Chega sente-se "humilhado" pelo PSD mas ainda não desistiu de entendimentos à direita. A partir de agora, vai ser "um jogo de dissimulação"

André Ventura (Lusa/FILIPE AMORIM)

Ainda o primeiro dia da nova legislatura não tinha chegado ao fim e o Chega, o terceiro partido mais votado nas eleições de 10 de março, dizia-se “humilhado”, sentimento que haveria de repetir publicamente nas horas seguintes: primeiro porque havia um acordo com a AD e deixou de haver, depois por causa de um acordo entre PSD e PS para a eleição de Aguiar-Branco para a presidência da Assembleia da República.

“Tantas vezes avisámos que a maioria governativa atual não era suficiente para viabilizar o que quer que fosse”, lamenta a deputada do Chega Rita Matias em declarações à CNN Portugal, defendendo que a situação “mina a confiança nas instituições”. “Com isto não ganha o Chega, nem o PSD, nem o PS.”

A jovem parlamentar acusa Luís Montenegro de tratar o Chega “com arrogância” e como um partido que “só serve para conversas de corredor e chamadas telefónicas pela calada da noite” – refere-se ao apoio do PSD que André Ventura alega ter-lhe sido prometido nestas eleições para a AR e posteriormente desmentido publicamente. “Parece que reconhece que há partidos de primeira, segunda e terceira. Não percebo a vergonha que Montenegro demonstra em falar connosco, tendo em conta a sua posição de fragilidade”, continua. “Ainda por cima não temos o cadastro do PS no que toca à incompetência da governação”, assinala.

“A escolha ficou feita”, diz, mas ainda não é impossível “apostar numa reforma à direita”. Rita Matias acredita que até à votação do Orçamento do Estado haverá “um período de maior reflexão para o líder do PSD” e que este “ainda vai a tempo de se reconciliar com os portugueses”.

Mas até lá, qual vai será o posicionamento do Chega? “A postura do partido tem sido a mesma de 2021 e temos pedido consenso desde então”, defende a deputada. Garante que, até ao período orçamental, a postura vai ser “dialogar” e votar ao lado das propostas que apresentem as bandeiras defendidas, mas pede “clareza, objetividade e portas abertas a linhas de convergência”.

O presidente do grupo parlamentar do Chega Pedro Pinto concorda que o PSD terá outra hipótese de negociar com o Chega, a menos que se junte novamente ao PS no que concerne ao Orçamento. Uma coisa, para si, é certa: “Não falamos nem com PS, nem com o PCP, nem com o Livre, tudo o que venha da esquerda ou da extrema-esquerda não contem com isso.”

No que diz respeito às futuras propostas da Aliança Democrática, assegura que o partido vai votar “em propostas válidas e boas para os portugueses”, desde que não tenham os socialistas na equação.

Segundo o deputado, o Chega percebeu duas coisas nestes primeiros dias da nova legislatura: “É o único líder da oposição” e “o PSD vai estar aliado ao PS e a Pedro Nuno Santos”. Apesar de considerar a divisão da presidência da AR “uma decisão válida”, lança a dúvida: “Vamos ver o que acontece no futuro.”

Para o politólogo José Filipe Pinto, a estratégia do partido de André Ventura a partir de agora vai assentar numa mistura entre “a visão populista cultural ou identitária e a visão antissistema”, de acordo com os resultados da governação. Ou seja, sempre que o Chega entender que os grupos aos quais se apresenta como sendo lídimo representante não estão a ser acautelados, “vai tomar uma posição antissistema”, com um discurso bastante crítico e dirigido à responsabilização do partido que está no Governo, bem como do principal partido da oposição.

Mas se nada disso se verificar, “não tem conjuntura favorável para as suas bandeiras” e, desta forma, adaptará o discurso “na expectativa de ver como é que os partidos mainstream reagem”, como quando indicou Diogo Pacheco de Amorim para a vice-presidência da Assembleia da República.

“Há quem diga que é um partido de confusão e caos, mas é um partido que, em nome da responsabilização das instituições, ataca a credibilidade das mesmas, alimentando-se da sua quebra de confiança”, explica José Filipe Pinto, para quem um discurso apaziguador e de respeito “está fora de questão”.

“O imprevisto está sempre à espera de uma oportunidade e o Chega vai procurar cavalgar a onda da insatisfação sem hipotecar o seu eleitorado”, antecipa o politólogo. Em suma, será “um jogo de dissimulação”, diz. “Vai articular as suas palavras de forma a que os eleitores não o responsabilizem por algo que possa correr mal, mas vai ficar muito atento a tudo o que na vida política não corra bem.”

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