Pedro Nuno procurou "armadilhar", Montenegro respondeu com "elemento maquiavélico". Esta tensão PS-PSD é normal ou há motivos para preocupação?

Pedro Nuno Santos na apresentação do Programa de Governo (LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO)

A tensão PS-PSD é normal ou devemos ficar preocupados? Pode ela colocar em causa o normal funcionamento da democracia? Os politólogos ouvidos pela CNN Portugal concordam que não, embora tenham visões diferentes sobre quem está a por mais achas na fogueira.

“Vamos entrar numa situação de ação-reação. Do ponto de vista do funcionamento das instituições, elas não são postas em causa. A democracia não está em perigo. O problema é a qualidade do funcionamento. O PS quer antecipar-se. Mas como o seu líder não tem capital de confiança interno, vai estar constantemente a lutar pela luz da ribalta. É uma tensão exacerbada, que não é boa conselheira”, descreve o politólogo José Filipe Pinto.

Também a politóloga Paula do Espírito Santo retira carga sobre os eventuais impactos desta tensão: “Podemos dizer que é normal. Podia ser mais acentuada, mais excessiva, face a outros momentos políticos. Acontece porque a oposição está numa posição confortável, mas o Governo está numa posição dependente e frágil”.

(Lusa)

A “armadilha” e o “elemento maquiavélico”

Foi um debate “muito acalorado”, para “marcar terreno”. Contudo, segundo José Filipe Pinto, a tensão não começou no hemiciclo. E identifica o ponto zero: a carta de Pedro Nuno Santos, a mostrar disponibilidade para um orçamento retificativo com medidas de consenso, e a resposta de Luís Montenegro.

“Pedro Nuno Santos colocou em cima da mesa uma disponibilidade para o diálogo, mas trazendo um caderno de encargos. Era uma disponibilidade condicionada, significava que o PS estava a armadilhar, mais do que a colaborar, o percurso de Montenegro”, justifica.

Montenegro respondeu de forma “politicamente correta”, mas introduziu “um elemento maquiavélico: deixou claro que tinha percebido a armadilha” e fez algo que Pedro Nuno “não estava à espera”, ao dizer que cabia ao Governo orientar o diálogo e definir o calendário.

Paula do Espírito Santo lembra que Montenegro colocou noutra figura o ataque ao PS: o líder parlamentar Hugo Soares. “Para quem deve fomentar o diálogo, pareceu-me que estava mais agressivo e efusivo que o próprio Montenegro. Faz o papel que o Governo não pode fazer.”

A politóloga considera que essa agressividade é “uma contra-resposta em relação à oposição que está nesse papel confortável e que será sempre pouco colaborante”.

(Lusa)

“Jogo de personalidades”

Na política, uma coisa é o que se diz, outra é o que se faz nos bastidores. É o que explica Paula do Espírito Santo para evidenciar uma situação de “poder em cena”. Porque, além dos ataques de parte a parte, há uma “dimensão escondida, que pemite gerar entendimentos de regime”.

“É uma situação em que há um jogo de personalidades. Montenegro já conseguiu passar a imagem de estadista. Já a primeira intervenção de Pedro Nuno mostrou que ainda não está à altura de liderar a oposição. Sentiu-se o desconforto em vários barões do PS. Até Pedro Nuno teve necessidade de fazer uma segunda adenda [recuperando cinco propostas do programa eleitoral do PS]”, refere José Filipe Pinto.

“Dialogar é uma coisa. Outra é condescender para que sejam as medidas do PS a definirem as medidas do Governo”, junta o politólogo. O especialista reforça que Montenegro prometeu falar “com todos”, “não com todos os partidos”, porque é da sociedade civil que virá a sua base de sustentação em caso de necessidade: “está a aumentar a sua legitimidade, para captar mais eleitorado”.

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