O Ozempic está a "acabar" nas prateleiras e a culpa é das clínicas privadas
Ozempic (Foto: Joel Saget/AFP via Getty Images)
O Ozempic, e não só, está a acabar nas prateleiras das farmácias. O alerta foi deixado esta quinta-feira pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), que não tem dúvidas em apontar o dedo às clínicas privadas. Este órgão regulador apelou ainda aos médicos para pararem de prescrever os medicamentos fora das suas licenças de utilização para aliviar a escassez, escreve o POLITICO.
Segundo a Agência Europeia do Medicamento, as clínicas privadas são demasiado rápidas a prescrever medicamentos para a diabetes e a obesidade por razões “cosméticas”. Ao mesmo tempo, que pelo mundo fora ecoam os alarmes de uma escassez crónica deste tipo de medicamentos. Enquanto os stocks estiverem em baixo o regulador sugeriu aos médicos que não prescrevam os mesmos fora das suas licenças de uso - ou seja, tratar pessoas com estas duas doenças - diabetes e obesidade.
Desde que a Novo Nordisk publicou dados que mostram efeitos significativos na perda de peso, tem havido um aumento na procura dos chamados agonistas dos receptores GLP-1, uma classe de medicamentos utilizados para tratar a diabetes tipo 2 e a obesidade. Um trabalho científico que levou à escassez destes tratamentos logo em 2022.
A EMA admite que as restrições à produção dos medicamentos também parte da razão desta falta, todavia a venda para outros fins - uso off-label - que não o tratamento das referidas doenças tornou-se decisivo para a rutura de stocks. E isto é um facto que irá perdurar no tempo, ao longo de 2024.
“Particularmente com as prescrições privadas, havia um indício para nós de que era um pouco demais na indicação off-label”, disse Karl Broich, co-presidente do grupo diretor da escassez de medicamentos da EMA, acrescentando que isto foi observado na Alemanha, escreve o POLITICO.
Segundo a mesma notícia, a intenção não é tirar a liberdade aos médicos, mas que a nova orientação emitida pela EMA na quarta-feira os torne "mais conscientes” de que são necessários – “por enquanto” – para pacientes com diabetes ou obesidade, acrescentou Broich, que também dirige o Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos da Alemanha (BfArM).
A EMA também está a planear um “estudo do mundo real” para compreender melhor como as pessoas estão a consumir estes medicamentos em toda a Europa.
Emer Cooke, chefe da EMA, afirmou numa conferência de imprensa que os medicamentos que sofrem a maior escassez são o Ozempic da Novo Nordisk, o Victoza, o Saxenda e o Trulicity da Lilly. Todos, exceto Saxenda, estão licenciados para tratar diabetes, enquanto Saxenda é para obesidade.
“Esses medicamentos estão por toda parte, desde discussões on-line até nas redes sociais e declarações públicas de celebridades, e estão se tornando parte da cultura popular”, firmou ela, citada pelo POLITICO.
“Estamos preocupados com o facto de as nossas mensagens nem sempre chegarem aos prestadores de cuidados de saúde, aos pacientes e aos consumidores, cujos esforços realmente farão a maior diferença para nos ajudar a gerir esta escassez.”
Isto é particularmente importante, uma vez que a oferta não aumentará tão cedo, apesar das recomendações da EMA para aumentar a produção, disse ela. “Podemos apoiar e facilitar o aumento da produção do ponto de vista regulatório, mas estes são processos demorados e podem envolver outros intervenientes adicionais”, disse ela.
Questionado pelo POLITICO se havia provas de que os fabricantes de medicamentos estavam a promover os seus produtos fora do uso licenciado – que é proibido e regulamentado a nível nacional – Broich assumiu, por exemplo, que a Novo Nordisk estava ligada a esta prática na Noruega.
Mas há outro ponto que é importante ressalvar e que a EMA refere. A procura destes medicamentos levou ao interesse de resde criminosas “aumentando o risco de produtos falsificados entrarem no mercado com graves consequências para a saúde pública”. Na verdade, o regulador alertou, em outubro passado, que canetas Ozempic pré-cheias falsas foram encontradas na UE e no Reino Unido. Ainda a semana passada, a Organização Mundial de Saúde, encontrou mais lotes dessas canetas.