Norte do Paraná vive gangorra climática que dá prejuízo a agricultores

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Produtores rurais no Paraná não estão entusiasmados com a colheita da soja que se inicia agora. Principal commodity brasileira, a soja enfrentou temperaturas tão altas em algumas partes do estado que uma parcela da produção secou nas lavouras.

Pouca ou nenhuma chuva aumentou o problema, observado especialmente em cidades da região norte do estado, onde há uma previsão de quebra superior a 30% em relação a uma média histórica da colheita.

O cenário foi visto entre o final de dezembro e o início de janeiro, quando produtores rurais já aguardavam o que chamam de veranico. Mas, com El Niño e em contexto de crise climática, o habitual veranico ganhou força, pegando agricultores de surpresa.

“Esse não foi um super El Niño. Isso a gente teve ali entre 2015 e 2016. Mas as mudanças climáticas intensificam os efeitos do fenômeno El Niño”, diz a meteorologista Desirée Brandt, da Nottus Meteorologia.

Segundo ela, o El Niño, que é o aquecimento do oceano Pacífico na sua porção equatorial, atingiu seu auge no final de 2023, mas deve seguir vigente nos próximos meses.

Previsão do órgão de meteorologia dos EUA divulgada nesta semana aponta que o padrão climático La Niña pode surgir no segundo semestre de 2024 —trazendo novas preocupações à agricultura. Isso deve ocorrer logo depois da transição do El Niño para um período breve de condições consideradas neutras, em meados deste ano.

No Brasil, o El Niño costuma gerar um cenário de mais seca no Norte e mais chuva no Sul. “E, no ‘miolo’, nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, norte do Paraná, há uma má distribuição de chuva”, explica ela.

No La Niña, a situação se inverte, com mais chuva nas regiões Norte e Nordeste e menos no Sul. No Centro-Oeste e no Sudeste, os impactos, assim como no El Niño, oscilam.

“Mais do que quantidade de chuva, a questão é a qualidade de chuva. Muitas vezes, ela não deixa de acontecer. Mas ela é mais pontual, no sentido de sua distribuição espacial e também ao longo do tempo. Essa irregularidade acabou apertando nosso calendário agrícola.”

No Paraná, por causa da má distribuição espacial da chuva, produtores rurais com lavouras próximas estão tendo colheitas diferentes. Outro fator que está influenciando na colheita é o momento do plantio. Quem começou a lançar sementes mais cedo pegou o calorão do final de dezembro em uma fase delicada da lavoura, de enchimento de grão.

Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que também registraram altas temperaturas no final do ano, não devem observar uma quebra de safra de soja como a do Paraná. Isso porque a forte chuva que atingiu os dois estados de setembro a novembro adiou o plantio das sementes.

“Tudo aquilo que o produtor tinha planejado para plantar lá em outubro, novembro, concentrou em dezembro, por causa da chuva. No Rio Grande do Sul, também teve temperaturas altas no final do ano, mas a lavoura estava no desenvolvimento vegetativo e não sofreu”, explica Alencar Rugeri, técnico da Emater-RS (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural).

Apesar disso, os gaúchos seguem em alerta. “É um período todo bastante tenso e complexo. Aquela chuva do final do ano passado foi inimaginável. E, na época, se plantava milho. A água levou nutrientes do solo, um prejuízo incalculável”, diz Rugeri.

Outros estados devem apresentar problemas na colheita da soja, em razão do calor excessivo do final do ano, na avaliação do secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara. Ele cita regiões de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás.

“Não será surpresa se a safra brasileira [de soja] cair bastante”, diz ele.

Ortigara conta que as plantas “cozinharam” no norte paranaense, quando os termômetros giravam em torno de 40°C na segunda quinzena de dezembro. “Foram calorões de 36°C a 40°C no ambiente, e 50°C a 55°C no meio da lavoura. Não tem planta que resista”, diz.

“Quando é um veranico normal, sem temperatura muito alta, a lavoura resiste 15, 20 dias sem chuva. Mas, com temperatura muito alta, começou a ter impacto negativo”, completa Flavio Turra, gerente de Desenvolvimento Técnico e Econômico da Ocepar (Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná).

Entidades como a Ocepar estão pleiteando junto ao governo federal a prorrogação de pagamentos ligados ao custeio da safra. Além das perdas no plantio, Turra afirma que o preço baixo da soja hoje é mais um fator negativo. “A saca está na faixa de R$ 105, R$ 110. Colhe pouco e ainda tem preço baixo”, queixa-se.

IRRIGAÇÃO E SEMENTES RESISTENTES

Para o pesquisador Reinaldo Silveira, do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), o agricultor vai precisar de um outro olhar daqui para frente.

“Não é só mais o El Niño, que sempre aconteceu e sempre se estabelece entre as décadas. Existe a questão do aquecimento global. Então tem que pensar mais no ecossistema, no que a monocultura interfere nisso, na falta de diversidade”, ressalta.

“Mas, claro, as pessoas não se mobilizam da noite para o dia. Quando é uma coisa de ano a ano, o agricultor às vezes prefere ter o prejuízo e depois a recuperação do que se mobilizar e mudar completamente”, avalia.

No Paraná, produtores rurais não estão acostumados com irrigação, um sistema implantado em apenas 1% das propriedades. “O Paraná sempre teve um regime de chuva bastante razoável”, justifica o secretário.

Turra, da Ocepar, acrescenta que a irrigação é cara e que, historicamente, o custo-benefício não é favorável ao produtor rural do Paraná. “No futuro, se a coisa se agravar, pode ser que haja a ampliação da irrigação”, opina.

Mas outras alternativas estão sendo estudadas diante da crise climática, como o desenvolvimento de sementes ainda mais resistentes ao calor.

“Há um esforço de órgãos de pesquisa para eventualmente gerar materiais mais tolerantes ao estresse hídrico. A própria Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] trabalha com uma linha de pesquisa para gerar novas variedades de soja que possam enfrentar períodos mais longos de falta de água. Mas é um trabalho de mais longo prazo”, cita Ortigara.

Turra e o secretário da Agricultura acrescentam que algumas práticas, como o plantio direto, por exemplo, podem ajudar no calorão. O plantio direto, quando não há remoção da vegetação residual da lavoura anterior, conserva a umidade no solo.

“Um passo importante é refinar o processo de plantio direto de qualidade, fazer uma boa ‘palhada’ para proteger o solo. O outro passo é progressivamente começarmos a usar de forma racional a irrigação como método de produção, de preferência com água guardada. Enquanto não vêm as plantas mais resistentes e tolerantes”, defende o secretário.

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