Consumo descontrolado da oferta digital contribui para estado de alienação social

consumo descontrolado da oferta digital contribui para estado de alienação social

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Lisboa, 23 jan 2024 (Lusa) – O “consumo descontrolado” da oferta digital, internet e redes sociais, contribui para um estado de alienação social, desenvolvendo um padrão de comportamento cujas relações ‘online’ se constituem como a zona de conforto, alerta um estudo hoje divulgado.

“Como a vida na internet e nas redes sociais está em constante movimento, alimenta-se uma necessidade de acompanhar ao máximo o fluir dessa vida, resultando em momentos de prazer e de descontrolo no tempo de utilização”, refere o projeto de investigação “Scroll, Logo Existo”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia em parceria com o Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências.

O estudo, que é apresentado hoje em Lisboa, inquiriu 1.704 residentes em todo o país, maiores de 16 anos, com o objetivo de estudar as práticas de uso dos ecrãs e os comportamentos aditivos, tendo a fase de recolha e tratamento de dados decorrido entre setembro de 2022 e outubro de 2023.

Em declarações à agência Lusa, o coordenador do projeto, Joaquim Fialho, afirmou que o estudo “não dá um resultado de um alarme geral sobre a utilização dos ecrãs”, mas aponta um conjunto de características que são transversais a todas as idades, situações profissionais e a todos os níveis de habilitações escolares.

Em primeiro lugar, o investigador apontou “uma necessidade de estar nos ecrãs como fonte de prazer, sobretudo, os ecrãs do smartphone, que são o principal elo de ligação digital”.

Outras características identificadas são “a perda de noção do tempo nos ecrãs”, “a irritabilidade”, causada pela ausência dos ecrãs ou pela redução do tempo de utilização, e a utilização “dos ecrãs como fuga”, para aliviar sentimentos de culpa, ansiedade ou depressão.

Apesar de não haver um problema generalizado de dependência de ecrãs na população portuguesa”, o investigador disse que há fatores que podem gerar maior dependência, como a idade.

“Quanto mais baixa é a idade, mais baixa é a escolaridade, e se cruzarmos estes dois atributos, os estudantes e a população inativa são aqueles que estão numa situação de maior exposição ao risco de dependência de ecrãs”, salientou.

Segundo o investigador, foi identificado também um conjunto de elementos na dependência dos ecrãs, como a nomofobia, sentimento de falta quando o telemóvel não está junto das pessoa, e a “síndrome do toque fantasma”, que é a sensação constante de sentir o telemóvel a vibrar no bolso, que não é real.

Também foi detetado “o transtorno de dependência de Internet”, que é a necessidade compulsiva de estar ‘online’, particularmente nas redes sociais, “como obtenção de prazer”, para atenuar sentimentos de frustração, ansiedade.

Outro elemento identificado foi “a depressão Facebook”: “Observámos que a ausência de redes sociais junto dos utilizadores, sobretudo dos mais jovens, que não têm ocupação, gera sentimentos de frustração e ansiedade por não conseguirem acompanhar o conteúdo que está a circular ‘online’”.

Os investigadores também identificaram junto dos entrevistados “a hipocondria digital”, que é procurar informação sobre uma doença na Internet que “muitas vezes é contraditória e coloca as pessoas perante uma situação de desespero”.

Com base nos resultados, os investigadores sugerem um conjunto de medidas, nomeadamente a intervenção em contexto escolar, “que são os mais vulneráveis”, na comunidade em geral e em contexto laboral.

No contexto laboral, disse Joaquim Fialho, há “uma barreira muito difícil de distinguir”, nomeadamente quando termina a utilização para fins profissionais e quando começa a utilização lúdica, “porque muitas das vezes não há esse desligar”.

Por fim, uma intervenção mais transversal junto da população, sobretudo, dos que estão fora do mercado de trabalho.

“Há um conjunto de pistas para a ação que temos no plano e que nos parecem que podem funcionar como atenuante deste processo, porque aquilo que verificamos é que há um acesso generalizado aos ecossistemas digitais, mas não há um aumento das competências digitais que permitam de certa forma capacitar as pessoas para a oferta do ponto de vista digital”, rematou.

O investigador salientou que “o desafio não está na privação do uso digital (…) em contexto escolar, nem em contexto laboral, mas sim na capacitação das pessoas para uma utilização saudável”.

“Nós sabemos que proibir não é o melhor caminho, o melhor caminho passa por um trabalho de literacia para a utilização dos ecrãs”, defendeu Joaquim Fialho.

HN // ZO

Lusa/Fim

News Related

OTHER NEWS

Região de Lisboa, Alentejo e Algarve sob aviso amarelo na 5.ª feira por causa da chuva

Tiago Petinga/LUSA Lisboa, 27 nov 2023 (Lusa) – Lisboa, Setúbal, Évora, Beja, Portalegre e Faro vão estar sob aviso amarelo a partir da madrugada de quinta-feira, devido à previsão de ... Read more »

Primeiro-ministro britânico vai recusar devolver à Grécia mármores do Partenon

Chris Ratcliffe / POOL/EPA Londres, 27 nov 2023 (Lusa) – O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, vai recusar devolver à Grécia os mármores do Partenon, guardados no Museu Britânico, em Londres, ... Read more »

"Tchau Chico!": médio do FC Porto 'desorientado' à entrada do avião rumo a Barcelona

O futebolista de 20 anos entrou no local errado no interior da aeronave, e não se livrou de algumas brincadeiras dos colegas de equipa. “Tchau Chico!”: médio do FC Porto ... Read more »

Bastonário dos médicos lança apelo ao ministro e à Direção Executiva do SNS

Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos. Foto: DR O bastonário da Ordem dos Médicos apelou, esta segunda-feira, ao ministro da Saúde para ouvir estes profissionais e ponderar “com seriedade” ... Read more »

Clima: Mar gelado da Antártida recuou em setembro 1,5 milhões km2 homólogos

Antártida (EPA/Alberto Valdes) A superfície gelada do mar na Antártida retrocedeu em setembro 1,5 milhões de quilómetros quadrados em termos homólogos, revelou esta segunda-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres, ... Read more »

MotoGP: Miguel Oliveira mantém 88, mas ainda se desconhece a equipa

A DORNA divulgou também alterações aos regulamentos, de forma a permitir concessões de evoluções à Yamaha e à Honda, os dois construtores japoneses que se viram suplantados pela Ducati. MotoGP: ... Read more »

Blackstone está de olhos postos na compra de imóveis na Europa

Steve Schwarzman, fundador e CEO da Blackstone A gigante norte-americana Blackstone já tem vários negócios imobiliários na Europa e em Portugal. E deverá reforçar o seu investimento em breve. Isto ... Read more »
Top List in the World