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Vivemos em um planeta em que a impermanência é um dos principais desafios, se não o maior deles. Desde que somos gestados corrermos o risco da morte, e a partir desse momento carregaremos essa angústia dentro de nós, pois sabemos que em algum momento iremos partir. O mais desafiador no meu ponto de vista é que não teremos escolha e iremos nos deparar com um total desconhecido, pois mesmo que as religiões nos deem uma direção ninguém sabe de fato o que virá depois. Mas também não podemos esquecer que a nossa partida não é a única, pois se fosse talvez essa passagem pela Terra fosse mais tranquila. Porém, perdemos pessoas que amamos, que fazem a nossa vida ter sentido, que nos dá uma identidade, uma família.
A morte das pessoas que amamos causa um impacto irreparável dentro de nós, entramos em um estado de caos emocional. A dor do luto nos faz ficar de cara com a impermanência que tanto queremos negar apesar de vivermos sob o efeito dela todos os dias. Acordamos com o sol, depois a noite, temos o calor e o frio, perdemos o emprego, mudamos de cidade, o animal de estimação morre, e assim vamos experienciando diversas situações que nos colocam em estado de luto.
Recentemente eu assisti um filme chamado “Um lugar” em que a personagem deprimida após a perda do marido e do filho se muda para as montanhas na busca de se refugiar na solidão. Cansada de “ter que” ficar bem estando vivendo o processo de luto, ela se coloca em um lugar sem recursos em uma busca desesperada de lidar com a perda, mas acaba salva por um lenhador que aos poucos a ajuda a ressignificar o sentido da vida. A personagem busca intuitivamente viver o luto em sua totalidade, sem se esconder da dor, sem usar amortecedores, e sim mergulhando nela.
A nossa cultura anda na contramão quando o assunto é a morte, não aprendemos a olhar para a impermanência, sentimos medo e ficamos vulneráveis frente às perdas. Isso acontece porque desenvolvemos apego, temos dificuldade em soltar, pois isso significa perder uma parte de nossa identidade que dá sentido a nossa vida. Isso é profundo, nascemos em uma família, desenvolvemos laços com outras pessoas, arrumamos um trabalho, e a maioria das pessoas se prendem a esses vínculos para sentirem-se seguras, para sustentar o ego. Por que devemos temer o fim da vida sendo que estamos em contato com a morte todos os dias? O que esse medo, esse não olhar diz sobre nós?
O trabalho do desapego é muito profundo, abrimos mão de ter que nos sentir presos a determinadas pessoas ou coisas, simplesmente deixamos fluir. Talvez esse seja o segundo maior desafio, como amar sem ter que controlar? Como ter pessoas conosco e ao mesmo tempo respeitar a chegada e a partida como algo natural? Ou mesmo como viver o agora da melhor forma possível conscientes de que tudo passa? Mas quando me refiro à consciência não é só como uma informação, e sim viver essa informação.
Quando mudamos a nossa percepção a respeito da importância do fluir da vida, aceitando que vivemos em um planeta onde a impermanência se faz presente, começamos a nos relacionar com as pessoas e com as coisas materiais de outra forma. Entendemos que o mais importante é viver o presente com sabedoria, e nessa caminhada temos muito a aprender, afinal mudar essa relação do apego e da morte requer muito aprofundamento pessoal e espiritual.
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