O mundo não vai acabar. Mas vai.

O Rio Grande do Sul está enfrentando o pior desastre natural de sua história. Até a data de conclusão deste texto, eram 75 mortos, 103 desaparecidos e 88 mil desalojados. Dos 497 municípios do estado, 332 foram atingidos de alguma forma.

O volume de chuvas inédito – em uma semana, já caiu metade de toda a precipitação prevista para 2024 – é, em grande parte, culpa de uma sequência de frentes frias que deveriam ter cruzado os céus gaúchos só de passagem, mas acabaram estacionando em cima do estado e derramando toda a água ali.

O trânsito de nuvens na atmosfera congestionou porque, em pleno outono, uma onda de calor atingiu o Sudeste e o Centro-Oeste e bloqueou o caminho dessas frentes para latitudes mais altas. Houve máximas próximas dos 40 °C em algumas cidades, situação que a empresa de meteorologia MetSul definiu como “bizarrice climática”.

E essa onda não foi a primeira, é claro. O outro surto de temperaturas extremas  que o centro-sul do Brasil encarou no meio de março, dias antes do início do outono, foi um marco na série histórica.

A cidade de São Paulo bateu um recorde de temperatura para o mês: 37,4 °C em 16 de março. Um dia depois, o município do Rio registrou sensação térmica de 62,3 °C. Parte do crédito por esse caos, você sabe, é do El Niño, uma mudança na circulação dos ventos e das águas no Pacífico que ocorre de maneira cíclica e sempre acentua o verão brasileiro.

Mas a culpa também é nossa. O calor é consequência da emissão desmedida de gases de efeito estufa pelo ser humano desde o início da era industrial, no século 18. A temperatura média global no El Niño de 1998 foi 0,64 °C acima da média. Em 2005, 0,69 °C. Em 2010, 0,71 °C. Em 2016, 0,99 ºC. O Menino está cada vez mais quente.

O aquecimento global não é mais o futuro; é o presente. Sabe-se há anos, por simulações de computador, que o Rio Grande do Sul é um território particulamente propenso ao aumento de chuvas extremas – é hora de esquecer o negacionismo e pensar em prevenção, lá e em todo o Brasil.

O sexto relatório do IPCC – o mais completo relatório sobre mudanças climáticas disponível, elaborado por 801 pesquisadores de 195 países com a leitura de 14 mil artigos científicos – prevê para o nosso país quedas de 10% a 20% nas chuvas da Amazônia, calendários de polinização dessincronizados, aumento das populações de mosquitos como o Aedes, clima inadequado no Centro-Oeste e no Nordeste para o plantio de soja, milho, café e outros cultivos fundamentais para a economia, reservatórios de água mais vazios no Sudeste e muitos, muitos desastres naturais: de 1928 a 2016, houve 238 eventos extremos, como ressacas e marés altas anômalas, só no litoral de São Paulo. 61,4% deles aconteceram após o ano 2000.

Pouca gente, porém, parece desesperada. Uma reportagem do Jornal Hoje exibida em 18 de março descreveu o último final de semana do verão como “caprichado”, e mostra uma banhista feliz com o prospecto de tomar uma dose cavalar de radiação UV: “amo calor, amo verão, espero que nunca acabe”. (Agradeço ao podcast Vida de Jornalista por me chamar a atenção para esse excerto, que, nas palavras do apresentador Rodrigo Alves, segue a cartilha “sorvetinho, água de côco, praias lotadas e a alegria do brasileiro”.) Por que sofremos de uma incapacidade crônica de entender a gravidade das mudanças climáticas?

Parte da culpa é do tempo. Quase todos os filmes que mostram o fim do mundo cometem o mesmo erro de verossimilhança: retratam apocalipses-miojo, que ficam prontos rapidinho, em semanas. Mas é sempre bom lembrar que os dinossauros não bateram as botas do dia para a noite. A queda do meteoro gerou uma sequência de desastres ecológicos que durou milênios.

Calcula-se que a extinção em massa mais grave da história da Terra – a do Permiano, há 251 milhões de anos, antes da evolução dos dinos –, durou no mínimo 200 mil anos. Sem dúvida houve hiatos de calmaria aqui e ali, e certos recantos da Terra em que os impactos foram mais ou menos perceptíveis. Mas o resultado final ainda foi o sumiço de 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres.

Deslizamentos de terra e enchentes como no Rio Grande do Sul (2024), no litoral norte de São Paulo (2023) e em Petrópolis (2022) geram comoção no noticiário, mas logo desaparecem da memória de todos, com exceção dos diretamente afetados. É muito difícil entender fatos afastados no tempo como capítulos de um mesmo processo gradual de degradação ecológica. Mas eles são: com um aumento de 1 °C na temperatura média global, que já aconteceu, chuvas extremas têm 6,7% mais água e inundações se tornam 30% mais comuns.

Além de uma percepção inadequada do tempo geológico, há o problema de que somos péssimos em fazer sacrifícios em curto-prazo para colher benefícios em longo-prazo. Sair de carro alivia minha preguiça agora, enquanto pressionar as autoridades por políticas públicas para melhorar o transporte público salvará meus netos – além de ser uma ação de resultado incerto, que depende de algum grau de ação coletiva.

São obstáculos psicológicos, acima de tudo, que precisamos transpor para combater com eficácia as mudanças climáticas. Nossos cérebros não evoluíram para entender como ameaça o que não nos afeta perceptivelmente.

É sempre bom lembrar que, quando falamos em “fim do mundo”, queremos dizer algo mais específico que o fim da Terra em si (esse só virá daqui 5 bilhões de anos, quando ela será engolida pelo Sol). Estamos falando do planeta em sua configuração atual de oceanos e continentes, com as temperaturas médias, mínimas e máximas que conhecemos, com certas regiões frias e outras quentes, e com culturas e etnias variadas que floresceram da maneira como são, em partes, porque o ambiente circundante fornecia estes ou aqueles recursos.

A Terra nem sempre foi assim, é claro. A temperatura média era 5 °C mais alta no Jurássico, quando os dinossauros se tornaram a forma de vida dominante. Não havia calotas polares, e a concentração cinco vezes maior de gás carbônico na atmosfera permitia a existência de plantas gigantescas. Era um mundo exuberante; o problema é que não é o nosso mundo. Toda mudança climática põe a seleção natural em curso, surgem nichos ecológicos novos e espécies para ocupá-los. A vida dá um jeito.

Em suma: não é o mundo que vai acabar se deixarmos as mudanças climáticas rolarem soltas. Só o mundo como o conhecemos. E o que é o mundo senão o que você conhece? Pense em cada casa, escola, restaurante etc. que estão debaixo d’água no Rio Grande do Sul: nós somos os lugares em que vivemos, as memórias que cultivamos, as pessoas que amamos e até nossos objetos favoritos. O aquecimento global pode parecer um problema abstrato, mas já estamos experimentando suas consequências reais. Para as vítimas de tragédias ambientais, o mundo já acabou. E agora elas precisam reconstruí-lo.

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