Costa sobre a operação Influencer: "Conheço o último episódio desta série. Estou de consciência totalmente tranquila"
António Costa revela a primeira dúvida que apresentou a Marcelo Rebelo de Sousa no dia da sua demissão
“Nunca ninguém tinha posto em causa a minha honestidade”. As palavras são de António Costa que, em entrevista à TVI, confessa que “isso dói” até porque as suspeitas sobre a sua honestidade colocou “em causa a sua autoridade” como primeiro-ministro a 7 de novembro.
“A autoridade do Primeiro-Ministro não resulta só das competências que a Constituição, e a lei lhe atribuem, mas daquilo do respeito e da relação que tem com os portugueses, com os cidadãos. Quando eu vi aquela suspeição oficial, para mim foi muito claro e, portanto, dentro do comunicado e a minha comunicação, correu muito pouco tempo, do tempo de eu falar com o Presidente da República, de informar o Presidente da República, de ouvir o Presidente da República, de explicar ao Presidente da República. E de anunciar ao país. Isso para mim era muito claro e acho que era a única coisa que, do ponto de vista da proteção da função do Primeiro-Ministro e do ponto de vista daquilo que é, para mim, um imperativo ético no exercício da causa de forças, não havia outra solução”, afirmou.
Questionado sobre porque é que se demitiu tão rápido, Costa diz que o fez porque “a entidade máxima do Ministério Público” mostrou que havia “suspeição” sobre o primeiro-ministro e que, por isso, “obviamente é legítimo que o país passe a ter dúvidas”.
“Essa dúvida o país não pode ter sobre o primeiro-ministro. Obviamente vivemos numa democracia, portanto o país pode discordar do que o primeiro-ministro faz. Pode achar que o primeiro-ministro é competente ou incompetente, antipático ou simpático, está a fazer o que está certo ou a fazer o que está errado. Não pode terem dúvidas sobre a honestidade de quem exerce essa função. Porque isso mina essa autoridade.
Confessando que a questão de estarem outras pessoas da sua confiança não tornou a decisão mais premente, Costa diz que “quando o comunicado saiu, a questão já não era a das outras pessoas”, mas sim se a sua “manutenção em funções prejudicaria ou não prejudicaria o andamento do processo”.
“Foi a primeira questão que eu coloquei ao Presidente da República. Quando o comunicado saiu, a questão já não era a das outras pessoas, era a de mim próprio. Portanto, quanto a isso, não havia mais nada a fazer, a não ser aquilo que fiz, pelo menos na visão que eu tenho da função do que é ser primeiro-ministro e da garantia que o cargo de primeiro-ministro tem que merecer de respeitabilidade, de consideração.
O antigo primeiro-ministro falou ainda o envolvimento de Vítor Escária no processo – e do dinheiro encontrado no seu gabinete – , afirmando estar convicto que “o professor Vítor Escária não fez nada de incorreto”.
“Mas não conheço o processo e, portanto, não posso asseverar. Mas é a convicção que tenho. Quanto ao resto, bom, disse de facto, disse o que tinha a dizer na comunicação que fiz no sábado seguinte, quando tomei, porque, entretanto, tomei conhecimento, quando eu apresentei a minha admissão, no dia 7. Não tinha nada a ver. Eu não sabia da existência desse dinheiro, o dinheiro não tinha sido encontrado. Mas isso, pronto, obviamente foi uma quebra grave de confiança relativamente ao meu chefe de gabinete”.
Costa garantiu, no entanto, que tem a “consciência muito tranquila”.
“Tenho a minha consciência muito tranquila. Eu sei o que é que fiz, o que é que não fiz, portanto, eu conheço o último episódio desta série, não sei quantos episódios vai ter esta série ou quantas temporadas. Eu sei o fim, portanto, estou de consciência totalmente tranquila”, afirmou, acrescentando que se dedicou “de alma e coração a servir Portugal e a servir os portugueses” e hoje foi “surpreendido com a informação oficialmente confirmada pelo Gabinete de Imprensa da Procuradoria-Geral da República de que já foi ou irá ser instaurado um processo crime” contra si.
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