O presidente da Argentina, Javier Milei, durante a reunião anual da CPAC, em 24 de fevereiro de 2024, em National Harbor, Maryland, Estados Unidos
O presidente da Argentina, Javier Milei, fará um discurso nesta sexta-feira (1º) na abertura das sessões ordinárias do Congresso, em meio a um clima social tenso marcado por greves e mobilizações e um aumento da inflação, da pobreza e da indigência.
“Ninho de ratos”, “criminosos”, “traidores”, “corruptos”, “símbolos de casta”: Milei não tem poupado adjetivos desse tipo para os legisladores diante dos quais falará em rede nacional.
“Eles precisam aceitar que as pessoas odeiam os políticos”, afirmou em declarações à imprensa. Além disso, em uma entrevista recente ao Financial Times, disse: “Não preciso do Congresso para salvar a economia”.
O consultor e analista político Raúl Timerman estimou que Milei “é e continuará sendo assim”.
“Isso o mantém bem posicionado em termos de opinião pública”, comentou à AFP, detalhando que Milei mantém uma imagem positiva para 50% do eleitorado, em comparação com os 55% que tinha ao assumir em 10 de dezembro.
Milei falará às 21h00 locais (mesmo horário de Brasília) em vez do meio-dia, como é a tradição, para coincidir com o horário de maior audiência televisiva e em meio a um forte esquema de segurança.
Enquanto isso, organizações sociais e políticas convocaram protestos ao cair da noite.
Desde o início da nova administração, a Argentina acumulou mais de 50% de inflação e um nível de pobreza que atinge mais da metade da população.
“Algo precisava ser feito”, “temos que aguentar”, “em algum momento vai melhorar”, dizem os eleitores que apoiam o presidente de extrema direita, explicou Timerman com base em estudos realizados pela consultoria que ele dirige, o Grupo de Opinião Pública.
Dez dias após sua posse, Milei emitiu um decreto presidencial (DNU) para modificar ou revogar mais de 300 normas, incluindo as leis de aluguéis, abastecimento e controles de preços.
Depois, tentou a aprovação no Congresso da “Lei Ómnibus”, com 664 artigos que buscavam mudanças estruturais, como a privatização de 41 empresas estatais, e outras normas mais curiosas, como exigir que juízes usem toga preta e um martelo.
Mas o projeto de lei não teve o sucesso que o governo esperava e o próprio Milei ordenou sua retirada.
Em resposta aos seus ajustes fiscais draconianos, as principais confederações de trabalhadores, junto com partidos políticos de oposição, realizaram uma greve nacional e várias greves setoriais.
Organizações sociais também protestam contra a suspensão do envio de alimentos pelo governo a milhares de refeitórios comunitários.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê uma contração econômica de 2,8% em 2024 para a Argentina, saudou as medidas adotadas pelo governo, mas recomendou que sejam calibradas para proteger os setores mais pobres.
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