O que a IA teria a ver com um dólar mais forte e próximo de R$5, segundo a Genial

O que a IA teria a ver com um dólar mais forte e próximo de R$5, segundo a Genial

Investing.com – Com dólar saltando de R$4,90 para mais próximo de R$5 desde o final de fevereiro, o movimento de alta no dólar teria ido na contramão do que tradicionalmente ocorre em “períodos de bonança”, com valorização dos principais índices do globais, quando, em contramão, o dólar tende a cair. Entre os motivos, o otimismo e o boom da inteligência artificial (IA) pode explicar o movimentando, atrapalhando fluxos para países emergentes como o Brasil, de acordo com a Genial Investimentos. Confira a entrevista com Luan Aral, especialista em dólar da Genial Investimentos.

Investing.com – Por que essa leve alta do dólar em fevereiro foi na contramão de momentos em que índices renovam máximas históricas? E o que a IA teria a ver com isso?

Luan Aral – Estamos atingindo a menor volatilidade do dólar dos últimos quatro anos. Para quem opera câmbio, opera no sentido especulativo, não é tão agradável assim. Quem opera especulando gosta de volatilidade e agora, nesse cenário de volatilidade baixa, é muito bom para as empresas na verdade. Os ruídos já aparecem, infelizmente, na minha opinião isso vai durar pouco tempo.

Em relação a como o nosso câmbio pode estar sendo afetado justamente por essa questão da Inteligência Artificial (ia), fica muito claro quando olhamos, por exemplo, a nossa expectativa de renda variável aqui no Brasil.

Estamos vendo saída de fluxo aqui no Brasil em relação ao câmbio e isso naturalmente tende a continuar enquanto essa onda de Inteligência Artificial perdurar. Especialmente porque esse dinheiro está migrando para locais onde a gente pode ter essa rentabilidade com segurança e com rendimento, que é uma combinação rara de acontecer, mas os investidores estão procurando isso o tempo todo. E é uma combinação que está acontecendo em alguns lugares do mundo. Na Alemanha, existem algumas empresas que podem se beneficiar disso também, então a gente tem um fluxo indo para lá. Nos Estados Unidos, acho que é inegavelmente é o polo central ali dessa questão de inteligência artificial com a empresa Nvidia (NASDAQ:NVDA) sendo a protagonista.

Abaixo delas está sendo ramificado uma centena de outras empresas que estão gerando oportunidades também que estão surfando essa onda, de forma muito menor do que a Nvidia, com AMD (NASDAQ:AMD), Intel (NASDAQ:INTC) e outras empresas que acabam se beneficiando, assim como a TSMC na Ásia, uma empresa gigantesca e que naturalmente está se beneficiando.

A gente aqui fica com o troco. A gente é produtor de commodities, e a composição da matéria-prima infelizmente não serve nem para Inteligência Artificial. Como a gente é altamente dependente de China que, infelizmente, não vem apresentando bons resultados, então o investidor ele coloca na mesa, o que que ele tem disponível. E o que ele tem disponível nesse momento é o hype da IA. E naturalmente, o que sobra, o excedente de investimentos, o investidor acaba direcionando para onde tem essa possibilidade de retorno.

Nossas empresas estão bastante descontadas aqui no Brasil. Quando a gente olha paro nosso índice Ibovespa, ele está exatamente no mesmo patamar de 2019. Então já se passaram praticamente quatro anos desde o início da pandemia e o nosso mercado de renda variável, ele não se valorizou. O dinheiro que entrou para Brasil, infelizmente aquele dinheiro é interesseiro, vem através do carry trade, buscando esse diferencial de juros entre o Brasil e o mundo, que está bastante atraente. Então o investidor tem a possibilidade de tirar dinheiro do Japão que é um financiador global, ele tem a possibilidade de tirar dinheiro dos Estados Unidos, e investir em países com grau especulativo buscando esse rendimento, esse diferencial de juros que aqui no Brasil novamente está bastante atraente.

Isso tem um custo, então conforme a gente vai tendo essa taxa de juros aqui no Brasil mais baixa e mantendo mais alta lá nos Estados Unidos, esse diferencial ele fica menor, então a gente pode ter um pouco de saída também por esse motivo em relação ao câmbio, mas realmente um dos principais motivadores é porque a gente não conseguiu e e não estamos conseguindo surfar essa onda de gente de Inteligência Artificial, então a gente teve aí realmente uma saída de fluxo no Brasil bastante grande.

Inv.com – É hora de comprar dólar, na visão da Genial?

Aral – O nosso cenário é de um dólar mais baixo neste momento, trabalhamos com dólar mais baixo do que esse patamar justamente porque as nossas condições locais estão mais favoráveis do que os nossos pares emergentes. E, quando os Estados Unidos começam a sinalizar um corte de juros, os emergentes também são bastante beneficiados. Lembrando que a gente está atrasado desde 2019, nossos papéis estão na mesma cotação nosso índice Ibovespa está bastante atrasado.

Então trabalhamos com o dólar mais baixo justamente por essa entrada de fluxo estrangeiro que a gente pode ter aqui nos próximos meses em decorrência da nossa menor taxa de juros e da menor taxa de juros lá dos Estados Unidos.

Mas lembrando que a gente tem um momento em que o carry trade vai embora e eleva o câmbio e um outro momento do reflexo desse benefício que pode ser gerado através do corte de juros globalmente falando, não só aqui no Brasil e também não só nos Estados Unidos.

Inv.com – E em relação a pessoas que gostariam de adquirir dólar para viagens?

Aral – Se o seu interesse for viajar, não vai fazer diferença você comprar dólar todos os meses, então uma vez por mês, ou a cada 15 dias compra um pouquinho de dólar. Então se o dólar subir muito ou se o dólar cair muito o seu preço médio vai ficar em um patamar bastante agradável, você não vai ficar descontente demais e nem feliz demais. A pessoa vai se proteger, como investidores que fazem hedge cambial, só que numa escala diferente.

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