A idade é um número que importa no ‘novo’ vinho com 123 anos, da Wine Million e Dirk Niepoort, escreve Catarina Nunes na crónica ‘Sem Preço
O Verídico esteve a envelhecer em barrica de carvalho desde 1900
A idade é um número que importa. Pelo menos quando o que está em causa é um millennial de 29 anos que, quando atinge a maioridade, recebe do pai uma barrica de vinho de colheita tardia, que estava a envelhecer desde o ano 1900. 123 anos depois, o resultado é o Very Very Old Tawny Port Verídico 1900, em que o ser ‘muito, muito velho’ importa muito e conta a sua própria história.
Custódio Dias comprou para oferecer ao filho José a barrica que dá origem ao Verídico
Envelhecido durante mais de um século, em barricas de madeira de carvalho nas caves de Vila Nova de Gaia, o vinho que dá origem ao Verídico aguardou pelo momento certo para o engarrafamento. É pelas mãos de José Dias, ‘herdeiro’ da barrica de 1900, e em parceria com Dirk Niepoort, que o legado de Custódio Dias para o filho se materializa, numa edição limitada de 150 garrafas em cristal Vista Alegre, direcionada para o mercado nacional. Este é o primeiro momento de uma trilogia que quer valorizar a singularidade do vinho do Porto, que inclui mais vinhos feitos a partir de outras duas barricas oferecidas a José Dias pelo pai.
Será lançado um segundo vinho com o foco no mercado brasileiro (Vislumbre), no primeiro semestre de 2024, e um terceiro dirigido ao mercado global, no final de 2024, numa sequência em que a história é contada a partir do fim. Ou seja, o último vinho a lançar simboliza o sonho inicial, que se começa a ver no penúltimo vinho (Vislumbre) e que se revela real e materializado no Verídico. Estes projetos enquadram-se na Wine Million, empresa fundada e liderada por José Dias, que se dedica ao desenvolvimento de produtos e marcas de bebidas alcoólicas para o segmento de luxo, dirigidos a colecionadores e aficionados por produtos raros e exclusivos.
Exclusiva é também a forma como o Verídico se apresenta. Apesar de haver 150 garrafas produzidas vão chegar ao público final cerca de 20, distribuídas por poucas garrafeiras, de norte a sul, e restaurantes, incluindo um restaurante Michelin em Espanha. A esmagadora maioria será vendida através do The WM Club, a ser lançado em 2024. Este clube privado, com uma componente de networking entre pessoas de várias áreas, agrega apreciadores dos prazeres da mesa e de experiências únicas. E disponíveis para pagar €5.900 por um vinho do Porto, como o Verídico. A ideia é ter um formato pop-up, com eventos em adegas, hotéis ou palácios, por exemplo, em qualquer parte do mundo, onde os futuros vinhos da Wine Million possam a vir ser desenvolvidos com parceiros locais (à semelhança do que fez com Dirk Niepoort) e vendidos aos membros do clube.
Dirk Niepoort refinou o vinho da barrica de José Dias
O momento certo, no vinho como na vida, significa não só ter as pessoas certas como o tempo perfeito. José Dias, CEO da Wine Million, refere que o Verídico está num ótimo momento para ser bebido. Nos próximos 20 anos ainda vai melhorar mais, o que sustenta o ditado popular sobre envelhecer como o vinho do Porto. Não o experimentei, mas as notas de prova indicam tratar-se de um “Porto sedutor, concentrado e delicado, elegante e harmonioso, intensamente rico e fresco, com cor e corpo, ao nível dos mais afamados Vinhos do Porto da história do Douro”. Com a classificação máxima “Very Very Old Tawny”, o Verídico faz jus ao seu passado e projeta-o para o propósito de José Dias.
Com a classificação máxima “Very, Very Old Twany”, o Verídico quer contribuir para a valorização do vinho do Porto
Tal como a idade, a origem também importa. Um vinho fortificado só pode ser denominado vinho do Porto se tiver sido produzido na região demarcada do Douro, o que o torna um produto único, impossível de fazer em qualquer outra localização. É precisamente pelo caráter de raridade que José Dias quer afirmar o Verídico, valorizando aquilo que é nacional como motivo de orgulho para os portugueses. É uma luta que assume também como uma responsabilidade da sua geração e sua, enquanto depositário do legado do pai e de parte da história do vinho do Porto. Ter a Wine Million a contribuir para a construção do nome do país é o sonho, que começou pelo fim. E é Verídico.
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