Zelensky na cimeira da Suíça: “Temos de decidir em conjunto o que significa uma paz justa” antes de propor “formas de terminar a guerra”
“Hoje a Rússia não esta aqui. Porquê? Porque se a Rússia estivesse interessada na paz, não haveria guerra. Temos de decidir em conjunto o que significa uma paz justa”, disse o Presidente ucraniano
Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante a sua visita a Paris
No discurso que fez aos delegados dos países presentes na conferência de paz deste sábado, na Suíça, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reforçou que “não é preciso reinventar a roda quando a Carta das Nações Unidas já define os princípios para a paz e para a normal coexistência dos povos": "Só temos de regressar a eles”, sublinhou.
"Hoje a Rússia não esta aqui. Porquê? Porque se a Rússia estivesse interessada na paz, não haveria guerra. Temos de decidir em conjunto o que significa uma paz justa (…) e como pode ser conseguida de forma verdadeiramente duradoura", criticou Zelensky.
“A Carta das Nações Unidas lança as bases” para um eventual acordo de paz, disse, “e então, quando um plano de ação estiver sobre a mesa, aprovado por todos (…) será então comunicado aos representantes da Rússia”, disse. O Presidente ucraniano apelou a que os países participassem nos esforços em prol de “um mundo de paz, um mundo que sabe como atuar de forma correta”.
A conferência de paz "encoraja todos os países do mundo a pensar como terminar a guerra", disse, dizendo que Putin “deve mudar da linguagem dos ultimatos para a linguagem da maioria global”.
Entretanto, à margem da cimeira, Zelensky encontrou-se com a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, tendo debatido com os representantes dos EUA a situação militar e o fornecimento de materiais bélicos.
“A guerra não foi escolha nossa. Foi a escolha de Putin. Na cimeira de paz de hoje, tudo faremos para começarmos a rumar na direção de uma paz verdadeira através da diplomacia. É vital que os EUA nos ajudem a fazer com que a paz fique mais perto”, agradeceu Zelensky, de acordo com a página de Internet da presidência ucraniana.
Harris anunciou que os EUA irão fornecer à Ucrânia mais de 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,4 mil milhões de euros ao câmbio atual) para financiar as necessidades humanitárias, de segurança dos civis, e energéticas do país.
“Quer coisa mais política do que a paz?”, pergunta Marcelo
À entrada da sessão plenária da Cimeira para a Paz na Ucrânia, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que “o número de participantes, a adesão deles ao comunicado final, e a importância do comunicado final são o primeiro passo" para se chegar ao objetivo de um cessar-fogo duradouro entre a Rússia e a Ucrânia
“É uma conferência para a paz. Quer coisa mais política do que a paz? É política no sentido de interessar a todos os envolvidos, neste caso a todo o mundo”, disse Marcelo em declarações aos jornalistas, antes de entrar na sessão plenária com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Portugal faz parte do grupo de 101 países com representação na conferência de paz, quer a nível de chefia de Estado ou de Governo. A Rússia, por seu lado, descreveu a iniciativa como sendo “provocadora e absolutamente inútil” e exortou os países membros das Nações Unidas a boicotarem o encontro. A China, a África do Sul e o Brasil contam-se entre as nações sem representação oficial ao mais alto nível na cimeira deste fim de semana.
Entre as nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), além de Portugal apenas Cabo Verde e Timor-Leste enviaram representações ao mais alto nível.
Von der Leyen: “É vital reafirmar a Carta das Nações Unidas”
A presidente da Comissão Europeia defendeu este sábado, na cimeira, que é vital a comunidade internacional "reafirmar o primado da Carta das Nações Unidas", que a Rússia está a violar com a sua "guerra brutal".
"Será correto que um país maior possa invadir e tomar o território de um vizinho mais pequeno? A resposta é, obviamente, não. Está escrito na Carta das Nações Unidas. E é por isso que é vital que reafirmemos essa Carta. É vital que nos comprometamos de novo a defender firmemente os princípios da Carta das Nações Unidas", afirmou Ursula von der Leyen.
Intervindo na sessão inaugural da cimeira, que decorre entre este sábado e domingo na Suíça, a presidente da Comissão defendeu que "congelar o conflito hoje, com tropas estrangeiras a ocupar o território ucraniano, não é a resposta".
"De facto, é uma receita para futuras guerras de agressão. Em vez disso, temos de apoiar uma paz abrangente, justa e sustentável para a Ucrânia. Uma paz que restabeleça a soberania da Ucrânia e a sua integridade territorial, a inviolabilidade de todas as fronteiras, a soberania de todas as nações. É isto que está em causa", declarou.
Apontando que "foi precisamente das cinzas da Segunda Guerra Mundial que nasceu a Organização das Nações Unidas", Von der Leyen reforçou então a importância de "acender de novo esse farol de esperança para a paz e a segurança mundiais".
"Nós, a comunidade internacional, temos de nos unir para apoiar a Ucrânia na sua busca da paz. E é assim que abrimos o caminho para restaurar a paz e a segurança internacionais. A nossa tarefa comum é reafirmar a primazia da Carta das Nações Unidas", concluiu a dirigente alemã.
Notícia atualizada às 18h56 com declarações de Ursula von der Leyen na cimeira