Ataques de mísseis, drones de combate, camuflagem noturna: Kiev alerta que Rússia pode dominar as defesas aéreas

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Tropas de defesa aérea ucranianas realizam exercícios com um canhão antiaéreo de fabrico soviético nos arredores de Kiev (Joseph Ataman/CNN)

Nos céus cheios de neve da Ucrânia, decorre um jogo mortal. A Rússia começou o novo ano com uma ofensiva de ataques aéreos, incluindo a noite com mais ataques com mísseis desde o início da guerra, enquanto a Ucrânia luta para fazer frente a uma ameaça em evolução com o fornecimento limitado de sistemas de defesa ocidentais.

Os ataques russos de janeiro utilizaram toda a extensão do arsenal aéreo: mísseis de cruzeiro, mísseis balísticos a partir da fronteira russo-ucraniana, mísseis hipersónicos e drones mais lentos, por vezes utilizados todos para atingir o mesmo alvo, segundo revelou o conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak à CNN em Kiev.

Os analistas internacionais afirmam que o ataque dos mísseis russos, armazenados durante meses, tem como objetivo sobrecarregar a limitada defesa antimíssil da Ucrânia.

Uma abordagem que tem tido algum sucesso. De acordo com as autoridades ucranianas, a Ucrânia só conseguiu abater 18 dos 51 mísseis disparados contra o país a 8 de janeiro.

Mas novas táticas também entraram em ação.

Algumas mudanças são simples: a Rússia começou a pintar de preto os drones de fabrico iraniano, camuflando-os no céu noturno.

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Bombeiros ucranianos tentam apagar incêndio após um ataque de míssil em Kiev, a 2 de janeiro (Genya Savilov/AFP/Getty Images)

Outras são mais sofisticadas: os russos alteraram os tubos de escape dos motores de alguns drones, passando-os de trás para a frente, numa tentativa de confundir as tropas antiaéreas que utilizam miras de visão térmica, segundo revelaram à CNN membros de uma unidade ucraniana.

Os meios de comunicação ucranianos noticiaram que os drones de combate a jato estão a substituir os modelos russos, mais lentos, movidos a hélice, e as autoridades reconheceram que esta é uma ameaça que está no seu radar.

Em declarações à televisão nacional, o porta-voz do comando da força aérea ucraniana, Yurii Ihnat, revelou que uma versão a jato dos drones iranianos Shahed, preferidos por Moscovo, funcionaria “como um mini-míssil de cruzeiro”.

Segundo a mesma fonte, é provável que estes drones tenham uma carga útil mais pequena, mas velocidades de cruzeiro muito mais rápidas, talvez mais de 500 quilómetros por hora, o que os torna mais difíceis de abater. As autoridades ucranianas ainda não confirmaram se estes drones foram usados na Ucrânia.

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Tropas de defesa aérea ucranianas realizam exercícios com um canhão antiaéreo de fabrico soviético nos arredores de Kiev (Joseph Ataman/CNN)

Cada abate é uma vitória

Num campo gelado nos arredores de Kiev, os soldados realizaram exercícios com um camião de defesa aérea móvel, pronto a disparar minutos depois de parar.

A metralhadora pesada de fabrico soviética não é sofisticada, mas associada a uma mira de visão térmica e a um tablet que mostra a imagem dessa mira – dois séculos de tecnologia a colidir num camião de caixa aberta -, pode ser eficaz contra drones, como explicou à CNN o comandante do esquadrão, o sargento-mor Vitaliy Yasinsky, da Brigada Presidencial Separada da Ucrânia.

“Costumavam voar numa trajetória única, mas agora voam em ziguezague. Um drone pode voar, depois circular, pairar, descer completamente, depois subir cerca de meio quilómetro e depois descer bruscamente. Agora são muito manobráveis e têm de ser vistos e destruídos”, afirmou Yasinsky sobre os Shaheds iranianos.

Em noites nubladas, as tropas de defesa podem ser obrigadas a usar mais os ouvidos do que os olhos para fazer pontaria, à escuta do ruído do motor do Shahed.

Mas é com unidades pequenas e móveis como a de Yasinsky que a Ucrânia está a contar para proteger os civis e as principais infraestruturas, especialmente dos drones que voam lentamente.

Instaladas numa rede de sistemas avançados de defesa antimíssil ocidentais, como o Patriot americano ou as baterias IRIS-T alemãs – mais adequadas para lidar com os mísseis russos mais rápidos -, estas pequenas equipas fornecem músculos mais baratos e em maior quantidade para a defesa dos céus da Ucrânia.

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“Smeta”, um soldado de uma unidade móvel de defesa aérea que vigia os acessos a Kiev, pratica com uma unidade de treino do sistema de mísseis Stinger de fabrico americano. Alguns dos mísseis portáteis americanos utilizados pelas unidades móveis de defesa aérea foram fabricados na década de 1980, anos antes de alguns dos soldados terem nascido (Joseph Ataman/CNN)

As tropas de defesa aérea ucranianas disseram à CNN que tinham desempacotado caixas de mísseis antiaéreos Stinger, doados pelo Ocidente – que datavam da guerra dos mujahidins afegãos contra os soviéticos no Afeganistão – décadas mais velhos do que alguns dos soldados.

Mas estes continuam gratos pelas armas.

Em vídeos das unidades de defesa aérea ucranianas a abater drones ou mísseis, a alegria nas vozes dos soldados é quase infantil.

É provável que cada disparo salve vidas ou infraestruturas ucranianas e ajude a reduzir os recursos da Rússia.

Em janeiro, as autoridades norte-americanas revelaram que a Rússia utilizou mísseis balísticos norte-coreanos em ataques a cidades ucranianas, o que constitui provavelmente um sinal da pressão exercida sobre as reservas de Moscovo e a produção interna de armamento de longo alcance.

As autoridades ucranianas ainda estão a analisar os destroços dos últimos ataques para perceber a origem dos mísseis.

Defesas esticadas até ao limite

A última série de ataques russos foi “muito bem planeada”, revelou à CNN Oleksiy Melnyk, codiretor dos programas de segurança internacional do Centro de Reflexão Razumkov, com sede em Kiev.

Os ataques mortais foram precedidos por ofensivas de drones e mísseis individuais ao longo de diferentes rotas, peões sacrificados para mapear as defesas ucranianas e os pontos fracos.

“São as instalações da indústria de defesa que estão a ser visadas agora. E, embora não seja oficialmente admitido, uma parte substancial destes mísseis atingiu os seus alvos”, afirmou, referindo também que a eficácia de cada míssil intercetor disparado contra os projéteis russos é elevada.

A defesa aérea ucraniana está a trabalhar “no limite da sua capacidade”, segundo Melnyk, atingindo frequentemente mais de 70% dos seus alvos e, por vezes, a sua totalidade.

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Carros destruídos no exterior de um centro comercial atingido por um ataque maciço de mísseis e drones russos em Dnipro, Ucrânia, a 29 de dezembro de 2023 (Ukrinform/NurPhoto/Getty Images)

Para travar mais mísseis seriam necessárias mais baterias de mísseis interceptores, o que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse na quarta-feira que o país “tem muita falta”. Segundo ele, atualmente a Ucrânia não tem capacidade para produzir sistemas de defesa aérea modernos com os seus aliados.

Mas para travar a onda de fogo russo, a Ucrânia precisa de atingir as tropas de Moscovo do outro lado da fronteira – um desafio difícil, dado o acesso limitado de Kiev a mísseis de longo alcance ou a sistemas de artilharia próprios.

“A Rússia está a retirar as suas lições”, afirmou Melnyk, ao enviar mísseis para locais onde sabia que não poderiam ser intercetados.

Mortes de civis

Podolyak, o conselheiro presidencial ucraniano, disse à CNN que acreditava que os ataques aéreos russos tinham passado a ter uma “componente genocida” em comparação com o inverno passado. Na sua opinião, as vítimas civis são agora uma prioridade nos ataques russos às grandes cidades. A Rússia tem negado repetidamente que o objetivo seja atingir civis.

As imagens dos passageiros de Kiev amontoados no metropolitano da cidade durante os ataques aéreos do início de janeiro evocaram memórias dolorosas do ataque aéreo da Rússia no inverno passado.

Um pequeno número de ucranianos morreu nos ataques de janeiro, mas o país ainda está a sofrer com as 33 vítimas mortais em Kiev a 29 de dezembro, nos ataques que destruíram cem casas e 45 arranha-céus, de acordo com o presidente da Ucrânia.

Em resposta, Zelensky declarou que iria “trazer a guerra” de volta para a Rússia.

Apesar da alegria de poder neutralizar os ataques russos no ar quando os camaradas conseguem atingir o alvo, “Smeta”, um soldado de uma unidade de defesa aérea nos arredores de Kiev, continua a sentir a dor de cada míssil que não consegue fazer cair à terra.

“O mais doloroso é que estão a atingir civis, casas, jardins de infância”, contou à CNN. “Isto não está em linha com os costumes de guerra e não está em linha com a moralidade humana. É imoral”.

Victoria Butenko contribuiu para esta reportagem.

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