Tânger Corrêa, cabeça de lista pelo Chega às eleições europeias de junho, não chegará a ser um problema para os eleitores do Chega, de acordo com André Azevedo Alves: “A política externa tende a pesar muito pouco”. Mas as suas considerações pró-Rússia e o alinhamento do partido no grupo mais favorável ao Kremlin escondem, segundo o politólogo, a intenção que André Ventura tem de unir toda a direita europeia e de fazer-se equivaler a Orbán como grande patrono de uma aliança conservadora
Europeias: as posições pró-russas do cabeça de lista do Chega são um embaraço para Ventura? “Pode ser uma fonte de desconforto”
Quando, ao despedir-se em Bruxelas de altos representantes europeus, António Costa afastou a direita radical portuguesa do euroceticismo, referia-se a André Ventura, mais do que ao partido que lidera como figura absolutamente dominante. “Ao contrário de outros partidos de extrema-direita na Europa, o Chega nunca fez campanha contra a UE”, apontou Costa, mencionando ainda a concordância, desde a primeira hora, que o Chega mostrou em relação ao apoio prestado pelos 27 à Ucrânia. Não o fez pensando em António Tânger Corrêa, o cabeça de lista apontado pelo Chega às europeias, e que foi revelado por Ventura na segunda-feira.
Foram conhecidas as posições críticas de Kiev que o antigo cônsul-geral de Portugal em Goa e no Rio de Janeiro e embaixador português em vários países partilhou nas redes sociais (e que já não se encontram disponíveis). Numa das ocasiões, falou nas “muitas decisões erradas de Kiev” e num “‘cerco’ da Rússia ao Ocidente”. O também vice-presidente do Chega – que, contactado pelo Expresso, remeteu esclarecimentos para mais tarde, destacando que “é preciso completar todo o programa” – foi ainda mais longe, admitindo: “Também não compreendo o coro de lamentações que se ergue da parte daqueles que não se indignaram quando os Estados Unidos e seus aliados e a NATO atacaram, invadiram e ocuparam, sob falsos pretextos, territórios a milhares de quilómetros de distância, como foi o caso da Jugoslávia, do Afeganistão, do Iraque e da Líbia, para só referir os mais recentes.”
Apropriando-se de frases alheias, também chega a apontar o dedo ao chefe de Estado ucraniano: “O Governo do Presidente Zelensky (e dos seus acompanhantes) ignorou voluntariamente a conjuntura do país, optando por um alinhamento com Washington e apoiando-se em elementos oriundos de forças estranhas, incluindo confessados nazis, como os membros do Batalhão de Azov.” Nos seus textos, foram ainda feitas referências a oito anos de “provocações e agressões a cidadãos considerados pró-russos, sem qualquer reação do Governo central”.
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