Pais de alunos do Vera Cruz pedem proibição do celular na escola em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um grupo de famílias do Vera Cruz, colégio de São Paulo que é referência em pedagogia, enviou uma carta à direção pedindo que o uso do celular pelos alunos seja proibido em todo o ambiente escolar, tanto nas aulas quanto em intervalos e recreio.

O documento, chamado de Carta Aberta à Direção, começou a circular nesta semana entre grupos de pais e até esta quinta-feira (22) contava com 818 assinaturas —a escola, que fica em Pinheiros (zona oeste), tem 1.800 alunos matriculados.

A demanda das famílias se insere em um movimento, que cresce no Brasil e em outros países, em prol da ampliação das restrições e até do banimento do celular nas escolas, com o objetivo de conter os danos do uso excessivo do aparelho à saúde mental e ao aprendizado de crianças e adolescentes.

A restrição ao celular foi fortemente recomendada em um relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) do ano passado, que apontou pesquisas que mostram uma associação negativa entre o uso da tecnologia e o desempenho dos estudantes.

No início deste ano letivo, a Escola Castanheiras, que fica em Tamboré, bairro de condomínios de alto padrão em Barueri, na Grande São Paulo, lançou o movimento Celular Zero na Escola. O aparelho foi banido do colégio por completo, com respaldo da maioria das famílias. Agora, por meio do Instituto Castanheiras, ligado à escola e que atua na formação de professores da rede pública, a experiência do banimento do celular e a forma de fazê-lo serão compartilhadas gratuitamente com instituições públicas e particulares, com a consultoria de especialistas.

O resultado, em poucos dias desde o início das aulas, já é de melhora significativa na concentração dos estudantes durante as aulas e na convivência entre si. Os alunos estão conversando e brincando mais, praticando esportes e lendo mais livros.

No Vera Cruz, os pais afirmam na carta que, para eles, “o uso do celular não favorece momentos de socialização”, ao contrário, os restringe. Dizem que a presença do aparelho na escola expõe as crianças “a conteúdos e aplicativos nocivos e viciantes, não necessariamente permitidos para a sua faixa etária”.

A carta também menciona o risco de que estudantes captem imagens não autorizadas, “podendo causar danos à saúde mental e graves consequências de longo prazo”. Para as famílias, “a permissão de celulares no período escolar, especialmente nos intervalos e recreios, transmite a ideia de que seu uso é normal e esperado”.

Solicitam, então, que a regra atualmente em vigor, do não uso em sala de aula, seja reforçada, e que as famílias e a escola avancem, juntas, para “a proibição clara e inequívoca do uso de celulares pelos alunos, durante todo o período em que estiverem sob os cuidados do Vera, incluindo recreios, intervalos, almoço, entre outros”.

Na quarta-feira (21), dois dias após receber a carta dos pais, a direção do Vera divulgou regras para o celular na escola. O uso seguiu vetado até o 5º ano, como anteriormente.

A partir do 6º ano, a escola optou por manter a proibição nas aulas, mas decidiu não ampliar o veto para o recreio e os intervalos. Acrescentou, contudo, que recomenda que os alunos não levem o celular para a escola. O texto aponta estudos sobre prejuízos das redes sociais, que “podem induzir ao vício e ao consumismo com consequências graves para todos e especialmente dramáticas para muitas crianças e adolescentes”.

À Folha de S.Paulo Regina Scarpa, diretora pedagógica do Vera Cruz, afirmou que a escola respeita e apoia o movimento das famílias.

“É uma preocupação convergente com a escola”, diz. “A gente converge não no sentido de fazer exatamente o que eles demandam, ao menos não por ora, mas no de cumprir com a nossa responsabilidade na formação de um cidadão crítico, inclusive sobre a relação com o universo digital”, afirmou.

Por enquanto, diz Regina, o Vera prefere seguir o caminho da recomendação, e não o da proibição, na tentativa “de dar um voto de confiança aos alunos” e ajudá-los “na construção progressiva da autonomia”. “Se os alunos não quiserem levar o celular para a escola, ótimo, não vamos precisar deles para nenhuma atividade pedagógica. E, se for preciso, vamos fornecer aparelhos controlados por nós, sem redes sociais.”

Regina diz que as regras podem mudar, a depender do avanço das pesquisas nessa área e de como a realidade se coloque no dia a dia da própria escola. Atualmente, segundo ela, a maioria dos alunos do 6º ao 9º ano não fica no celular no recreio. “No ensino médio eles usam mais, até para pagar o lanche, pedir comida etc.”

Diretora da Castanheiras e especialista em formação de professores, Claudia Siqueira tem um raciocínio em outro caminho. Para ela, o crescente vício em celular em toda a sociedade exige da escola o banimento. Em sua visão, deixar o controle para crianças e jovens acaba sendo inócuo, além de injusto. “É uma nova pandemia, estamos vivendo como zumbis, com as cabeças baixas, imersos no celular. Se nem adultos conseguem controlar esse uso, como exigir isso de crianças e adolescentes?”

Ela conta que, quando a escola anunciou que proibiria o uso do celular, alunos do 3º ano do ensino médio a procuraram para reivindicar que, como eram do último ano, não fossem obrigados a deixar o aparelho nas caixas com a coordenação. “Eu concordei, disse que eles poderiam, então, se responsabilizar por desligar o celular e não utilizá-lo na escola”, contou. “Mas 40% deles acabaram dizendo que não conseguiriam se controlar e preferiam que o aparelho fosse guardado pela escola.”

Os métodos para restringir o celular e bani-lo se ampliam. No Rio, a proibição virou lei para as escolas municipais. Na escola particular Alef Peretz, no Jardim Paulistano, zona oeste de São Paulo, conforme mostrou a Folha, foi adotada uma pochete que tranca o celular.

O banimento nas escolas ganhou apoio de peso no Brasil, do médico e sanitarista Daniel Becker.

“O recreio é um momento fundamental para a criança, onde vai aprender habilidades cruciais para a vida”, diz, em um vídeo. “É o lugar de brincar, conversar, se autoconhecer, desenvolver a comunicação, se movimentar. Um lugar de barulho, risos. E hoje [com o celular] é silencioso. Como pode a gente destruir um momento tão importante da infância?”

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