SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Wagner Moura mora há seis anos nos Estados Unidos e, nesse tempo, ocupou o papel do latino-americano em diversas produções estrangeiras, como “Narcos”.
“Guerra Civil”, que estreia nesta semana, serve como uma espécie de virada. Não apenas por ele ser o protagonista de um dos blockbusters mais aguardados do ano, mas porque, em determinado momento, ele diz em alto e bom som: “Eu sou americano”.
Nascido em Salvador, o ator não está no filme ocupando uma politicamente correta cota latina, mas como um membro qualquer do elenco. É algo que Alice Braga também testemunha há alguns anos, e que repetirá com “Matéria Escura”, superprodução de suspense e ficção científica do Apple TV+ que ela já divulga e que estreia em 8 de maio.
“É um movimento que mostra muito sobre o nosso talento, mostra que a gente tem muito ator bom, temos uma indústria aqui”, diz Moura.
“Eu acredito que Hollywood está passando por um momento muito bonito de exposição para talentos latino-americanos, então enquanto brasileiros e portanto latinos, temos que abraçar isso. Somos uma nação muito incrível, com uma cultura muito poderosa e muito potente. A indústria está aberta para isso agora”, diz ainda Braga.
A virada do mês de abril para maio, curiosamente, marca um momento de destaque para os brasileiros em produções estrangeiras. É como o ápice de um movimento que se engrandece há anos, desde o surfista gato e mudo de Rodrigo Santoro em “As Panteras”, mas que agora parece atingir um nível de maturidade.
Especialmente porque produtores e diretores estrangeiros estão vendo os brasileiros como reforço na mão de obra anglófona com a qual já estão habituados a trabalhar.
Tia de Alice, Sonia Braga também reforçou a tese como uma freira italiana no terror “A Primeira Profecia”, uma das principais apostas do gênero no ano. Nos bastidores, ainda neste mês, Fernando Meirelles assumiu a direção de episódios de “Sugar”, do Apple TV+, e “O Simpatizante”, da HBO.
“Isso diz muito sobre o mundo hoje, sobretudo com as plataformas de streaming. Os talentos circulam rapidamente”, diz Wagner Moura, que se prepara para dirigir seu primeiro filme nos Estados Unidos, “Last Night at the Lobster”.
À lista se juntam Gabriel Leone em “Ferrari”, de Michael Mann, e Sophie Charlotte em “O Assassino”, de David Fincher. Marco Pigossi recentemente enfrentou super-heróis na série “Gen V” e no mês passado exibiu no South by Southwest o drama “High Tide”, dirigido por seu marido, o italiano Marco Calvani.
Também foi na Itália que surgiu o primeiro trabalho estrangeiro de Carol Duarte, que apresentou no Festival de Cannes do ano passado “La Chimera”, da diretora Alice Rohrwacher. “Somos atores que dão conta de todo tipo de material”, diz ela. Seu filme estreia na semana que vem.
As raízes latinas ainda são reforçadas dentro das próprias narrativas, no caso da série espanhola “Elite”, com André Lamoglia no elenco, e em “Música”, filme estrelado por Camila Mendes e Rudy Mancuso, americanos com pais brasileiros.
“É legal vestir a nossa cultura brasileira com orgulho, porque não somos muitos em Hollywood. Mas, ao mesmo tempo, nós não somos os verdadeiros nascidos e criados no Brasil”, disse Mendes em entrevista o F5, site de entretenimento da Folha, no começo do mês.
Carol Duarte, no entanto, faz uma ressalva. “A qualidade do que é produzido aqui não está abaixo. A gente pode achar que o que é produzido fora é mais importante, e isso é fruto de uma colonização que funda a nossa história, mas a gente vem fazendo um cinema relevante para o mundo há muito tempo”, afirma.
Tanto que Wagner Moura não pretende ficar apenas nos Estados Unidos. Antes de voltar ao país, ele grava em Recife, a partir de junho, o novo filme de Kleber Mendonça Filho. “Eu penso sempre nas coisas que vão me fazer bem como artista.”
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