As jogadoras da seleção irlandesa de futebol sub-17 não viraram as costas para o hino nacional de Israel como protesto momentos antes de uma partida entre os dois times, ao contrário do que alegam publicações visualizadas mais de 179 mil vezes nas redes sociais desde 24 de fevereiro de 2024. Gravações do evento mostram que as duas equipes estavam alinhadas para o mesmo lado enquanto o hino nacional de Israel, o “Hatikvah”, tocava. As atletas irlandesas apenas mudaram de posição quando o hino nacional da Irlanda começou a tocar, a fim de que ficassem de frente para a bandeira de seu país.
“Jogadoras irlandesas viram as costas para o hino de Israel. Jogo terminou Irlanda 3×0 Israel”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X, no TikTok e no YouTube.
O conteúdo também circulou em bengali.
Captura de tela feita em 26 de março de 2024 de uma publicação no X
Na sequência, jogadoras e árbitras estão alinhadas em um campo de futebol. Contudo, o time da Irlanda, vestindo camisas verdes, está virado na direção oposta ao restante da fila.
O conteúdo foi compartilhado no site israelense Ynetnews com a alegação falsa de que mostraria a equipe irlandesa “protestando contra a campanha militar de Israel na Faixa de Gaza”.
Tensões acerca da guerra entre Israel e Hamas têm sido refletidas no ambiente esportivo, como recepções hostis enfrentadas por atletas israelenses em diversos eventos.
Em 18 de fevereiro de 2024, a israelense Anastasia Gorbenko foi vaiada em uma competição mundial de natação no Catar. O momento ocorreu dias após o time de basquete feminino da Irlanda se recusar a apertar as mãos de jogadoras israelenses antes de uma partida em Riga, na Letônia.
A guerra teve início após um ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultou em cerca de 1.160 mortos em Israel, a maioria civis, de acordo com um levantamento da AFP a partir de números oficiais israelenses.
Os militantes islamistas também fizeram cerca de 250 reféns. De acordo com Israel, 130 deles permanecem em Gaza, dos quais 34 podem ter morrido.
Em retaliação ao ataque, Israel lançou uma ofensiva militar que já matou 32.552 pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas.
Entretanto, as imagens virais não mostram a equipe irlandesa protestando contra Israel durante a execução do hino nacional.
De frente para a bandeira
Uma pesquisa por palavras-chave no Google levou a uma imagem do momento publicada em um artigo do jornal Irish Mirror em 23 de fevereiro de 2024.
A matéria cita a Associação de Futebol da Irlanda (FAI, na sigla em inglês), que negou as alegações de que o time teria virado as costas quando o hino nacional de Israel começou a tocar antes da partida em Tirana, na Albânia.
“A Associação de Futebol da Irlanda gostaria de corrigir uma interpretação errada de que a nossa seleção irlandesa de futebol feminino sub-17 virou as costas durante o hino nacional de suas adversárias antes da partida contra Israel no Campeonato Europeu de Futebol Feminino Sub-17 em Tirana hoje”, afirmou a nota.
“Ambas as equipes estavam viradas para a mesma direção durante a execução do hino nacional israelense, antes que o time da Irlanda se virasse para olhar a sua bandeira tricolor, como é tradição entre vários times irlandeses, durante a execução do Amhrán na bhFiann [hino na Irlanda], antes de voltar-se novamente para concluir os protocolos usuais que antecedem a partida.”
Os veículos Irish Independent e Irish Times também publicaram a explicação da FAI.
Um vídeo completo da partida de 23 de fevereiro — que foi transmitida ao vivo pela Associação de Futebol da Albânia — mostra que os dois times estão de frente para a mesma direção enquanto o hino nacional de Israel, “Hatikvah”, era executado.
A seleção da Irlanda virou quando o próprio hino nacional estava prestes a começar, como é possível ver no minuto 4:06.
Comparação feita em 27 de março de 2024 entre uma publicação no Facebook (E) e a transmissão da partida no YouTube
Ao final da partida, a equipe irlandesa venceu a israelense por 3 a 0.
A AFP já verificou anteriormente desinformação sobre o conflito entre Israel e o Hamas.
Referências
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