António Silva errou e Portugal perdeu. Psicologicamente, o que importa é ele “saber que pode errar e que tem o espaço para errar” na seleção
O defesa central de 20 anos viu duas intervenções suas darem origem aos dois golos da Geórgia e “a forma como ele vai processar isto internamente vai ditar como reagirá nas próximas oportunidades”. Quem o explica à Tribuna Expresso é Ana Bispo Ramires, psicóloga desportiva que trabalha com futebolistas e atletas olímpicos que, apesar de não conhecer António Silva, elabora sobre o processo coletivo de lidar, e proteger, um jogador quando ele falha. Porque há insultos nas redes sociais (às quais os atletas revelam adição), críticas públicas e o jogador a ser posto no olho do furacão mediático: “o que sabemos é que melhor do que o discurso do treinador, a pressão e apoio dos pares vale 10 vezes mais, está provado cientificamente”. O humor pode ser terapêutico, assim como a ajuda de jogadores mais velhos, como Pepe
António Silva errou e Portugal perdeu. Psicologicamente, o que importa é ele “saber que pode errar e que tem o espaço para errar” na seleção
Invulgar no futebol, raridade das raridades então em fases finais de torneios, este Europeu vai presenteando quem assiste aos jogos pela TV com um vislumbre dos balneários das seleções. Na hora prévia às partidas, as transmissões têm-se socorrido de uma câmara plantada nos balneários, mostrando os jogadores a entrarem, a aprontarem-se no cubículo que tem o seu nome. É um ápice de intromissão que a UEFA está a conceder nesta prova, um breve momento para o adepto sentir uma espreitadela num lugar sagrado onde a seclusão é estimada. E quase sempre, seja qual for o país, é do mais comum ver nesta raridade os futebolistas de telemóvel na mão.
Não sabemos se, na quarta-feira, António Silva recorreu ao seu quando chegou ao balneário após a derrota de Portugal, por 0-2, contra a Geórgia. Se o fez, terá lido as centenas que seriam milhares de comentários à sua mais recente publicação no Instagram, feita já neste Europeu, no dia da partida frente à Turquia: eram insultos, ofensas e ódio visceralmente lá colocados por pessoas a criticarem o defesa central devido aos dois erros flagrantes que cometeu no jogo com os georgianos.
Se o fez, não o deveria ter feito. “Esta é uma das competências mais importantes que os atletas devem compreender desde cedo neste tipo de profissões: as redes sociais são uma ferramenta de trabalho e não um meio de entretenimento, e têm de ser educados para terem outras formas de entretenimento. Ou seja, deve socorrer-se das redes sociais para comunicarem a sua imagem, a sua marca e saberem exatamente o que vão colocar para influenciar positivamente, e não estarem à mercê de irem espreitar aqui e ali o que estão a acontecer, quantos likes têm ou não, porque é muito bom quando corre bem, mas quando corre mal é uma miséria”, explica Ana Bispo Ramires. A psicóloga desportiva, que trabalha com atletas olímpicos e futebolistas, sabe dos “níveis de adição muito elevados às redes sociais” face ao que conhece de acompanhar desportistas “com as características” de António Silva.
O que é “um problema seja para quem for”.
No caso, para um jogador da seleção nacional cuja primeira titularidade no Euro 2024 coincidiu com ele, nem aos 90 segundos de jogo, passar a bola sem antes olhar e depois vê-la a ir parar a Mikautadze, este a dá-la a Kvaratskhelia e o georgiano a marcar golo. Era a quinta vez que António Silva tocara na bola. A moldagem do seu corpo durante os festejos dos georgianos, após correr esbaforido atrás do contra-ataque, mostrava-o com os braços inertes, a baloiçarem, juntando-lhes o cabisbaixo com que fez a cabeça cair para entre os ombros.
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