Durante a edição 2018 da ARCO, importante feira de arte espanhola, o colecionador Tatxo Benet adquiriu a obra Prisioneiros Políticos na Espanha Contemporânea, do artista Santiago Sierra. A obra inclui 24 painéis com fotos de Oriol Junqueras, Jordi Sànchez e Jordi Cuixart, ativistas do movimento pela independência da Catalunha. Pouco depois da negociação, a galeria “apagou” a peça do histórico de seu catálogo. O título havia sido criticado pelo governo espanhol, que repudiou a expressão e alegou que não existiam presos políticos no país. “Atos assim dão sentido e razão a uma peça como essa, que precisamente denunciava o clima de perseguição que estão a sofrer os trabalhadores culturais nos últimos tempos”, afirmou Santiago Sierra à imprensa local.
O incidente acabou tendo o efeito contrário ao que queriam os governantes e foi o estopim para a criação de uma nova instituição cultural. Seis anos depois, Tatxo Benet reuniu obras censuradas de diversas regiões do mundo e inaugurou o Museu da Arte Proibida, em Barcelona.
Em seu acervo estão cerca de 200 obras, entre elas trabalhos de mestres como Francisco de Goya, Gustav Klimt e Pablo Picasso, além de artistas contemporâneos, entre eles o chinês Ai Weiwei, o norte-americano Robert Mapplethorpe e a cubana Tania Bruguera. Também inclui instalações controversas, como Civilização Ocidental e Cristã, de León Ferrari, e Piss Christ, de Andrés Serrano.
McJesus , da finlandesa Jani Leinonen: símbolo do McDonald’s e cristianismo na crítica ao capitalismo (Crédito:Emilio Morenatti)
A iniciativa ocupa desde o final de 2023 o tradicional edifício modernista Casa Garriga Nogués, construído por Enric Sagnier em 1901. Benet defende que sua missão é “restaurar a capacidade de contemplar obras de arte que foram retiradas da exibição pública”.
Em uma área de dois mil metros quadrados, a coleção é marcada pela crítica religiosa, política e social, mas também pelo humor que, muitas vezes, parece inspirado nos populares memes da internet.
Evermust , de Zoya Falkova: crítica à violência contra a mulher foi barrada no Quirguistão (Crédito:Emilio Morenatti)
Censura real e virtual
Ao lado de uma escultura que simula Ronald McDonald’s crucificado como Jesus Cristo (McJesus, da finlandesa Jani Leinonen), está a instalação de Eugenio Merino que retrata o ditador espanhol Francisco Franco dentro de uma geladeira de Coca-Cola (Always Franco, de 2012).
Muitas obras chegam à instituição após episódios violentos em seus países de origem. Engana-se, porém, quem acha que isso ocorre somente em ditaduras autoritárias. O quadro Make America Great Again, que reproduz o ex-presidente Donald Trump nu com os genitais em tamanho reduzido, levou a autora, a australiana Ilma Gore, a ser agredida em Los Angeles, em 2016. Rejeitado pelas galerias americanas, ganhou abrigo em Barcelona.
A história da arte está repleta de exemplos de censura. Michelangelo enfrentou críticas ao pintar a Capela Sistina, assim como Francisco de Goya teve de esconder as gravuras da série Los Caprichos. No livro Censored Art Today, o jornalista Gareth Harris afirma que “restringir o que as pessoas veem e absorvem tem como objetivo controlar a narrativa que chega ao público. Isso significa determinar quais monumentos históricos devem ser removidos ou não, mas também suspender a rede social dos artistas”, afirma. No museu de Barcelona, vale o título da canção de Caetano Veloso: É Proibido Proibir.
Museus de grandes novidades
Zeitz Museum of Contemporary Art, na Cidade do Cabo: artista trabalhando ao vivo (Crédito:Nardus Engelbrecht)
• O Museu da Arte Proibida, em Barcelona, traz um conceito inovador para um universo que, após séculos de estagnação, apresenta formatos inovadores. É o que revela a obra O Futuro do Museu, de András Szánto. O curador húngaro entrevistou 28 personalidades do mundo artístico, apontando caminhos originais para a exibição de obras de arte ao público.
• A National Gallery, de Singapura, passou a organizar uma Bienal das Crianças, na tentativa de atrair pais e avós a mostras de arte contemporânea.
• O Zeitz Museum of Contemporary Art (foto), na Cidade do Cabo, África do Sul, trouxe um estúdio de um artista em atividade para dentro do local, incentivando a apreciação e compreensão do processo criativo.
• Na séria Art Detectives, do Pérez Art, em Miami, crianças de comunidades carentes visitam exposições junto com policiais para tentar entender como cada grupo pode ter visões diferentes.
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