“A Europa é mortal”, alerta presidente da França em discurso sobre o futuro da União

“a europa é mortal”, alerta presidente da frança em discurso sobre o futuro da união

O Presidente francês Emmanuel Macron faz um discurso sobre a Europa no anfiteatro da Universidade Sorbonne, 25 de abril em Paris. 2024.

O modelo europeu corre o risco de morrer devido à rivalidade EUA-China e a próxima década será decisiva para a sua sobrevivência, alertou Emmanuel Macron, apelando à União Europeia para que se torne cada vez mais unida e soberana.

Num discurso de 108 minutos proferido na Universidade Sorbonne – onde, há sete anos, o então recém-eleito líder proferiu um primeiro discurso sobre a sua visão para a Europa -, Macron repetiu inúmeras vezes que “as regras do jogo mudaram” em várias frentes, incluindo a geopolítica, a economia, o comércio e a cultura.

“Devemos estar lúcidos sobre o facto de que a nossa Europa hoje é mortal. Pode morrer. Pode morrer e isso depende, unicamente, das nossas escolhas, mas essas escolhas têm de ser feitas agora”, disse Macron à audiência, incluindo membros do seu governo e embaixadores de outros Estados-membros.

“Já se foram os dias em que a Europa comprava a sua energia e fertilizantes à Rússia, terceirizava a sua produção para a China e delegava a sua segurança nos Estados Unidos da América”, acrescentou.

A Europa deve saber defender o que lhe é caro junto dos seus aliados, sempre que estiverem preparados para o fazer ao nosso lado, e sozinha se necessário.

Emmanuel Macron Presidente, França

Foram dados passos positivos ao longo dos últimos anos, mas alertou que ainda assim “não estamos à escala”.

A principal das suas preocupações é a guerra na Ucrânia e as suas implicações para a defesa e segurança europeias, mas também a capacidade dos atores industriais e tecnológicos europeus de sobreviverem contra o que descreveu como o “subsídio excessivo” que EUA e China dão às suas empresas.

“Uma defesa credível”

Para fazer face à nova paisagem geopolítica, o presidente francês afirmou que “deve ser construída uma defesa credível do continente europeu”.

“A Europa deve saber defender o que lhe é caro junto dos seus aliados, sempre que estiverem preparados para o fazer ao nosso lado, e sozinha se necessário”, afirmou.

“Os Estados Unidos da América têm duas prioridades: em primeiro lugar, os Estados Unidos da América, que é legítimo, e em segundo lugar, a China. E a questão europeia não é uma prioridade geopolítica para os anos e décadas vindouros, qualquer que seja a força da nossa aliança”, explicou.

Nomeando a Rússia como a principal ameaça do bloco, Macron apelou a que o trabalho numa “iniciativa europeia de defesa” comece dentro de meses, primeiro como um “conceito estratégico” a partir do qual serão então postas em prática as “capacidades relevantes”.

Para isso, sublinhou, a indústria europeia de defesa deve “produzir mais rápido, cada vez mais europeu”. Reiterou a sua posição, defendida nos últimos meses entre os seus pares da UE, de que este aumento nos investimentos poderia ser financiado através do aumento da dívida comum da UE.

Macron repetiu a sua afirmação de que deveria haver uma “preferência europeia” no que toca à compra de equipamento militar.

A UE deveria também ser mais vocal na frente diplomática, com mais “parcerias recíprocas” com países terceiros “para mostrar que nunca é o vassalo dos Estados Unidos da América, e que também sabe falar a todas as regiões do mundo: aos países emergentes, à África, à América Latina”.

Um pacto de prosperidade

Para que os atores industriais europeus sobrevivam à concorrência “desleal” de rivais norte-americanos e chineses que têm beneficiado de vastos programas de subsídios, Macron pregou por uma “simplificação” das regras, ou “desregulamentação”.

“O nosso atual modelo económico já não é sustentável”, afirmou.

Para o líder francês, os objetivos da UE de se tornar neutra em emissões de dióxido de carbono, manter um modelo socioeconómico baseado na solidariedade e na redistribuição, e aumentar a soberania em setores-chave e cadeias de abastecimento são os certos, mas “não estamos lá porque regulamos demais, investimos muito pouco, somos demasiado abertos e não defendemos suficientemente os nossos interesses”.

A resposta é um “pacto de prosperidade” que incluiria “ondas de simplificação de regras”, ao longo do próximo mandato, para permitir às empresas escalarem rapidamente a nível europeu e uma política industrial para impulsionar os setores mais ecológicos.

A Europa, acrescentou, também deve ter como objetivo tornar-se líder mundial em cinco setores-chave: inteligência artificial, computação quântica, espaço, biotecnologias, energias (renováveis e nuclear).

A UE vai precisar de um “grande plano de investimento coletivo” para atingir esses objetivos, disse.

Para tal, crescimento económico e ação climática devem ser incluídos no mandato do Banco Central Europeu e é preciso aumentar as receitas dos impostos a nível da UE.

Por outro lado, a União dos Mercados de Capitais deve ser finalizada dentro de 12 meses para induzir os bancos da UE a investir a poupança europeia em produtos nacionais, em vez de estrangeiros, geralmente norte-americanos.

Ideias europeias ganharam a batalha

A última parte da intervenção de Macron foi dedicada à defesa dos valores europeus.

“Nunca devemos esquecer que nós (europeus) não somos como os outros”, afirmou, citando o apego dos europeus à liberdade, democracia, Estado de direito e igualdade. Mas estes valores estão cada vez mais sob ameaça da desinformação e da propaganda.

Entre as suas ideias para dinamizar os laços intra-europeus estão a criação de diplomas europeus (uma proposta que a Comissão Europeia revelou recentemente), e de alianças de museus e bibliotecas europeus, enquanto defendia uma “maioria digital”, no sentido de que apenas os maiores de 15 devem ter acessos a certos aspetos da Internet.

Macron apoiou também um reforço do mecanismo de Estado de direito do bloco que visa sancionar os Estados-membros que minam os valores da UE.

A equipa de Macron tinha sublinhado, no início desta semana, que o discurso era “um momento institucional para um chefe de Estado” e seria, portanto, “muito distinto de um exercício de campanha eleitoral”, apesar de ter sido proferido apenas seis semanas antes de centenas de milhões de europeus, nos 27 Estados-membros, começarem a dirigir-se às urnas, para eleger os seus 720 representantes para o Parlamento Europeu.

O partido centrista do presidente, Renascimento, e os seus parceiros, Modem e Horizons, estão em sgundo lugar nas sondagens (com 18%), atrás da extrema-direita, segundo a sondagem da Ipsos para a Euronews.

O Reagrupamento Nacional (RN) deverá ter uma vitória confortável com uma estimativa de 31% dos votos. O cabeça de lista é Jordan Bardella, de 28 anos, que vai apresentar o programa eleitoal esta quinta-feira.

Macron não citou o seu rival nacional mas mesmo assim deu um golpe nas forças nacionalistas, alegando que “as ideias europeias ganharam a batalha” com alguns partidos populistas, como o RN, já não fazendo campanha para que os seus países saiam da UE ou do euro.

“A melhor maneira de conhecer o futuro é fazer promessas que se cumprem. Portanto, o que estou a propor é que, com a cabeça clara, façamos estas poucas grandes promessas para a Europa durante a próxima década e lutemos para as manter”, afirmou.

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