«Se quisermos ver jogos da seleção na rua podemos ser bombardeados com um drone»

«se quisermos ver jogos da seleção na rua podemos ser bombardeados com um drone»

Qual é a vossa história?

Volodymir Samus - Vivo na região de Sumy, que faz fronteira com a Rússia, juntei-me às forças armadas desde a invasão em grande escala da Rússia e fiquei ferido na região de Donetsk.

Oleksandr Malchevskyi - Sou de Kiev, juntei-me às forças armadas desde os primeiros dias da invasão russa, integrei a Brigada Presidencial e durante uma das minhas missões no terreno feri-me e perdi a perna.

Quanto tempo estiveram no campo de batalha até serem feridos?

VS - Estive cerca de dois meses. Fui ferido e perdi a minha perna em julho de 2022 em resultado de ataque de artilharia inimiga.

OM - Estive três meses no terreno. Feri-me quando destruímos vários tanques inimigos. No regresso à base fomos atacados com artilharia russa e perdi a minha perna.

O que faziam antes da guerra?

VS - Como qualquer homem normal na Ucrânia, trabalhava e fazia jogos de futebol, o meu desporto favorito, e desfrutava da minha vida com os meus filhos.

OM - Antes da guerra era analista de uma grande empresa exportadora, algo que voltei entretanto a fazer. Também jogava futebol e desfruto da minha vida com o meu filho.

Quão normais são agora as vossas vidas?

VS - A vida continua, tento jogar futebol mesmo nestas condições. Tento desfrutar da vida dentro do possível.

OM - Eu acredito na vitória da Ucrânia e nada mudou deste então. Continuo a trabalhar e continuo a jogar futebol. Agora jogo na seleção nacional ucraniana de futsal adaptado. A vida continua.

Como era o vosso dia a dia no campo de batalha?

VS - No campo de batalha é fundamental estarmos muito concentrados no que está a acontecer à nossa volta e pensar sempre em seguir em frente.

OM - É muito importante estarmos sempre em alerta, é uma responsabilidade muito grande. Nos primeiros tempos da invasão em escala da Rússia as batalhas decidiam-se na base de quem tinha a melhor artilharia, mas desde a ajuda internacional nós temos quase a mesma quantidade de artilharia. Entretanto a guerra desenvolveu-se e agora decide-se na base de quem tem os melhores drones.

Quais foram as piores coisas a que assistiram no campo de batalha, coisas que nunca imaginaram ver nas suas vidas?

VS - Ver soldados morrer à minha frente ou feridos com gravidade, pessoas que se tornaram irmãos de guerra.

OM - A morte e ferimentos de irmãos de guerra. E também a morte de civis depois dos bombardeamentos, como os que vi em Kharkiv.

O que pensam que vai acontecer quando já se passaram mais de dois anos desde o início da guerra?

VS - Espero que a vitória seja nossa. É a única forma de conseguirmos sair disto.

OM - Estamos a ficar sem soldados e pessoas para combater e sem a ajuda internacional, com equipamento e armamento de longo alcance e diferentes sistemas de defesa como os mísseis Patriot não conseguiremos vencer esta guerra com os nossos soldados. Precisamos dessa enorme ajuda dos nossos parceiros internacionais.

Ninguém nasce soldado. Como foi tornar-se um de um dia para o outro?

VS - Todos os soldados são seres humanos e por isso não foi nada de especial ser um soldado.

OM - É um dever grande, um trabalho duro. Mas temos de o fazer em nome dos meus filhos, dos meus pais. É isso que nos leva a tentar a vitória.

Quase todos os ucranianos perderam alguém desde o início da guerra. Foi o vosso caso também?

VS - Graças a Deus toda a minha família a amigos próximos estão vivos.

OM - O mais próximo que perdi foi a minha perna. Mas há um mês desapareceu um grande amigo meu de infância e ninguém o consegue encontrar.

Acham que os países parceiros da Ucrânia estão a fazer tudo o que podem para ajudar o vosso país?

VS - Agradeço à Europa pela ajuda que tem estado a dar à Ucrânia. Mas estamos a ficar sem recursos no campo de batalha, essa é a questão fundamental. Precisamos de mais recursos.

OM - A Ucrânia está muito grata à Europa mas essa ajuda chega muitas vezes com atraso. É crucial que essa ajuda chegue mais rápido para satisfazer as necessidades das forças ucranianas.

É fácil falar do dia em que ficaram feridos?

VS - Sim, é fácil falar disso.

OM - Sim. Perdi a minha perna em maio de 2022. Fui ajudado pelos meus irmãos de guerra e pelos médicos. Fui submetido a múltiplas cirurgias, estive um ano em reabilitação.

O que dizem quando os países parceiros começam a dar sinais de perder um pouco a paciência sobre a ajuda dada à Ucrânia devido ao prolongar da guerra?

VS - Vamos vencer se o Ocidente nos ajudar mais.

OM - Para manter o Ocidente focado no que se passa na Ucrânia é importante que soldados como eu venham à Europa e falemos com vocês, jornalistas, ou em competições desportivas em que as suas famílias vivem constantemente sob bombardeamentos aéreos e de artilharia, com quebras de energia que duram horas. Isso ajuda a manter as pessoas concentradas no que está a acontecer no nosso país.

- Como é que os ucranianos conseguem conciliar a emoção e alegria de uma vitória da vossa seleção ao mesmo tempo que vivem uma ocupação e estão sujeitos a sofrer um bombardeamento?

VS - Na Ucrânia lidamos com constantes blackouts e temos poucas horas de eletricidade, o que nos limita bastante para conseguirmos ver os jogos da nossa seleção. Mas quando conseguimos, claro que vibramos.

OM - O futebol é o desporto número um na Ucrânia e todos os ucranianos tentam assistir aos jogos e é uma boa forma de esquecermos por momentos os blackouts, a guerra, a ocupação.

O que lhes vem à cabeça quando veem as pessoas de outros países a celebrar nas ruas as vitórias da sua seleção quando vocês não o podem fazer ou, fazendo-o, sujeitos a correr riscos?

VS - É desconfortável não podermos vibrar com as vitórias da nossa seleção, tal como aconteceu no jogo com a Eslováquia, mas o mais importante é sabermos que os nossos irmãos de guerra continuam a combater nas frentes de batalha e quando a nossa seleção vence reforça o espírito de combate deles. Se eles conseguirem no campo de futebol, os soldados também o conseguirão no campo de batalha.

OM - Quando assistimos aos jogos conseguimos desviar a atenção dos nossos problemas que enfrentamos diariamente relacionados com a guerra. Mas quando o jogo acaba voltamos a enfrentar a realidade, sabendo que o marido ou o irmão de alguém morreu ou cuja vida está em risco no campo de batalha.

Não podem assistir a jogos nas ruas, em bares, como acontece nos nossos países?

VS - As pessoas não se reúnem em grupos grandes. Claro que há sempre os bares que continuam abertos, mas em cidades maiores é impossível que as pessoas se juntem porque se o fizerem sabe que a probabilidade de serem atingidos com artilharia ou um drone do inimigo é grande.

OM - É proibido haver ajuntamentos de pessoas, mesmo nos jogos da seleção.

Os bombardeamentos aumentaram durante os jogos da seleção?

VS - Eu estava a viajar para a Alemanha, mas pelo que sei a minha zona, que faz fronteira com a Rússia, está a ser constantemente alvo de bombardeamentos aéreos. Não está relacionado com os jogos, é sempre assim.

OM - Em Kiev é diferente, a nossa zona está muito bem protegida pela defesa aérea e quando houve jogos não notei aumento da atividade inimiga.

Qual foi a última vez que assistiram a um jogo ao vivo e com público?

VS - Já foi há muito tempo, muito antes da invasão.

OM - Não me lembro também, foi há muito tempo.

Qual foi a sensação de assistir a um jogo ao vivo e com público?

VS - Foi uma emoção incrível. Cimos cerca de 100 pessoas apoiadas pela Fundação Energia da Vitória da Ucrânia. Havia uma enorme multidão nas bancadas. Poder apoiar ao vivo a nossa seleção foi fantástico.

OM - Foi algo que nos fez mesmo esquecer por umas horas tudo o que está acontecer no meu país. Foi uma oportunidade para ter o nível máximo de emoções.

O que sentem ao ver um jogador chorar após marcar um golo, como aconteceu com Yaremchuk? Ele disse que isso se deveu à época que ele teve, mas todos sabemos que ele carrega a dor da guerra, tal como já mostrou no passado.

VS - As emoções foram incríveis quando ele marcou o golo da vitória. Não apenas para as pessoas que estavam no estádio, mas também para todos os ucranianos que conseguiram ver o jogo na televisão.

OM - Aquele golo em Dusseldorf foi uma espécie de pequena vitória dos ucranianos de algo bem maior. Perdi a voz de tanto gritar.

Qual é o vosso jogador favorito da seleção?

VS - São todos. Não quero apontar um.

OM - Gosto do Sudakov e também gosto de Tsygankov, mas infelizmente ele não pode jogar porque está lesionado. Artem Dovbyk traz criativcidade à equipa.

Ainda assim é possível haver discussões sobre quem deve jogar ou não jogar, tal como acontece com adeptos das outras seleções? Por exemplo, conseguem discutir se deve jogar Trubin ou Lunin na baliza?

VS - Há sempre espaço para essa discussão. No caso da baliza, temos três bons guarda-redes, eles são todos de bom nível mas quem deve jogar é uma decisão do treinador.

OM - Nós sempre tivemos grandes guarda-redes, mas só um era muito bom na sua época, casos de Shovkovskyi e Pyatov. Mas agora temos três de grande nível e a dor de cabeça é grande para o treinador.

Qual é o vosso clube?

VS - Não tenho um favorito na Ucrânia mas apoio todas as equipas que jogam na Liga dos Campeões ou na Liga Europa.

OM - Sou do Dínamo Kiev e não do Shakhtar!

Preferiam ver os futebolistas do vosso lado nos campos de batalha ou a jogar futebol? Zinchenko chegou a admitir essa possibilidade.

VS - É bom que os jogadores como Zinchenko demonstrem essa abertura mas se se viessem todos para o campo de batalha depois não teríamos ninguém para nos representar no futebol. Eles são necessários onde estão para os soldados ganharem esta guerra.

OM - Esses jogadores de nível internacional devem continuar a jogar futebol e passar a sua mensagem ao mundo, pedindo que as pessoas continuem a ter o foco no que se passa na Ucrânia. Fazendo-o, podem ajudar a acumular mais donativos para o nosso país.

Qual é o vosso sonho mais imediato?

VS - Ganhar a guerra, termos paz e uma vida civil normal.

OM - Vencermos o Europeu e depois ganharmos a guerra para que as nossas famílias possam ter uma vida normal. Que as nossas crianças possam ir à escola sem problemas, para poderem brincar na rua com os amigos sem haver bombardeamentos.

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