Amy e Ano descobriram que eram gémeas por causa de vídeo no Tik Tok

Entre 1950 e 2005, pelo menos 100.000 bebés terão sido roubados das maternidades da Geórgia e vendidos para adoção. Amy e Ano conseguiram encontrar-se, mas há milhares de famílias ainda à procura dos filhos ou dos pais.

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Amy e Ano descobriram que eram gémeas por causa de vídeo no Tik Tok

Amy Khvitia ainda se lembra do dia em que viu uma criança exatamente igual a ela na televisão. Anos mais tarde, Ano Startania recebeu um vídeo no Tik Tok onde surgia Amy e acho “cool” que fossem tão parecida com ela. Na verdade, Amy e Ano são irmãs gémeas e fazem parte dos milhares de bebés que, durante décadas, foram roubados das maternidades da e vendidos para adoção.

A televisão estava da dar mais um episódio do programa de talentos Georgia’s Got Talent e Amy, com apenas 12 anos, ficou incrédula ao ver uma criança exatamente igual a ela a dançar na televisão. “Toda a gente chamou a minha mãe e perguntou: ‘por que está a Amy a dançar com outro nome?’”, conta a jovem à BBC. A mãe desvalorizou a questão e disse tratar-se de uma “sósia”.

Em 2021, um amigo de Ano enviou-lhe um vídeo de Tik Tok onde surgia uma rapariga exatamente igual a ela. No ecrã do telemóvel viu uma jovem, com 19 anos, de cabelo azul, a fazer um piercing na sobrancelha. Ano decidiu procurar aquela rapariga e, através de um grupo de WhatsApp, conseguiu conectar-se com Amy pelo Facebook.

Começaram a falar e, à medida que a conversa avançava, as duas jovens descobriram imensas semelhanças: ambas nasceram na maternidade de Kirtskhi, no oeste da Geórgia, em 2002, tinham muitas semelhanças físicas, gostos iguais e até a mesma doença genética – uma condição óssea chamada displasia.

No entanto, o dia de anos que surgia nas certidões de nascimento não era igual, tinha uma diferença de algumas semanas. Por essa razão não seria possível serem irmãs, muito menos gémeas. Amy e Ano decidiram marcar um encontro na estação de metro de Rustaveli, na cidade de Tbilissi, para se conhecerem.

“Foi como se me olhasse ao espelho, exatamente a mesma cara, exatamente e mesma voz. Eu sou ela e ela eu”, disse Amy, citada pela BBC . Ano, que diz “não gostar de abraços”, não resistiu a abraçar Amy naquele momento.

As duas jovens decidiram confrontar as respetivas famílias e descobriram que tinham sido adotadas em bebé, com algumas semanas de diferença. Tanto a família de Amy como a de Ano contaram uma história semelhante: depois de saberem que não podiam ter filhos, descobriram que podiam adotar um bebé que ninguém queria através do hospital local. Tinham de pagar um valor aos médicos, mas não sabiam que era ilegal.

Amy e Ano decidiram procurar a mãe biológica e conhecer as suas origens. Amy estava mais curiosas, Ano mais receosa sobre a pessoa que as “poderia ter vendido”. Souberam, através de um grupo de Facebook, que a mãe, Aza, vivia na Alemanha e tinha uma filha. As gémeas marcaram a viagem para conhecer Aza.

O encontro foi emocionante ficou marcado por um longo abraço e uma conversa entre as três. Amy e Ano partilharam com a BBC que Aza explicou o que se passou na altura. A mãe biológica esteve em coma depois do parto e, quando acordou, os médicos e enfermeiros lhe disseram que as bebés tinham morrido.

Pelo menos 100.000 bebés terão sido roubados à família biológica

O grupo de Facebook que Amy e Ano usaram para procurar a mãe biológica foi criado pela jornalista Tamuna Museridze – também uma vítima do esquema de roubo de bebés. Deu-lhe o nome de “Vedzeb”, o que significa “Estou à procura” em georgiano.

Criou o grupo quando descobriu que tinha sido adotada e que havia dados incorretos na certidão de nascimento. O objetivo era procurar a sua família biológica, mas acabou por expor um esquema de tráfico de bebés, na Geórgia, entre 1950 e 2005. Atualmente, o grupo conta com mais de 230.000 membros e já ajudou centenas de famílias a reencontrarem-se.

Tamuna decidiu fazer uma investigação sobre estes casos. Acredita que existia um mercado negro para roubar e adotar bebés, que, apesar de ser um esquema organizado por criminosos, incluía todos os setores da sociedade georgiana – incluindo o Governo.

“A escala é inimaginável, pelo menos 100.000 bebés terão sido roubados. Era sistémico”, conta à BBC. O número exato é difícil de descobrir, uma vez que o acesso aos documentos não é fácil (uns foram perdidos, outros não são divulgados).

A prática seria semelhante em todos os casos: os profissionais de saúde diziam aos pais que o bebé tinha morrido depois do nascimento e, quando perguntavam se podiam ver o corpo, alegavam que já tinha sido enterrado nos arredores do hospital – num suposto cemitério que nunca existiu. Em alguns casos, os pais poderiam ver bebés mortos que estavam congelados na morgue.

Adotar um bebé podia custar o equivalente a um ano de salário. A jornalista acredita que muitas crianças terão sido enviadas para outros países, tais como EUA, Canadá, Chipre, Rússia ou Ucrânia.

Irina Otarashvili acredita que os seus filhos gémeos, que nasceram em 1978, na maternidade de Kvareli, ainda estão vivos. Após o parto, os médicos disseram-lhe que os bebés estavam saudáveis, mas, três dias depois, informaram-na que as crianças tinham morrido repentinamente.

Pediram-lhe uma mala para que pudesse levar os restos mortais dos filhos e aconselharam-na a enterrá-la sem a abrir, pois seria muito doloroso ver os corpos dos bebés. Como o país estava, na altura, sob alçada da União Soviética, questionar as indicações das autoriddes não era uma opção, lembra Irina.

O grupo de Tamuna levantou suspeitas entre as filhas de Irina que, passados 44 anos, decidiram abrir a mala que veio do hospital. Descobriram que no interior havia apenas ramos de videira: “Quando abrimos não havia ossos, apenas paus. Não sabíamos se devíamos rir ou chorar”, conta Nana Elizbarashvili. A família acredita que os irmãos estavam vivos.

O Governo da Geórgia lançou, em 2022, uma investigação ao tráfico de bebés. Em resposta à BBC, afirmam que os casos eram “muito antigos e os dados históricos perderam-se”. O relatório da investigação ainda não foi divulgado.

Não é a primeira investigação realizada ao tráfico de bebés na Geórgia. Em 2003, uma investigação levou à detenção de várias pessoas por suspeitas de tráfico internacional de crianças, mas a informação sobre os casos nunca foi tornada pública. Em 2015, o diretor-geral da maternidade de Rustavi, Alexksandre Baravkovi, esteve detido, mas acabou por ser ilibado.

Tamuna não desiste de ter acesso às certidões de nascimento dos bebés que foram roubados e, por isso, juntou-se à advogada especializada em direitos humanos Lia Mukhashavria. Vão levar o caso a tribunal.

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