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O presidente Lula da Silva não mencionou a palavra “comércio” ao discursar aos líderes da União Africana reunidos na Etiópia, no último dia 17. Preferiu fazer um chamado para a organização integrar o G-20, presidido pelo Brasil neste ano sob o pilar do combate à fome, e atraí-los para os objetivos da agenda de transição energética e digital do Sul Global. O ativismo pela mudança da ordem mundial prevaleceu, em sua fala, sobre o melhor interesse nacional no aprofundamento da relação econômico-comercial entre os dois lados do Atlântico. Embarcou para o Egito e a Etiópia sem entender o atual contexto africano e seu potencial. De lá, retornou sem ter apresentado um plano estratégico – nem ao mesmo um esboço sobre como retomar a intensidade que o comércio Brasil-África um dia já teve.
O Brasil visivelmente perdeu terreno no outro lado do Atlântico, depois do impulso nos dois primeiros mandatos de Lula da Silva. Se em 2012 as exportações brasileiras para a África representaram 5% do total de embarques do País, em 2023 houve recuo para 3,9%. Na outra mão não foi diferente. A participação de bens africanos no total importado pelo País minguou em 2,5 pontos porcentuais. Com ambos os protagonistas mais interessados em atender à demanda da China, o intercâmbio comercial não chegou a US$ 25 bilhões no ano passado. Lula provou estar ciente do declínio do comércio Brasil-África – ou não teria mencionado à imprensa, ainda em Adis Abeba, a queda substancial nas trocas de bens brasileiros com a Nigéria. Mas, diante do quadro desalentador, repetiu sua velha panaceia: transformar os poucos diplomatas brasileiros no continente em mascates.
Com todas as suas mazelas e conflitos, a população, a economia e a renda da África crescem, ao contrário de outras regiões do globo, e contribuem para que, até 2030, o consumo aumente em US$ 3 trilhões no continente, segundo estudo da consultoria McKinsey. O impulso econômico da região na última década foi alavancado, sobretudo, por investimentos da China. Embora tardia, atualmente há convicção na maioria das nações africanas que a parceria com Pequim não passava de uma armadilha. Resultou na dívida total de US$ 170,1 bilhões de 49 dos 54 países da região, cobrada com métodos de agiotagem, na alta dependência do comércio chinês e no risco de inadimplência.
Tal contexto abre uma nova dimensão para a aproximação do Brasil com a África que, aparentemente, Lula da Silva não parece enxergar. Não se trata de despejar nos países africanos volumes de investimentos públicos que o Brasil mal consegue destinar a seus setores. Basta ao governo readequar seus instrumentos de soft power, aproveitar políticas públicas já existentes, como os incentivos da Nova Indústria Brasil, e reestruturar as redes de financiamento e de seguro para alavancar a presença do empresariado nacional na África com menores riscos. Essencialmente, é preciso estimular o setor privado, ausente na comitiva presidencial no Egito e na Etiópia, a prospectar negócios e estabelecer elos por suas próprias pernas.
Os acordos assinados pelo governo brasileiro com o Egito e a Etiópia evidenciaram sua incapacidade de avaliar o potencial econômico-comercial da África nas próximas décadas e de oferecer o que já está à disposição. A cooperação em educação, agricultura, ciência e tecnologia e saúde obviamente tem seu valor na estratégia política e pode desdobrar-se em futuros negócios, mas nada que se compare aos resultados de uma consistente ofensiva comercial.
É desanimador observar que, desde os anos 1970, o Brasil tenha desperdiçado parcerias longevas e com alto potencial de atender aos interesses nacionais na África para lá buscar apenas o eco a suas ambições na seara política global. Lula da Silva apostou em demasia no seu carisma, um elemento importante nas suas visitas do passado ao continente, e em propostas retóricas e sem fundamento. Esqueceu-se de que a África não é mais a mesma de 20 anos atrás – isto é, não será o mesmo peão de sua ambição internacional nem cativa de sua retórica terceiro-mundista.
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