Com derrocada do setor imobiliário, qual é a nova China?

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Com derrocada do setor imobiliário, qual é a nova China?

Investing.com – 2024 começa, de fato, após as comemorações do ano novo chinês. As mudanças estruturais na economia chinesa devem permanecer e as feridas abertas ainda tendem a demorar para sarar, incluindo as milhares de casas inacabadas e os momentos críticos de empresas como Evergrande (OTC:EGRNY) e Country Garden, protagonistas da turbulência em que vive o setor imobiliário. A China enfrenta um momento problemático nesta frente, que já foi o motor da economia, e um mercado de ações com desempenho fraco, diante da fragilidade da confiança do consumidor sobre as perspectivas de crescimento, o que pode exigir mais estímulos nos anos por vir. Um cenário geopolítico incerto, sanções americanas e população em declínio também são riscos monitorados.

Atingir a meta de crescimento da economia no ano passado foi uma vitória difícil e, neste ano, a China pode ter que se desvencilhar de mais pedras pelo caminho. Especialistas consultados pelo Investing.com Brasil avaliam que problemas estruturais do gigante asiático continuam, ainda que a China passe por um processo de transição nos setores de maior representatividade, saindo do foco no mercado imobiliário para o consumo das famílias e novas tecnologias na indústria. O entendimento é de que podem ser necessários mais estímulos para que a economia chinesa alcance seus objetivos. Recentemente, a China anunciou um corte na taxa de juros não esperado pelo mercado, mas permeiam as dúvidas se, mesmo assim, as medidas de apoio serão suficientes.

Dados de PMIs da China serão divulgados nesta quinta. Confira no Calendário Econômico do Investing.com

O crescimento do PIB fica mais difícil? Quais os impactos?

Na opinião de especialistas consultados pelo Investing.com Brasil, sim. A China conseguiu superar sua projeção anual de crescimento, com 5,2% em 2023, mas com o carregamento estatístico, políticas monetárias restritivas em muitos países, e crise de confiança em relação ao setor imobiliário local, os ajustes seguem em andamento. O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a China cresça 4,6% neste ano e 4,1% em 2025.

Um crescimento neste patamar é um aliado do processo de desinflação global, na visão de Fabiana D’Atri, economista do Bradesco (BVMF:BBDC4) Asset Management. A economista, em entrevista ao portal, disse que acredita que os vetores que movem a economia chinesa não estão muito melhores, mas pararam de piorar.

LEIA MAIS: Fabiana D’Atri: China tende a seguir com reestruturação e crescimento moderado

Mesmo com os desafios, os economistas não avaliam que há grandes riscos para a economia brasileira, forte aliada comercial do país. Com as informações que são difundidas no momento, o entendimento é que, mesmo que a economia chinesa cresça a ritmo mais modesto, ainda é uma expansão robusta na comparação com muitos países.

A conquista do cumprimento da meta de expansão do PIB foi “agridoce” porque não veio como esperado, na opinião de Lívio Ribeiro, pesquisador especializado em China da Fundação Getulio Vargas (FGV) e sócio da BRCG, que também concedeu entrevista ao portal. As famílias contribuíram, mas não tanto como as visões mais otimistas aguardavam. Foi preciso mais estímulos para conquistar o crescimento registrado.

CONFIRA AINDA: Lívio Ribeiro: China estaria enxugando gelo com políticas mal desenhadas

Os economistas concordam que os desafios conjunturais seguem presentes, com um consumo ainda em maturação e uma derrocada do mercado imobiliário. Demografia, desinvestimento e insuficiente aumento de produtividade continuam valendo em 2024, de acordo com Ribeiro, que enxerga dificuldades para que a China atinja um crescimento de 5% novamente e considera razoável o ajuste da meta para baixo.

Políticas econômicas adotadas pelo governo chinês

A China anunciou recentemente o maior corte já registrado na taxa de referência para hipotecas, na busca por uma sustentação do mercado imobiliário e da economia, além de aprovar empréstimos bilionários para financiamento de projetos.

O Banco do Povo da China (PBoC, o banco central do país) reduziu em 20 de fevereiro a taxa de juros de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) de cinco anos de 4,2% para 3,95% ao ano, enquanto manteve os juros de referência de um ano em 3,45% pelo sexto mês consecutivo. A autoridade monetária chinesa não alterava os juros desde agosto de 2023 e este foi o maior corte desde a adoção da taxa em 2019.

Segundo o Julius Baer destacou em nota ao mercado, o corte nos juros foi uma estratégia na direção certa e a economia precisa de mais apoio do governo. “No entanto, ainda são necessárias medidas mais fortes, dado que empresas ainda enfrentam dificuldades de liquidez”. Magdalene Teo, chefe de pesquisa de renda fixa da Ásia do Julius Baer, afirma que é provável que as fracas perspectivas de vendas de propriedades persistam e só demonstrem estabilidade daqui a um ou dois anos.

“O Banco Popular da China (PBoC) injetou 1 trilhão de yuans (US$ 139 bilhões) de liquidez no sistema bancário no início deste mês por meio de uma redução no índice de reservas obrigatórias, cortando também as taxas de juros sobre o repasse de fundos fornecidos aos credores para incentivar empréstimos a empreendimentos agrícolas e pequenas empresas”, recorda o Julius Baer.

Além disso, com o objetivo do que chama de um “crescimento sólido e estável” do mercado, o Ministério da Habitação e Desenvolvimento Urbano-Rural da China aprovou 123,6 bilhões de yuans em empréstimos para financiamentos para companhias em projetos “white list”, além de divulgar que 29,43 bilhões de yuans já foram liberados pelo governo.

Enquanto a economista do Bradesco espera que a China anuncie novas medidas na forma “de tudo um pouco”, incluindo ações estruturais voltadas para a indústria, para Ribeiro, as políticas adotadas pelo governo chinês estariam mal desenhadas, pois focam na oferta, enquanto o país sofre com problemas de demanda.

“As famílias que compravam imóvel não compram mais porque o preço está caindo e ele vai continuar caindo enquanto não houver demanda suficiente, e não compram porque há dúvida se imóvel vai ser entregue”, destaca Ribeiro, ao apontar dificuldades em saber as perspectivas de funcionamento futuro dessas empresas.

A China está enxugando gelo, em seu entendimento, pois enquanto o governo passa por uma mudança nos padrões chineses, incluindo o que considera um profundo choque negativo de demanda, segue com medidas de fomento para o setor produtivo que, segundo ele, não funcionam e estariam “mal desenhadas para lidar com o choque em curso”.

Os chineses costumam economizar para “dias chuvosos”, mas a pandemia foi mais para uma tempestade, segundo aponta o Danske Bank em relatório. Com perda de empregos e fechamento de negócios, famílias tiveram a renda comprometida, visto que a seguridade social é limitada. Para o estrategista-chefe Allan von Mehren, quando a poupança for reestabelecida, os gastos tendem a aumentar, mas isso ainda vai demandar paciência – e estímulos. “O governo tomou medidas para restaurar a confiança, mas será preciso ter paciência”. Levaria tempo para que a confiança seja recuperada e as empresas precisam perceber uma demanda mais forte.

Transição para uma nova China

Não há “grande demais para quebrar”. O que é sustentável, deve se manter. Casas são para morar, não para especular. A visão pragmática sobre a economia leva ao questionamento sobre qual China o governo pretende construir e onde vai concentrar seus esforços. Com incorporadoras em apuros, incluindo a Evergrande e Country Garden, os novos aportes do governo priorizam a entrega de casas, não o pagamento de dívidas com credores, recordam os especialistas consultados. Enquanto a falência da Evergrande foi decretada em Hong Kong, a Country Garden, que já foi a maior incorporadora da China, foi afetada mais recentemente por uma petição de liquidação.

O Danske Bank entende que a crise habitacional persiste, mas o governo agora mira na estabilidade, não mais na recuperação, tendo em vista as medidas para elevar as vendas de moradias que tiveram apenas impactos limitados, afetando a confiança. Os riscos de uma crise financeira mais robusta seguem no radar, e trazem preocupações após o fim das últimas esperanças de um possível apoio à Country Garden.

Como a falência da Evergrande foi decretada na Justiça de Hong Kong, ainda restam dúvidas se ela será decretada na China Continental, aponta Ribeiro, que indica que o debate está em aberto e não considera a medida como uma surpresa. A falta de confiança dos consumidores é um problema sério e que continua a afetar o país. Enquanto isso, o governo opta por crédito para incorporadoras, após medidas de redução de alavancagem, o que o especialista avalia como disfuncional e que não resolve o problema.

Nesse cenário, demografia, com medidas que freiem a diminuição da população, que veio antes do esperado, além de inovação, seriam os problemas estruturais mais urgentes, segundo o Danske Bank. O foco em tecnologias que elevem a produtividade seriam uma chave para compensar o declínio demográfico, mas há outros receios. “A inovação tem sido classificada no topo da lista de prioridades da China há muitos anos, mas a urgência agora está relacionada às sanções tecnológicas dos EUA e da Europa no espaço dos microchips, onde a China é vulnerável”. O país estaria com avanços rápidos em outras frentes tecnológicas, incluindo digitalização, automação e atualização da manufatura, tecnologia verde e novos materiais, sendo estas frentes que conquistaram papel central no processo de política industrial ao longo da última década, e estariam dando frutos neste momento.

Fabiana D’Atri concorda que a China vai continuar seu processo de reestruturação, em um movimento já desenhado nos últimos anos, desde o início das medidas regulatórias que miravam na diminuição da alavancagem do setor imobiliário. Para a economista do Bradesco, a crise afetou pequenas e grandes empresas, ainda que as maiores sejam as mais lembradas na mídia. No entanto, com o entendimento de que as operações não sustentáveis devem acabar saindo do mercado, a China tem optado por uma transição que, na opinião dela, tem sido ordenada e suave, considerando a magnitude do ajuste.

“Esse novo setor imobiliário vai ser menor, vai ser menos alavancado, não vai ser visto como uma alternativa de investimento, o próprio governo repete que casa é para morar e não para especular”. A participação desse setor da economia tende a diminuir, avalia a especialista, indicando que o processo pode ainda levar alguns anos.

A economista menciona como frentes de crescimento econômico apontadas pelo governo o consumo doméstico e a indústria, com um upgrade tecnológico, incluindo energia renovável, carros elétricos, baterias, além da indústria tradicional chinesa.

O governo ainda mira no turismo doméstico como uma das formas de alavancar a economia. Como menciona a publicação internacional The Economist, após o teste com o ano novo, o governo quer incentivar a atividade turística local em áreas como a ilha tropical de Hainan, que teria um tamanho próximo de Taiwan, e seria um modelo dessa nova política. A cidade é localizada em um ponto estratégico, militarizado, no Sul, que hospeda o evento anual Bo’ao, apelidado de Davos da Ásia.

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