“Todos os mandatos têm as suas dificuldades, até porque a vida dos trabalhadores, toda esta realidade da exploração dos trabalhadores obriga sempre a uma grande intervenção, uma grande ação por parte dos sindicatos da CGTP, mas este mandato, de facto, teve algumas características diferentes de qualquer outro”, disse Isabel Camarinha em entrevista à Lusa.
A sindicalista foi eleita secretária-geral da CGTP em fevereiro de 2020 e, no mês seguinte, foi decretada no país a pandemia de covid-19, o que obrigou a uma intervenção “muito grande” e com dificuldades na defesa dos direitos dos trabalhadores, recordou, dando como exemplos “a tentativa de que não houvesse liberdade sindical” numa altura em que os trabalhadores mais precisavam, com a implementação do `lay-off`, cortes salariais ou outras situações.
Foi preciso assegurar que os trabalhadores tinham também garantidas as condições de saúde e segurança, fosse em teletrabalho ou nos locais de trabalho, acrescentou.
O “grande desafio” do mandato de quatro anos começou com a pandemia, seguindo-se a guerra na Ucrânia e todo o ambiente de tensão internacional, o aumento do custo de vida, a inflação e as duas dissoluções da Assembleia da República, a primeira no final de 2021, que resultou na maioria absoluta socialista, e a outra em janeiro, que levou à convocação de eleições antecipadas para 10 de março.
“Isto obrigou a uma intervenção muito grande e depois todo o continuar desta degradação das condições de vida e de trabalho, a falta de resposta aos problemas dos trabalhadores, nomeadamente a questão dos salários, da precariedade, dos horários de trabalho, do difícil que está ser ter a garantia das necessidades básicas como a saúde, a educação, insuficiente proteção social, portanto, há um conjunto de problemas que se agravaram”, indicou a sindicalista.
Após sair da liderança da CGTP, Isabel Camarinha pretende continuar a luta por melhores condições e vida e de trabalho no Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP), do qual é dirigente desde 1991.
“Estou ainda a ver o que é que vou fazer a seguir, mas uma coisa é certa, vou continuar a trabalhar, a ser dirigente sindical. Eu sou da direção do meu sindicato, vou continuar a agir, a intervir, a lutar no quadro desta central sindical, deste movimento sindical unitário, que é onde eu me revejo e onde sinto que posso ainda dar o meu contributo”, referiu.
Isabel Camarinha, 63 anos, tornou-se na primeira mulher secretária-geral da CGTP em fevereiro de 2020, substituindo Arménio Carlos, após um percurso de mais de 30 anos como dirigente sindical no CESP.
A secretária-geral da CGTP vai deixar a direção da intersindical no próximo congresso, que se realiza na sexta-feira e no sábado, no Seixal (distrito de Setúbal), porque atingiria a idade da reforma durante o próximo mandato de quatro anos, o que não é permitido segundo as regras internas da central.
Voto do trabalhador igual ao do patrão
A secretária-geral da CGTP apelou a uma “grande participação” nas eleições legislativas de 10 de março, defendendo que é preciso que os trabalhadores tomem consciência de que o seu voto é igual ao do patrão.
“É preciso que os trabalhadores ganhem consciência da importância do seu voto e de que o seu voto é igual ao do patrão”, afirmou Isabel Camarinha, que vai deixar de ser secretária-geral da CGTP a partir de sábado, no XV Congresso da central sindical, que se realiza no Seixal (distrito de Setúbal).
“O meu voto vale o mesmo que o da CEO (presidente executiva) da Sonae, que por acaso é uma mulher também”, acrescentou.
A sindicalista disse esperar que haja “uma grande participação” nas eleições legislativas e que delas saia um resultado que garanta uma “alteração da relação de forças na Assembleia da República” com vista “a uma melhoria das condições” de vida dos trabalhadores portugueses e também dos imigrantes.
Governo faz malabarismos com dados sobre salários
Isabel Camarinha, acusou o Governo de fazer “malabarismos” com os dados sobre salários e disse que as contas do executivo são “incertas” para os que não conseguem pagar as contas ao fim do mês.
“Um país que se quer desenvolvido não pode ter os trabalhadores, como temos no nosso país, a empobrecer a trabalhar, não pode ter dois em cada três trabalhadores a ter um salário abaixo dos 1.000 euros por mês, não pode ter os trabalhadores jovens a emigrarem porque não conseguem um trabalho com direitos, não conseguem um salário que lhes permita viver e muito menos uma habitação, uma casa onde morar”, disse.
Perante os dados oficiais de que os salários têm aumentado nos últimos anos, Isabel Camarinha comentou que “é fácil fazer malabarismos com os números”, referindo por exemplo os referenciais estabelecidos no acordo de rendimentos assinado entre o Governo e os parceiros sociais (com a exceção da CGTP) que preveem subidas da massa salarial, incluindo todas as componentes remuneratórias.
Segundo frisou a sindicalista, “a esmagadora maioria das empresas” está a considerar nos aumentos toda a massa salarial, incluindo progressões, promoções, outro tipo de prestações que são atualizadas “e para os salários vai pouco mais do que dois ou 3%”.
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