nacional será o local onde uma temporada de tristezas poderá terminar em alegria.