A nova técnica do PSD para afastar socialistas é "pedir coisas impossíveis a pessoas competentes", acusa o PS. O PSD está "estupefacto"
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
O líder parlamentar dos sociais-democratas, Hugo Soares, afirmou esta quinta-feira no Observador que a provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a ex-ministra socialista Ana Jorge, não fez absolutamente nada para resolver os problemas da instituição.
“Esta gestão da Santa Casa da Misericórdia tinha um ano. Perante uma situação iminente de ruptura financeira, de ruptura de tesouraria, perante uma instituição incapaz de cumprir o seu objetivo – designadamente do ponto de vista da ação social, junto da proteção dos mais desfavorecidos… Alguém que, perante essas situações, não foi capaz de tomar medidas, não foi capaz de arrepiar caminho, não foi capaz de dizer à tutela o que estava a pensar fazer, que plano de reestruturação tinha, o que lhe foi pedido que apresentasse, o que já tinha para trás, no último ano, que medidas tomou… É que, vejamos, a Santa Casa da Misericórdia, para cumprir, tem recebido o dinheiro que é de todos nós”, acusa Hugo Soares.
A líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão – que também prestou declarações ao Observador -, considera que “ninguém tem dados totais para poder fazer” uma acusação “tão grave” como a que Hugo Soares fez. “Nós temos uma provedora e uma mesa da Santa Casa que a primeira coisa que fez há um ano foi pedir uma auditoria à anterior gestão. (…) Eu não tenho conhecimentos, informação para discutir, nem em geral, quanto mais aos detalhes, a situação financeira da Santa Casa. Penso que o Hugo também não terá, por isso mesmo pedimos a presença na Assembleia da República quer da provedora exonerada, quer da senhora ministra da Segurança Social, mas há uma coisa que é verdade: o que é verdade aqui é que esta gestão pediu uma auditoria à gestão anterior. E agora a Câmara Municipal de Lisboa vem também agora, inusitadamente, já depois da exoneração, fazer um comunicado responsabilizando a Santa Casa por um conjunto de falhanços. Durante todo este ano não disse nada, só disse agora depois da exoneração.”
Refira-se que Ana Jorge encaminhou para a Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2023 os resultados intercalares de uma auditoria forense e financeira à instituição, que apontavam para “indícios de irregularidades” da gestão anterior.
Dizendo não considerar que existiu um “trâmite normal das coisas”, Hugo Soares afirma que tem direito de “estranhar que uma auditoria que foi pedida precisamente dois dias depois de a mesa da Santa Casa ser exonerada”.
“Estupefação”, “hipocrisia” vs. mostrem provas
Hugo Soares diz que está “estupefacto” com a reação do PS. “O que mais a mim me deixa estupefacto e estranho, já tive a ocasião de dizer, é que a primeira reação do Partido Socialista a toda esta situação não foi para listar a preocupação com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – foi demonstrar preocupação com a situação da doutora Ana Jorge, que eu respeito muito”.
Pedindo clareza, o líder parlamentar do PSD lembra que “o que está em causa é uma instituição que tem um trabalho absolutamente fundamental, designadamente na ação social, e que emprega milhares de trabalhadores”. “O que eu não posso aceitar é este aspeto de hipocrisia política, de que quando somos nós a fazer as coisas não há problema nenhum. Quando são os outros que querem exonerar porque há uma situação de rutura financeira, aí há uma negligência grave.”
Alexandra Leitão contesta e afirma que “a questão aqui não é na falta de preocupação com o que se passa na Santa Casa”. “Aliás, foi por preocupação com o que se passava na Santa Casa que foi nomeada há cerca de um ano a dra. Ana Jorge. Que, aliás – e repito -, a primeira coisa que fez foi exatamente arrumar a casa ao pedir uma auditoria. Eu custa-me um bocado que o Hugo Soares, não podendo, penso eu, ter conhecimento direto do que se passa, fale desta maneira de incompetência e de negligência. Estas coisas não se podem dizer assim. Têm de ser provadas e é preciso que sejam vistas com auditorias, etc, etc. E é isso que estava a ser feito.”
Alexandra Leitão diz que “não se pode chamar uma pessoa, pedir-lhe um conjunto de informações absolutamente impossíveis de coligir em 15 dias e depois dizer-lhe ‘não me prestaste as informações’ sem sequer esperar pelo termo desse tempo”. “Foi o mesmo que fizeram ao Fernando Araújo [que se demitiu da direção executiva do SNS]. Isto é um padrão. Isto é um padrão de comportamento do Governo da AD, que é chegar, pedir coisas impossíveis a pessoas que estão a fazer um trabalho bom e depois dizer que são incompetentes e negligentes. É um padrão de comportamento. Querem pessoas mais alinhadas, como o primeiro-ministro disse expressamente. Pelo menos foi honesto. Está em todos os jornais. Vejam, leiam.”
Hugo Soares defende que “ninguém ouviu alguém do PSD acusar o doutor Fernando Araújo de incompetência ou de impreparação”, acrescentando que o “Partido Socialista está muito preocupado por terem saneado grandes socialistas e que agora ninguém mexa neles”.