Entrevista a Bruno Amaral de Carvalho: “A política xenófoba do regime ucraniano foi desastrosa e deu oxigénio à narrativa russa”
O Jornalista português Bruno Amaral de Carvalho editou, este ano, “A Guerra a Leste – 8 Meses no Donbass”, livro que contém o essencial da sua cobertura da guerra na Ucrânia a partir do Donbass. Em entrevista ao Expresso, dá a sua visão de um conflito que acredita ser acompanhado de forma unilateral. “Dar apenas um dos lados não corresponde a um jornalismo plural e democrático”, afirma
Entrevista a Bruno Amaral de Carvalho: “A política xenófoba do regime ucraniano foi desastrosa e deu oxigénio à narrativa russa”
Aos 42 anos, Bruno de Carvalho já tem um currículo assinalável como jornalista e correspondente. O lançamento do seu livro “A Guerra a Leste – 8 Meses no Donbass” (Caminho), contendo o essencial da sua cobertura da guerra na Ucrânia a partir do Donbass, suscitou protestos de ucranianos em Portugal – e o interesse de centenas de pessoas, que tornaram a obra, da qual está a ser preparada a terceira edição, num caso de sucesso. Ele reconhece que a invasão lançada por Putin é ilegal, mas diz que o ocidente deu o exemplo (ponto de vista não inteiramente disparatado) e que as pessoas do “outro lado” também têm direito a ser ouvidas. Concordemos ou não com as suas opiniões políticas, é difícil negar a relevância jornalística dessa posição, mesmo que se que se queira ver as suas reportagens como uma forma de propaganda – crítica feita a muitos jornalistas, nesta área como noutras. O Expresso enviou-lhe uma série de questões às quais ele respondeu com prontidão.
No seu livro descreve as circunstâncias que o levaram a viajar para o Donbass e a reportar a partir de lá. Que visão do conflito tinha anteriormente?
Cheguei ao Donbass em maio de 2018 e já acompanhava o conflito, ainda que à distância. No fundo, sentia que a Rússia, mas sobretudo o Ocidente, não faziam o suficiente para obrigar as partes a cumprir os Acordos de Minsk. Recordo que, mais tarde, Angela Merkel viria a assumir que os Acordos de Minsk tinham servido apenas para que a Ucrânia se reforçasse militarmente. Em 2014, a impressão que me deu, acompanhada de conversas com jornalistas que estiveram no terreno, é que a queda do presidente Viktor Yanukovych se deveu a um golpe patrocinado pelo Ocidente. Não estamos a falar da queda de uma ditadura às mãos do povo, como se tenta muitas vezes fazer crer. O então presidente pró-russo foi eleito de forma legítima no contexto de um regime onde anteriormente haviam sido escolhidos presidentes pró-ocidentais pelos eleitores ucranianos. Esta guerra, desencadeada pela resposta de Kiev à dissidência das populações russófonas do Leste, teve o apoio da Rússia aos separatistas e do Ocidente ao novo regime ucraniano. O facto é que o novo poder em Kiev foi imposto pela força, assim como a ruptura dos separatistas.
Para ler este artigo na íntegra clique aqui