Horváth, o checo do Sporting: «O Schmeichel e o Sá Pinto eram os mais malucos»

horváth, o checo do sporting: «o schmeichel e o sá pinto eram os mais malucos»

Horváth, o checo do Sporting: «O Schmeichel e o Sá Pinto eram os mais malucos»

O Euro2000 dificilmente devolve boas memórias a Portugal. Futebol champanhe? Geração de Ouro? Reviravolta história contra Inglaterra? Goleada à Alemanha? Tudo verdade, sim senhor, mas no final o resumo faz-se com a maldita mão de Abel Xavier. É a maldição do pensamento. Procura o desastre para vê-lo ainda mais de perto.

Nesse verão de 2000, e no torneio realizado a meias entre Bélgica e Holanda, o Sporting identifica um médio combativo e de bom remate: Pavel Horváth. Internacional checo, figura do Slavia Praha, uma contratação aparentemente segura para o meio-campo campeão português.

Horváth faz 29 jogos de leão ao peito, é ainda um dos vencedores do plantel de 01/02, mas não confirma as expetativas. Sai de forma repentina para a Turquia, sem tempo para despedidas e abraços. O zerozero localiza-o na Chéquia, a poucos dias do jogo entre Portugal e a seleção do leste, em Leipzig.

Aos 49 anos, Pavel Horváth assum que a saída de Alvalade é ainda o maior arrependimento que tem na vida. Um leão.

zerozero – Good morning, Pavel. We are calling from Portugal.

Pavel Horváth – Então é bom dia, não é good morning (risos).

[pelo barulho, o bom do Horváth está a conduzir]

zz – Ainda fala português? Já saiu do nosso país há mais de 20 anos.

PH – Falo, falo. Aprendi depressa a falar e de vez em quando ainda falo com amigos portugueses e brasileiros. Não é perfeito. Gosto muito de música, de música portuguesa também, e acho que isso também me ajudou. Um dia acordei e sabia falar português (risos). Aí de Portugal falei há alguns anos com o Rui Jorge, num jogo da seleção de sub21.

zz – Estamos a ligar-lhe a propósito do Portugal-Chéquia, do Euro24. Mas queríamos também saber como está a sua vida. O que faz hoje em dia?

PH – Sou o treinador principal do Jiskra Domazlice, uma equipa da terceira divisão aqui na Chéquia. Subimos de divisão e estou muito feliz. Foi um ano espetacular, senti-me um treinador realizado. Estive no Viktoria Plzen muitos anos, como adjunto, mas estava na hora de assumir a função de treinador.

zz – Conhece bem esta seleção da Chéquia?

PH – Conheço bem a seleção e o selecionador. Eu joguei no Vissel Kobe, do Japão, e o Ivan Hasek era o meu treinador. Muito boa pessoa, amigo dos jogadores e extremamente experiente.

zz – Quais são as ideias do senhor Hasek para a seleção?

PH – Organização, organização, organização. Fora do campo ele é muito amistoso, mas nos treinos é rigoroso, exige um posicionamento correto, ao… como se diz?

zz – Centímetro?

PH – Ao centímetro, ao centímetro.

zz – Isso faz com que a Chéquia tenha qualidade para surpreender Portugal?

[escutamos a gargalhada de Horváth e buzinadelas de outros automóveis]

PH – O nosso país está à espera de uma surpresa, sim. O Ivan está há pouco tempo na seleção, não teve tempo de trocar muitas coisas, mas as ideias e os jogadores são bons. Estou curioso para saber como os futebolistas vão reagir a estas novas ordens e… como se diz?

zz – Pode falar em inglês, se preferir.

PH – Não, não, o meu português é melhor (risos). Quero dizer que depende muito da forma como as palavras do Ivan Hasek vão entrar nas cabeças dos jogadores.

zz – E quem são os melhores jogadores desta Chéquia?

PH – O número um é o Patrik Schick. Já jogou na Itália, foi agora campeão na Alemanha pelo Leverkusen e faz muitos golos. A equipa joga bastante para ele. E há alguns jovens interessantes, ainda em início de carreira. A defesa está bem, sólida. Há dois defesas do Slavia, o David Zima e o Tomás Vlcek, que vieram dar muita estabilidade, porque jogam muito bem lado a lado. Mas estão a começar, têm pouca experiência. Podemos dizer que temos uma equipa forte a defender. Há jogadores que estão na Alemanha, nos Países Baixos e isso também eleva a nossa qualidade.

zz – O David Jurásek jogou pouco no Benfica. Ele está bem agora?

PH – Conheço bem e gosto do Jurásek. Ele chegou com um problema físico ao Benfica, começou mal e perdeu a confiança. É difícil assim. O Jurásek precisa de jogar com regularidade, sentir-se bem com bola. É um jogador capaz de fazer o corredor todo pela esquerda, cheio de energia. Talvez lhe falte alguma calma para cruzar melhor.

[o motor do carro cala-se e Horváth diz-nos que está a chegar a casa]

zz – Há entusiasmo na Chéquia com o Europeu de 2024?

PH – Ainda não se fala muito, mas a Alemanha é aqui ao lado e de certeza que a equipa vai ter muito apoio nas bancadas. Por agora, temos o Mundial de Hóquei em Gelo e a loucura das pessoas está voltada para isso (risos). Essa modalidade é a mais importante aqui no país.

zz – Gosta de ser treinador, Pavel?

PH – Gosto muito. Já trabalhei num grande clube checo, o Viktoria, estou agora no terceiro escalão e espero trabalhar no segundo já na próxima época. O que mais gosto, confesso, é o trabalho de campo. Estar todos os dias no relvado, a tentar melhorar a minha equipa.

«Fui ao Euro2000 já como jogador do Sporting»

zz – Foi campeão pelo Sporting em 2001/02. Celebrou o título deste ano?

PH – Desculpe, desculpe. Como posso explicar? Há pouco disse que só falei com o Rui Jorge, mas também falei com o meu amigo Nelson, o guarda-redes, agora há pouco tempo. Por mensagem. Vi o Nélson com a taça e a brincar no relvado. Grande Nélson (risos). E, sim, claro. Ao ver essas imagens festejei com muita alegria aqui na Chéquia.

zz – Esteve cerca de 14 meses em Portugal. Gostou de jogar no Sporting?

PH – Gostei muito e gostava de ter ficado mais tempo. Tenho vontade de ir a Lisboa apanhar sol e ver os colegas desses tempos. O Nelsinho, o Rui e o capitão [Pedro] Barbosa. Falta-me tempo e fico triste por isso. Quando tiver duas semanas livres, prometo ir a Lisboa e a Alvalade. Só fui uma vez ao novo estádio. Sim, fico triste…

zz – Fica triste por culpa da saudade?

PH – Saudade, é saudade. A verdade é que fui campeão pelo Sporting. Saí muito cedo na época, mas fiz ainda três jogos no campeonato, sempre a titular.

zz – O plantel era ótimo, havia muitos médios. Foi por isso que saiu?

PH – Eu joguei com muitos jogadores da seleção de Portugal. Paulo Bento, Sá Pinto, Rui Jorge, Pedro Barbosa, muitos craques. Só posso ficar orgulhoso pelo que fiz no Sporting, mas já passaram muitos anos.

zz – Marcou um golo ao serviço do Sporting. Lembra-se desse jogo?

PH – Foi contra o Alverca. Foi só um, era fácil lembrar-me (risos). Por acaso foi um golo bonito. Ganhei uma bola dividida e rematei de muito longe. Depois ofereceram-me um DVD com a jogada e disseram-me que um golo do Horváth era coisa rara. Não faltava bom humor naquele balneário do Sporting.

zz – Trabalhou com o Augusto Inácio e o Manuel Fernandes, certo?

PH – E ainda com o senhor Boloni, naquelas semanas antes de sair.

zz – Desses nomes todos, qual o seu favorito?

PH – Gostei de todos, sinceramente. Aprendi coisas muito diferentes, foi uma escola para a minha vida. Ainda hoje passo aos meus futebolistas coisas desses tempos. Sentei-me ao lado do Schmeichel, do Sá Pinto, aprendi a dizer c****** e f***** (risos).

[Horváth fala em checo para alguém em casa]

zz – Como era o Peter Schmeichel no balneário desse Sporting?

PH – Muito maluco (risos). Todos os guarda-redes têm de ser um bocado malucos, não é? Um tipo normal não escolhe ir para a baliza.

zz – Quem era mais maluco nesse plantel: Schmeichel ou Sá Pinto?

PH – Ah ah ah ah ah ah…

[a gargalhada é extraordinária, interminável]

PH – Essa é a pergunta mais difícil da entrevista. Duas grandes figuras, dois grandes nomes do futebol mundial. E dois malucos muito porreiros. Os mais malucos do Sporting.

zz – Quem era o seu amigo mais próximo no Sporting?

PH – Talvez… o Mbo Mpenza. Joguei com ele na Turquia. O Rui Jorge e o Nélson também. O Paulo Bento também era meu amigo, jogava na minha posição e falávamos bastante sobre o papel de um médio dentro da equipa.

zz – O Pavel foi ao Euro2000, mas nunca saiu do banco de suplentes. Mesmo assim, o Sporting contratou-o.

PH – Eu estava no Slavia, já ia à seleção e o convite apareceu mesmo antes do Europeu. No Euro200 já era jogador do Sporting. Fui pela primeira vez a Lisboa para assinar o contrato.

zz – Jogou a Liga dos Campeões e esteve no 2-2 contra o Real Madrid, por exemplo.

PH – Joguei os 90 minutos, sim senhor. No Viktoria Plzen joguei contra o Barcelona também. Foram experiências fabulosas. Defrontei o Figo, o Roberto Carlos, mais tarde o Messi. Para um jogador normal como eu fui, isto são histórias perfeitas para contar um dia aos netos.

«Duas semanas depois de sair do Sporting já estava arrependido»

zz – Qual foi o melhor jogo que fez pelo Sporting?

PH – O jogo contra o Parma.

[o jornalista pesquisa a lista no zerozero e o jogo não aparece]

zz – Contra o Parma?

PH – Foi um jogo amigável, em Alvalade.

[está explicado]

zz – Porque é que escolhe um jogo amigável?

PH – Porque foi a primeira vez que joguei com 30 mil pessoas nas bancadas. Provocou-me uma sensação inesquecível. E logo num jogo-treino. Tive a certeza que tinha escolhido um clube gigante. ‘Ei, isto é de doidos, esta gente adora futebol’.

zz – O seu último jogo foi também contra o Alverca, curiosamente. No fim de agosto. Estava a ser titular e saiu para o Galatasaray. Opção sua?

PH – Fiquei triste. Saí para representar a seleção checa e certa noite, estava eu no hotel, ligou-me o Carlos Freitas [diretor desportivo]. Disse-me que havia a possibilidade de ir para a Turquia. Não reagi bem, porque gostava de Lisboa e do Sporting. Estava a construir uma nova vida. Falei com o meu agente, disse-lhe que não queria sair e ele foi muito claro na resposta. ‘Queres ficar no Sporting e ser suplente ou sair para seres uma estrela no Galatasaray e a ganhar mais dinheiro?’. Foi difícil escolher, mas dei o meu ok. Duas semanas depois já estava arrependido.

zz – Não gostou do que viu na Turquia?

PH – Foi a pior decisão da minha carreira. Não me pagaram um cêntimo, mentiram-me e pouco tempo depois peguei nas minhas malas e regressei à Chéquia. Estava tão bem no Sporting…

zz – Hoje em dia há poucos futebolistas checos a escolher Portugal. Há algum motivo para isso?

PH – Nos últimos dez anos não tivemos futebolistas de elite a sair da Chéquia. Acho que as coisas estão finalmente a mudar e os clubes estão a trabalhar melhor. Acredito que Portugal voltará a ser um bom destino para os checos nos próximos anos.

[Horváth começa a mastigar, a hora do jantar é sagrada]

zz – Vai estar em Leipzig para o Chéquia-Portugal?

PH – Pensei nisso, mas não vai ser possível. Já estou a ter reuniões para decidir a próxima época e não tenho mesmo tempo. Se vir na televisão já vou ficar contente. Não consigo perder dois/três dias nesta fase do ano.

zz - E arrisca um resultado para o jogo?

PH - Um empate, 1-1. Não quero ver os meus amigos portugueses tristes.

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