«Chorei quando a Geórgia garantiu o apuramento para o Euro 2024»
«Chorei quando a Geórgia garantiu o apuramento para o Euro 2024»
Já apurado, Portugal vai encerrar a fase de grupos do Euro frente à Geórgia, seleção estreante em fases finais. País independente desde 1991, a seleção georgiana alcançou um feito histórico em março ao derrotar a Grécia e qualificar-se pela primeira vez para a fase final de um Campeonato da Europa.
«Foi um jogo histórico. A Geórgia é um paÃÂs de futebol, todos adoram a futebol. Desde pequeno que tinha esperança que chegássemos a uma grande competição, mas só conseguimos este ano. Chorei quando assegurámos a qualificação. O paÃÂs saiu todo àrua, foi uma festa enorme durante dois dias», recorda Giorgi Makaridze, guarda-redes que está há sete anos em Portugal, ao Maisfutebol.
Se o guarda-redes seguiu a qualificação do seu país à distância, Pedro Monteiro estava em Kutaisi, cidade que fica a três horas da capital Tbilisi. «Foi uma enorme festa, o povo georgiano ficou muito feliz. Nos dias anteriores ao playoff, só se falava do jogo. Como estamos numa cidade pequena, muitos dos meus colegas no Torpedo foram para a capital celebrar», relata o central de 30 anos.
Alcançada a primeira presença em Europeus, esta seleção georgiana subiu ao patamar da imortalidade. Mas será esta a melhor geração de sempre dos «Cruzadores»? O guardião, que na temporada que findou representou o Covilhã, defende que não.
«Nos anos 90 até meados de 2000, tivemos uma geração muito forte. Mas nesse perÃÂodo a Geórgia teve muitos problemas enquanto paÃÂs e faltou sempre organização. No entanto, a melhor geração da Geórgia é dessa altura, tÃÂnhamos jogadores que jogam num nÃÂvel alto como o Shota Arveladze, o Kaladze, o Kobiashvili, entre outros. Porém, agora temos um jogador que nunca tivemos antes: Kvaratskhelia», argumenta.
Herói na sua pátria, o talentoso extremo do Nápoles é a figura maior da Geórgia. Khvicha carrega o peso de uma nação, mas Makaridze alerta que há outros jogadores que Portugal deve ter em conta.
«A Geórgia é uma equipa muito unida e forte defensivamente. Individualmente temos jogadores muito fortes como o Mikautadze e o Chakvetadze, além do Kvaratskhelia. Estes jogadores fazem a diferença na frente. O Mikautadze transferiu-se para o Ajax na última época e acabou por seguir para o Metz em dezembro. Marcou muitos golos em França», avisa o guardião acerca do avançado que já leva dois golos na competição que decorre na Alemanha.
Makardize considera que a seleção portuguesa «tem os melhores jogadores e a melhor equipa de todas» embora acalente esperanças de que esta «facilite um bocado» frente à Geórgia. «Portugal está apurado, espero que facilite um bocado (risos). Sempre achei que a Geórgia tinha hipóteses de passar o grupo porque a Turquia e a Chéquia não são muito diferentes da Grécia», refere.
O crescimento da seleção da Geórgia não tem correlação com o campeonato do país, nota Pedro Monteiro.
«Há apenas dois jogadores entre os convocados que jogam na Liga da Geórgia, sendo que um deles é guarda-redes. Não há qualquer correlação. Ainda assim, desde que cheguei, há três anos, o futebol local tem evoluÃÂdo sobretudo ao nÃÂvel de infraestruturas. O futebol georgiano ainda tem uma intensidade baixa comparado com o português e os jogadores não têm o mesmo rigor tático. A exigência é diferente também, mas há qualidade, há atletas tecnicamente evoluÃÂdos. Nota-se que não chegam tão bem preparados ao patamar profissional. A chegada de estrangeiros, com mentalidades diferentes, acaba por elevar um pouco o nÃÂvel», disse.
«Estou triste, podia perfeitamente estar na Alemanha»
Internacional pela Geórgia em 17 ocasiões, Giorgi Makaridze não esconde a mágoa por ter ficado de fora da lista final do selecionador Willy Sagnol.
«Tinha esperança de estar no Euro. Certamente voltarei àseleção porque tenho capacidade para tal. Estou triste, podia perfeitamente estar na Alemanha. O problema é que fui para o AlmerÃÂa e na II Liga espanhola o campeonato não é interrompido para os jogos da seleção. Desde aànunca mais fui convocado», lamenta, adiantando que vai seguir o encontro frente a Portugal a partir de casa.
A Geórgia chega, de resto, ao Campeonato da Europa quase dois meses após uma onda de protestos contra a «lei russa» que afasta o país do caminho da União Europeia. Pedro Monteiro explica como viveu esse período em Kutaisi.
«Os protestos foram pacÃÂficos em Kutaisi. Cerca de 50 pessoas juntaram-se no centro e exibiram bandeiras da Geórgia e da União Europeu. Em Tbilisi foi diferente, houve confrontos entre a polÃÂcia e os manifestantes», relata.
«Os georgianos têm uma mentalidade um pouco fechada. Ainda há vestÃÂgios da influência soviética e a guerra com a Rússia está muito presente. Por vezes não são muito simpáticos para com os estrangeiros, sobretudo em Kutaisi, uma cidade antiga com uma população envelhecida. Visitar o centro da cidade é como recuar 50 anos», acrescenta.
Por seu turno, Makaridze sublinha que «futebol e política não se misturam». «O futebol e a política não se misturam. Não faz sentido. Também tivemos uma guerra com a Rússia e quando as duas seleções se defrontavam… não era por isso que a seleção ia jogar melhor ou pior», frisa, garantindo que o Europeu é «vivido como uma festa» na terra Natal.
Será que os georgianos vão outra vez festejar madrugada dentro?