Fausto (1948-2024) em entrevista de 2011, ano do seu último álbum: “Privilegiei os sonhadores”
Fausto Bordalo Dias, nome maior da música portuguesa, morreu esta segunda-feira, aos 75 anos. Recordamos a entrevista que deu, em novembro de 2011, ao “Expresso”, a propósito do último álbum que lançaria, “Em Busca das Montanhas Azuis”. Dizia então: “Encostado aos cenários da História, eu falo do presente. Como hoje continuam fenómenos da escravatura, da guerra, das lutas tribais, da exploração, da incompreensão do outro ou da cooperação entre os povos. O meu trabalho não se quer passadista”
Fausto (1948-2024) em entrevista de 2011, ano do seu último álbum: “Privilegiei os sonhadores”
Artigo originalmente publicado a 19 de novembro de 2011, na revista “Atual”, do Expresso
Fausto Bordalo Dias é um nome fundamental da música portuguesa, desde os tempos da música de intervenção. Destacou-se como compositor e tem editado obras consideradas marcos na discografia nacional, mormente a trilogia em torno das navegações e dos contactos dos portugueses pelo mundo: "Por este Rio Acima", "Crónicas da Terra Ardente" e o novo "Em Busca das Montanhas Azuis", que originou a presente entrevista.
"Quando cá cheguei, em 1969, trazia a música que fazia à sombra dos trópicos, que, aliás, concentrei no disco 'A Preto e Branco' [1988], com coisas dos meus 15, 20 anos... A alteração de padrão deu-se através do contacto com a balada. Conheci o Adriano Correia de Oliveira, o Manuel Freire e depois o Zeca Afonso, que andava sempre atrás de quem pudesse acompanhá-lo, pois ele não tocava lá essas coisas. Acompanhei-os muito, a ele e ao Adriano. A determinada altura, deixei de cantar. Eles cantavam tão bem, e eu dizia: 'Não canto coisa nenhuma...' Deixei de cantar, sem nunca deixar de acompanhá-los. Algumas vezes, cansados, pediam-me duas ou três canções... Eu lá cantava, muito contrariado. Com isso ganhei confiança. Achava a balada musicalmente rudimentar para o que eu podia desenvolver com a guitarra, mas foi ela que me colocou em contacto com a música tradicional portuguesa. Hoje é muito difícil, se não impossível, verificar qualquer influência dos tais trópicos na minha música. Percebe-se essa evolução num disco que gravei em 1977, 'Madrugada dos Trapeiros'. Em 'Por Este Rio Acima' já não há nada... Poderá haver coisas orientais, mas para sublinhar a posição geográfica da viagem de Fernão Mendes Pinto. No disco que vai sair há uma nota que indica que o que ali temos são desenvolvimentos e estilizações a partir da música tradicional portuguesa. Mais nada. Como é uma viagem através da África, alguém poderia ser sugestionado..."
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