A prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, trabalha em seu gabinete, em 12 de abril de 2024
A prefeita de Amsterdã considera que a regulação do uso de drogas pesadas, como a cocaína e o ecstasy, seria o único meio para combater o narcotráfico e seus efeitos “desastrosos” para a juventude holandesa.
A prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, trabalha em seu gabinete, em 12 de abril de 2024
“Poderíamos imaginar que a cocaína possa ser obtida em farmácias ou no sistema médico”, disse a prefeita, Femke Halsema, em entrevista com a AFP.
A líder ecologista, de 57 anos, governa desde 2018 a cidade mundialmente conhecida por seu dinamismo comercial e turístico, e também por seus coffeeshops, habilitados para a venda e o consumo de cannabis.
Mas mesmo assim, o narcotráfico continua movimentando bilhões de euros ao ano e representa uma ameaça para os jovens vulneráveis.
“Penso que algumas drogas são perigosas e que seria sensato reduzir seu consumo”, declarou Halsema.
Mas “a forma como estamos fazendo não ajuda (…) E será preciso refletir sobre métodos melhores para regular as drogas”, acrescentou.
Em Amsterdã, importante plataforma para o narcotráfico, 80% das atividades da polícia se concentram no combate ao crime vinculado ao tráfico de entorpecentes, explicou.
O impacto do narcotráfico é “desastroso” para a juventude de Amsterdã, onde o uso de drogas se banaliza rapidamente, assim como em outras capitais europeias, afirmou.
Apesar das medidas policiais, “o preço da cocaína nas ruas não variou e, portanto, [a repressão] não surtiu efeito maior”, admitiu.
“Então, não é ridículo que deixemos o tráfico de drogas nas mãos dos criminosos e que não tentemos encontrar um modelo de mercado civilizado?”, pergunta Femke Halsema.
– Discussão moral –
Este posicionamento é criticado especialmente pelo prefeito da cidade belga da Antuérpia, Bart de Wever, “grande partidário da guerra contra as drogas”, diz Halsema.
Esta cidade portuária se tornou nos últimos anos a principal porta de entrada da cocaína na Europa.
As autoridades de outra cidade importante para o tráfico, Roterdã, atacam outro aspecto da cadeia e lançaram no ano passado uma campanha que tem como alvo os usuários, após indicarem que cada “linha” ou “comprimido” apoia as redes criminosas.
“Os consumidores são criminosos? Não acredito nisso”, e criminalizá-los não surtiu os efeitos esperados do outro lado do Atlântico, onde as prisões estão lotadas e os efeitos para a saúde continuam desastrosos, segundo Halsema.
Nos Países Baixos, assim como em muitos outros países, o debate é “emocional e moral. ‘As drogas prejudicam a saúde, as drogas são ruins, usá-las é imoral'”, enumera a prefeita.
“Poucas vezes há uma discussão econômica, mais pragmática ou financeira a esse respeito”, acrescenta.
Agora que o governo “conservador” do país “não quer falar disso”, Halsema abriu uma discussão internacional.
No fim de janeiro, ela convidou dirigentes de todo o mundo para discutir como as cidades deveriam regular as drogas.
A ideia avança, segundo o manifesto publicado após a conferência, assinado, entre outros, pelo prefeito da cidade de Berna, na Suíça, e pela ex-prefeita da capital colombiana, Bogotá.
Em todas as partes do mundo, “quem reflete um pouco mais tempo sobre a forma como é possível realmente reduzir o domínio do narcotráfico, chega a esta conclusão”, aponta esta ex-pesquisadora em criminologia.
“Não há de fato nenhuma alternativa”, acrescenta a política, que espera chegar aos organismos multilaterais, como a ONU e a UE para influenciar as autoridades nacionais.
– “Narcoestado” –
Desenvolver um mercado “regulamentado, sadio e controlado” leva décadas, diz.
Será preciso também pensar em “toda a cadeia, desde a produção (…) Se só se organiza uma parte, isso atrai os criminosos”, pontuou.
Halsema rejeita a ideia às vezes apresentada de que a responsável pela explosão do tráfico de cocaína no país é a política holandesa tolerante em relação às drogas leves, com a venda de maconha nos famosos coffeeshops sendo tolerada, mas não a produção e o abastecimento.
“Isso não tem nada a ver em sermos brandos ou repressivos. Isso se deve, simplesmente, à nossa situação geográfica e a nossas tradições comerciais”, afirma.
A problemática é enorme, ressalta, lembrando dos três homicídios vinculados ao processo contra o chefe do narcotráfico Ridouan Taghi, na capital holandesa, nos últimos anos, entre eles o do jornalista Peter R. de Vries.
“O sistema judicial está sob pressão e isso custa somas incríveis”, afirmou.
“Neste sentido, evoluímos lentamente, mas certamente para um narcoestado onde, obviamente, a luta contra as drogas será um dos nossos temas mais importantes”.
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