Golpe na Bolívia foi obra cômica sem pé nem cabeça, diz opositor Carlos Mesa

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Repudiando a tentativa de golpe de Estado da quarta-feira (26), o ex-presidente de centro-esquerda Carlos Mesa, 70, vê um ano pré-eleitoral complicado na Bolívia, com a possibilidade de que o atual presidente, Luis Arce, possa não terminar o mandato.

Em entrevista à Folha, por videoconferência, Mesa afirmou que há uma crise de liderança e um descrédito dos bolivianos em relação à Justiça e à Corte Constitucional, principalmente se esta der ao ex-presidente Evo Morales a possibilidade de concorrer a um quarto mandato, hoje proibido pela Constituição.

Mesa presidiu o país entre 2003 e 2005, tendo assumido após a renúncia de Gonzalo Sánchez de Lozada, pressionado por protestos sociais que levaram a mais de 70 mortes.

PERGUNTA - Como o sr. define o que ocorreu na última quarta-feira (26)?

CARLOS MESA - Trata-se de uma expressão muito clara de uma crise da democracia boliviana, que tem a ver com o desgaste de suas instituições, do Executivo mal administrado, de um Judiciário que responde às ordens do Executivo, de um conflito de poderes entre Judiciário e Legislativo, e, agora, como se tudo isso fosse pouco, com uma crise nas Forças Armadas.

O que temos adiante é a decomposição da institucionalidade democrática do país, vinculada à divisão cada vez mais profunda entre o MAS [Movimento ao Socialismo] de Evo Morales e o MAS de Luis Arce.

Dito isso, o que houve ontem foi uma obra cômica mal desenvolvida, e muito pior executada, algo sem pé nem cabeça.

P. - Não se pareceu com um golpe de Estado?

CM - Se isso fosse classificado de golpe de Estado, estava todo mal feito, por isso fica a dúvida de que tenha sido feito por um só homem, o sr. Zúñiga, ou se o governo teve algo a ver.

P. - Há gente dizendo em meios de comunicação internacionais que o golpe vinha sendo planejado por semanas? O que acha?

CM - Se tivesse sido bem planejado, há várias semanas, eu não creio que tivesse sido o fiasco tão lamentável que foi para a imagem do país e das Forças Armadas, prestando-se a um espetáculo com uns poucos soldados e um par de tanques na praça Murillo. Não há nenhum indício de algo planejado com serenidade para alcançar um resultado objetivo.

P. - E quais os resultados imediatos?

CM - O vitimismo no qual o governo entrou agora, agravando isso como se fosse realmente uma imensa tentativa de golpe de Estado, leva a opinião pública a ter sérias dúvidas sobre a legitimidade do golpe de Estado e sobre se é verdade o que está sendo dito pelo governo.

Quem acredita que isso ia ser suficiente para derrubar o presidente Arce não tem ideia do que é fazer um golpe de Estado. E veja que aqui, na Bolívia, vivemos muitos e muito violentos golpes de Estado. Não faltam exemplos.

P. - O sr. crê na estratégia de um autogolpe?

CM - Zúñiga no dia de ontem [quarta-feira (26)] deu duas entrevistas à imprensa. Na segunda, pouco antes de ser detido, acusou Arce de ter sido quem protagonizou o golpe, ou o estimulou. Depois, falou em liberar presos políticos, vinculando-se a um sentimento partidário, da direita ou da oposição, porque não cabe ao Exército fazer essas avaliações. Dá lugar, no mínimo, à dúvida, a de que esse golpe tenha tido políticos por trás. Quais, não sabemos ainda ao certo.

É muito estranho também que o presidente tenha utilizado demais esse episódio, para logo fazer um discurso que mais parecia o de um candidato presidencial do que de um presidente atribulado com questões muito mais urgentes como as que decorrem de um levante como esse.

P. - Por que há uma insatisfação nas ruas?

CM - Os números da macroeconomia não estão tão ruins como já aconteceu no passado.

A macroeconomia não vai tão bem como parece. Temos um déficit fiscal anual crônico de 8% do PIB, uma queda brutal das reservas do Banco Central, não há mais dólares, falta efetivo em moeda local. Nossas reservas de gás caíram praticamente ao chão. E há um processo de inflação crescente, pois a Bolívia consome muitos importados e ao não haver divisas para a importação, faltam esses produtos. Estamos deficitários em diesel e em gasolina.

P. - Quem devem ser os protagonistas das eleições de 2025?

CM - A oposição, exceto o sr., está em problemas jurídicos, o governador Camacho preso, a ex-presidente Jeanine Áñez, condenada.

P. - A pergunta mais importante é o que esperar de um tribunal constitucional ilegal controlado pelo governo e que continua no cargo após ter terminado seu mandato. Neste cenário, qual é a garantia de que vamos ter uma eleição medianamente transparente e não manipulada?

CM - Pela lei, a eleição ocorre no ano que vem, mas eu creio que, com essa corte, é bastante possível que essa data se altere. Outra preocupação é que a este governo resta 1 ano e 4 meses de gestão. Se a crise econômica se agravar, terá dificuldades de chegar ao fim de seu mandato.

No caso de Evo e Arce, por enquanto vemos um racha, mas o MAS é uma força muito poderosa, e poderá se renovar, existem nomes novos, como os de Andrónico Rodríguez [presidente do Senado]. A ver se estão dispostos a passar o bastão a uma geração mais jovem.

E sempre há a interrogação de que tipo de artimanha pode ainda usar Evo para tentar um quarto mandato totalmente irregular.

P. - O sr. será candidato?

CM - É ainda cedo, há conversas. Uma determinação forte neste momento é de que a oposição tenha um candidato único para vencer o MAS. O modelo do MAS para o país se esgotou. Não se deseja que termine ou desapareça como partido, pois é uma força política importante na Bolívia, mas a fórmula que usaram já não serve mais ao país.

RAIO-X | Carlos Mesa, 70

Presidente da Bolívia entre 2003 e 2005, foi jornalista e documentarista. Estudou literatura na Universidade Mayor de San Andrés e é membro da Sociedade Boliviana de História. Autor de diversos livros, entre eles "Cinema Boliviano, do Realizador ao Crítico", publicado em 1979.

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